Correndo pros Correios

Vou, daqui a pouco, postar o projeto para o Programa BNB de Cultura: Blogue ponto MA ponto com ponto BR, antologia de poesia praticada por blogueiros no Maranhão contemporâneo; abaixo, breves apresentações dos participantes.

Bruno Barata
Estudante de Comunicação Social/Radialismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
http://www.floema.weblogger.terra.com.br

Carolina Libério
Carioca, radicada em São Luís faz tempo. Trancou o curso de Comunicação Social/Jornalismo na UFMA.
http://www.entretanto.blogger.com.br

Gisele Brasil
Jornalista, namora um filósofo.
http://oitocaminhos.blogspot.com

Jana Campos Lobo
Estudante de Ciências Sociais (UFMA), namora um músico gaúcho que mora em Poá.
http://cancioneirosemrima.blogspot.com

João Simas
Estudante de Filosofia (UFMA).
http://lutonalata.zip.net

José Patrício Neto
Pernambucano, mora em São Luís há tempos. Comete uns vídeos, quando em vez e uns poemas visuais, vez em quando.
http://poesiapapangu.zip.net

Jane Maciel
É uma fada. Interrompeu o curso de Comunicação Social/Jornalismo (UFMA) para um intercâmbio de um ano na França.
http://www.fadado.blogger.com.br

Pataugaza
Patrick Augusto Azevedo é jornalista.
http://www.pataugaza.blogger.com.br

Reuben
Estudante de Comunicação Social/Jornalismo, foi estagiário do Itaú Cultural no Programa Rumos Jornalismo Cultural em 2005.
http://otrompetistagago.zip.net

Zema Ribeiro
Estudante de Comunicação Social/Jornalismo (Faculdade São Luís); organizador desta antologia, é ex-estagiário e digitador do Banco do Nordeste (Agência São Luís – Centro).
http://olhodeboi2.zip.net

Rumos rumo a 2006

[Diário Cultural de hoje]

Procurando o que fazer? Achou! Diário Cultural dá as dicas para o que há de melhor na Ilha do Amor. É conferir e escolher. E até o ano que vem!

Férias Jah!

Tem início amanhã, sexta-feira, 30, o projeto “Férias Jah”, que realizará shows na Praça dos Catraieiros (Praia Grande). O som começa a rolar às 20h, com apresentação de grupo de Tambor de Crioula, seguindo após com a animação da Radio Zion. Para encerrar a noite, a atração principal sobe ao palco à meia-noite. O show inaugural é de Alê Muniz e Luciana Simões. Será cobrado couvert artístico de R$ 2,00 (dois reais), segundo a produção para o custeio de despesas como som, palco e iluminação, tendo em vista que o projeto não possui parcerias e/ou patrocínios. Após a estréia do projeto, acontecerão shows também às quartas-feiras, no mesmo espaço.

Armazém

Hoje, a partir das 21h, quem sobe ao palco do Armazém da Estrela (Rua da Estrela, Praia Grande) é o cantor e compositor maranhense Alberto Trabulsi, com variado repertório, incluindo canções autorais. Aquele espaço tem procurado privilegiar a boa música produzida no Maranhão, promovendo apresentações memoráveis. Um grupo de “neoetilic man” da redação deste matutino será, com certeza, encontrado por lá.

Dom Calamar

O Bar Theatro Dom Calamar apresenta dois show imperdíveis encerrando as atividades deste ano. Hoje quem sobe ao palco é a cantora Anna Cláudia, acompanhada de banda. Em “Passando a Limpo”, vasto repertório da música popular brasileira, com destaque para a maranhense. Amanhã é a vez de Cláudio Leite interpretar composições de Vinicius de Moraes. Os shows têm início às 21h e o couvert artístico custa R$ 3,50. Maiores informações: (98) 3226-8244 e/ou domcalamar@uol.com.br

Zara

O intérprete maranhense se apresenta hoje, às 21h, no Landruá Mariscos (Av. Litorânea) e amanhã, no mesmo horário, na Pousada Buriti, em Barreirinhas/MA. Em primeira mão, Diário Cultural avisa: Zara já está em estúdio gravando seu segundo disco, batizado temporariamente de “Canções Impróprias”.

2006

Diário Cultural, em sua última edição do ano, aproveita para desejar a todos os leitores do Diário da Manhã, um feliz ano novo, cheio de realizações. E domingo que vem estaremos aqui, com a coluna inaugural do ano novo. Um grande abraço e até lá!

dois (duas)

[dois poemas: o primeiro, do blogueiro que vos incomoda, já publicado diversas vezes (às vezes em e-mails de final de ano para diversos amigos); o segundo, letra de chico césar (a música também é dele), incluída em seu belo disco novo, o primeiro pela biscoito fino, sobre o qual escrevo aqui em breve]

instante de paz

quero libertar-me
de todas as garras
ficando preso
apenas ao teu amor

quero todas as noites
todas as farras
saindo ileso
quero nada de dor

quero dar-te flores
nelas perfumes e cores
melaço que adoce
o nosso amargor

quero que o mundo
pare por um segundo
sendo para todo o sempre
esse instante de paz
por que você não vem morar comigo?

por que você não vem morar comigo
alimentar meu cão, meu ego
cansei de ser assim, colega
não sei mais ser só seu amigo

eu quero agora ser o seu amado
você me deixa a perigo
o amor me corta feito adaga
mas vem você e afaga
com afeto tão antigo

você não leva a sério o que eu digo
e enche a taça que me embriaga
me prega em cruz feito jesus de praga
mas sempre me defende e compra minhas brigas

não ligo
se é amor ou amizade vaga
dizem que o amor a amizade estraga
e esta a este tira-lhe o vigor

não ligo
se é caretice ou romantismo brega
um dia em mim essa aflição sossoga
more comigo e traga o seu amor

adoro o jeito que você me pega
me chama de meu nego, minha nega
e quando me abraça e eu me entrego
vem você e diz cuidado com esse apego

O(s) sobrevivente(s)

[pesquei isso do blogue do Joca Reiners Terron (para ler na íntegra, vá lá!); é o meu mesmo sentimento. Em 2005, só o que me sobrou foi um amor verdadeiro, correspondido, enfim: suficiente. Um 2006 maravilhoso para todos!]

Eu sobrevivi a 2005, à falta de grana de 2005, à falta de saco de 2005, à falta de paz de 2005, à falta de inteligência de 2005, à falta de honestidade de 2005. Sobrevivi. À falta. Sobrevivemos.
Mas não posso reclamar, pois não me faltou amor em 2005, amor de verdade. E se um ou outro amigo não conseguiu me suportar este ano, é porque não eram amigos de verdade. Um brinde aos amigos verdadeiros e ao amor de verdade.

Voltando…

[Diários Culturais de 25 e 27/12]

A música baiana de Xangai

Hoje é 25 de dezembro, data em que se comemora – ou ao menos se deveria – o nascimento de Jesus Cristo. Uma ótima dica de presentes – sem que a coluna embarque no consumismo barato – é a ressurreição de alguns títulos do catálogo da gravadora Kuarup. Diário Cultural esmiúça, minimamente, dois “Xangais” nas mal-traçadas a seguir.

Quê qui tu tem canário. Capa. Reprodução
Dos labutos. Capa. Reprodução

Eugênio Avelino, o popular Xangai é, reconhecidamente um dos mais importantes cantadores do país. Baiano como o menestrel Elomar Figueira de Melo, a quem muito já gravou, ele une música “urbana” e a música “rural”, aprendida principalmente com os aboios de vaqueiros, ele mesmo um, um dia.

A gravadora Kuarup, detentora de todo o catálogo de Xangai, recoloca no mercado, dois títulos do malungo: “Qué qui tu tem canário” (1981) e “Dos labutos” (1991), ao preço médio de R$ 24,90 cada.

No encarte do primeiro, escreve o parceiro José Carlos Capinam: “Na verdade parentesco bom não lhe falta: neto de Manezinho Araújo, irmão de Jackson do Pandeiro, primo de João do Vale e filho, como todos nós de Luiz Lua Gonzaga”. O versátil compositor está certíssimo.

Também versátil, em canto e repertório, Xangai une compositores da estirpe do já citado Capinam, Jatobá, Hélio Contreiras, Ivanildo Vila Nova e o mestre Elomar. Para a festa, comparecem os músicos Contreiras (violão), Djalma Corrêa (percussão) e Marquinho (acordeon), apenas para citar alguns, além das participações especiais de Zé Ramalho e Almir Sater, empunhando violas de 10 cordas.

Em “Dos Labutos”, quem escreve no encarte é Elomar, que traduz muito bem – talvez – a falta de reconhecimento dada aos verdadeiros gênios da música brasileira (como um todo): “um cantor, um artista, um menestrel, um dos maiores poucos gatos-pingados e tresloucados sonhadores-de-mãos-sangrentas-contrapontas-afiadas-inimigas. Remanescente que teima em guardar a moribunda alma desta terra. Que também vai se atropelando contra multidão de astros constelados que fulgurantes espargem luz negra dos céus dos que buscam a luz”.

É de Elomar a faixa que batiza o disco (segundo canto do Auto da Catingueira); é ele mais um certeiro ao escrever sobre Xangai. “Dos Labutos” é outra bela festa, que reúne, entre músicos e compositores (alguns nas duas condições), Juraildes da Cruz, Jatobá, Salgado Maranhão, Elino Julião, Dílson Dória, Paulo Britto, Hélio Contreiras, Cao Alves, Oswaldinho, Jacques Morelenbaum e o maranhense Erivaldo Gomes, responsável pela percussão e efeitos do disco.

Para quem acha que a Bahia é “bunda pra lá, peito pra cá”, a coluna recomenda, por ora, estes dois títulos. E fica, novamente, com o Capinam do encarte de “Dos Labutos”: “Quantos cantos a Bahia têm? Tão difícil descobrir”.

Retrospectiva Introspectiva 2005

Diário Cultural faz uma retrospectiva 2005 para além do ano que se encerra. Livros e discos – obras, enfim – fundamentais (ao menos sentimentalmente falando) que chegaram ao conhecimento deste colunista somente este ano, além de shows que ele viu.

Um: “Ô, Copacabana!”, João Antonio – publicado originalmente em 1978, este livro traz João Antonio em sua melhor forma (melhor forma é modo de falar: o cara é sempre ótimo!): captando a alma das ruas, coisa que só os grandes cronistas sabem fazer. Relançamento luxuoso da Editora Cosac & Naify.

Dois: “Reminiscências do Sol Quadrado”, Mário Lago – de 1979, este livro traz as memórias bem humoradas e irônicas do compositor, dramaturgo, escritor e mais uma série de adjetivos que cabem muito bem em Mário Lago. É outro relançamento da C&N.

Três: “Real Grandeza”, Jards Macalé – lançado este ano, este disco (literalmente redondo) traz diversas parcerias de JM com o eterno Waly Salomão. Com participações especiais de Adriana Calcanhoto, Luiz Melodia e Maria Bethânia, entre outros, tratamento luxuoso às obras dos mestres. Lançamento da Biscoito Fino.

Quatro: “Corpo Presente”, João Paulo Cuenca – pela editora Planeta, o economista carioca estreou bem. Seu romance teve boa aceitação pela crítica (merecidamente) e ganhou elogios de Chico Buarque de Holanda: “Há um escritor novo de que gosto muito, o João Paulo Cuenca”, diria o compositor. Corpo Presente está sendo adaptado para a televisão: virará mini-série na tela global.

Cinco: “Budapeste”, Chico Buarque – Terceiro romance do compositor, conta a história de José Costa, ghostwritter que se torna tão real ao longo da narrativa, que acaba por “confundir” a cabeça do leitor: até onde aquilo tudo é ficção vinda da cabeça do autor de “Construção”?

Seis: dois shows que aconteceram (oh!) em São Luís/MA: Elomar (19/8) e Raimundo Sodré (25/11), ambos no Circo da Cidade e ambos produções da Muito Mais (leia-se Ópera Night). Dois shows de música baiana. Apresentações para um público pequeno, que sabe que a música baiana é bem mais que o axé (em seu sentido deturpado). Impagáveis, é o mínimo que se pode dizer.

Sete: a realização das conferências municipal e estadual de cultura. Garantiram representatividade maranhense na I Conferência Nacional de Cultura, realizada em Brasília/DF, entre os dias 13 e 16 do corrente. A cidade de Imperatriz/MA fez feio: não enviou delegados à I CNC.

coisas (ótimas) que descobri em 2005

[iniciando um clima de… retrospectiva; a seqüência nada tem a ver com “grau de importância”]

1. a literatura de joão antonio (o ótimo “ô, copacabana!”, pra começo de conversa);
2. a literatura de caio fernando abreu (o também ótimo “morangos mofados”; jana, estou esperando o outro);
3. a música que elizeth cardoso canta;
4. o amor (correspondido).

Quatro itinerários “etilíricos” ludovicenses

[mais um texto “pra nota”, em Laboratório de Mídia Impressa III, ministrada pelo mestre Marcos Fábio]

O cronista não pretende esgotar as paisagens com balcões em curta crônica. Mas apresenta de forma rasteira, quatro lugares freqüentados por ele, ótimas opções para uma cerveja gelada e um bom papo. E apresenta, de quebra, seus tira-gostos.

O Batista (proprietário da “quitanda” homônima, batizada com o nome do dono) não se deixa fotografar. Importante point do secular bairro do Desterro, a casa chama a atenção de quem passa com o monte de baldes pendurados na porta e é reconhecida por suas cachaças temperadas. Todo o “pé-direito” (se é que assim podemos falar) é recoberto por garrafas de cachaça. Nos rótulos, a data da mistura da “mardita” com o tempero – aroeira, cravinho, canela, murici, capim-limão, genipapo, mel, casca de laranja, boldo, imbiriba etc. – e a data do preparo. Sessenta centavos e alguns segundos, cada dose. De brinde, um punhado de amendoins ou camarão seco.

Descendo as ladeiras – moleza para bêbados – chegamos à Praia Grande. Base da Faustina, na Praça do Seresteiro, que ninguém chama mais assim. Boêmios de plantão, este cronista um deles, rebatizaram o logradouro na confluência das ruas do Giz e João Gualberto e Beco da Alfândega como Praça da Faustina, que Cesar Teixeira tão bem cantou em “Faustina, Mona Lisa da Praia Grande”, samba seu, inédito. Especialidade da casa, o delicioso peixe-frito custa apenas cinco reais.

De lá partimos para o Renascença, onde nos aguarda o decano Bar do Bigode. Apesar do falecimento (em fevereiro de 2004) do senhor que batizava o local, João José toca o negócio adiante. É sábado e uma roda de amigos se reúne para conversar temas os mais variados: política, futebol, música, literatura, amenidades em geral. O proprietário senta-se com os presentes e birita junto deles, é filho de Deus também. Tira-gosto: assado na brasa, com farinha.

Só a sua pomposa coleção de “música”, entre cd’s, vinis e cassetes, já garantiria ao Bar do Léo (Hortomercado do Vinhais), lugar de destaque em qualquer “antologia etílica” mundo afora. A fama de ranzinza de Leonildo Martins, proprietário da “Academia Musical”, é outra peculiaridade do bar: “todo barzinho tem a cara do dono”, diria o compositor Gildomar Marinho, que, em Fortaleza/CE, administrou por quase dez anos o Pertinho do Céu, bar universitário que levou vários maranhenses para um intercâmbio musical pela capital cearense. Placas, na entrada, advertem (nós nos divertimos): “não fazemos música ao vivo” (pra quê, com um vasto repertório desses?) e “não é permitido dançar”. Destaque também para a deliciosa tripinha de porco frita. A melhor da ilha, por apenas oito reais.

Raduan Nassar: trinta anos de lavoura literária

[Diário Cultural de hoje; no post seguinte, pequeno trecho de “Um Copo de Cólera”, segundo livro de Raduan Nassar]

Obra ímpar, livro de estréia do paulista Raduan Nassar completa três décadas, atualíssimo. A ficção do autor é cheia de verdades; sua própria vida daria um bom livro: ele que, apesar do sucesso, abandonou a literatura para criar galinhas.

1935. 27 de novembro. Há setenta anos nascia Raduan Nassar, em Pindorama/SP. Sétimo filho de pais libaneses imigrantes, comerciantes, o menino viria a tornar-se, apesar de ter publicado apenas três livros, um dos mais importantes nomes da literatura nacional. São dele, além do livro que festejamos o trigésimo aniversário, “Um Copo de Cólera” (novela, 1978) e “Menina a Caminho” (conto, 1994).

Sua estréia, arrebatadora, se dá em 1975, com o romance “Lavoura Arcaica”, que nos apresenta uma literatura de fôlego (Raduan é capaz de passar capítulos inteiros sem fazer parágrafos), além de uma profunda preocupação com temas religiosos, notada desde a escolha dos nomes dos personagens. A publicação, que contou com a ajuda financeira do autor (nesse aspecto parece que pouca coisa mudou de lá para cá), se deu pela José Olímpio Editora.

Com “Lavoura Arcaica”, de imediato, Raduan Nassar arrebata vários prêmios no ano seguinte à sua publicação: prêmio Coelho Neto para romance (da ABL, cuja comissão julgadora tinha, entre outros, Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde), prêmio Jabuti na categoria Revelação Autor (da Câmara Brasileira do Livro) e Revelação Autor e menção honrosa (da Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Em 2001, pelas mãos de Luiz Fernando Carvalho, sua obra de estréia vira filme, conquistando também diversos prêmios importantes, em festivais como o Rio BR, do Ministério da Cultura, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (melhor filme do júri popular), Festival de Cinema de Brasília (onde venceu em sete categorias, entre as quais melhor filme e melhor ator, pela atuação de Selton Mello, e o prêmio ANDI, do UNICEF), entre outros.

Em “Inventário das Sombras” (Editora Record), o jornalista José Castello escreve assim: “Raduan Nassar não suportou ser um grande escritor e desistiu da literatura para criar galinhas. Trocou a criação estética, que é complexa e desregrada, pela mecânica suave da avicultura, e parece muito satisfeito com isso, tanto que, resistindo a todos os apelos, se recusa a voltar atrás em sua decisão.”

Mesmo com suas obras traduzidas para o espanhol, alemão e francês, em diversas edições, dez anos após sua estréia em livro, Nassar anuncia: abandonou a literatura (em entrevista ao “Folhetim”, à época suplemento do jornal Folha de São Paulo). O escritor não suportou superar-se e voltou atrás. E não volta mais.

d”um copo de cólera”

“… que tudo venha abaixo, eu estarei de costas; ao absurdo, com a loucura, e nem podia ser outra a resposta; é amarga, sim, mas é no mínimo adequada, e isto não depende do teu decreto, pois desde já é fácil de prever o teu futuro: além de jornalista exímia, você preenche brilhantemente os requisitos como membro da polícia feminina; aliás, no abuso do poder, não vejo diferença entre um redator-chefe e um chefe de polícia, como de resto não há diferença entre dono de jornal e dono de governo, em conluio, um e outro, com donos de outros gêneros”

(raduan nassar, em “um copo de cólera”, novela de 1978)

O sonho (não) acabou

[Quintal Poético, na 7ª edição do Almanaque J P Turismo, já nas bancas]

Depois da enésima ligação do diretor de redação, o cronista finalmente caiu na real e resolveu sentar-se em frente ao micro e escrever a crônica para a próxima edição da revista. Não gostaria de ser responsável por qualquer atraso. Mesmo sem idéias, abriu uma long-neck e sentou-se, em frente à tela em branco. O word, parecia piscar-lhe os olhos, dizendo “escreve em mim!”. Mas sobre o quê? Era sempre esse pavor quando ia começar. Ficção era sempre cruel para ele. Gostava mesmo era de poesia, por mais que sofresse para escrevê-la, já que sempre traduzia ali, nos poemas, as dores que lhe corroíam a alma. Ou as raras felicidades que vivia. Como não tinha um tema pré-estabelecido, tudo tornava-se ainda mais difícil. Era muita responsabilidade. Podia escrever sobre qualquer coisa, isso o assustava. Pensou em pedir ajuda aos leitores, nestes tempos de messengers, orkuts, gazzags, blogues e similares. Não, isso não adiantaria. Acabaria traindo alguém fazendo isso. Lia bastante, mas não conseguia inspiração. Gostaria de escrever como João Antonio, captando a alma das ruas. Impossível, julgava, e desistia antes da primeira linha. Pensou em escrever sobre a felicidade de ter companhia para agradáveis passeios de mãos dadas. Sim, o cronista agora estava namorando. Sério. “Do mal, será queimada a semente. O amor será eterno novamente”. Lembrou-se dos versos de Nelson Cavaquinho. Pôs o disco e serviu-se de mais uma cerveja. Não poderia escrever sobre isso. Sua namorada não se sentiria bem com tanta exposição. Embora ela soubesse que a vida do cronista era um livro aberto. Quando o telefone tocou novamente, lembrou-se de Jorge Ben (à época ainda não Jor): “o telefone tocou novamente, fui atender e não era o meu amor”. Até poderia ser, mas preferiu não atender, imaginando alguém da redação, do outro lado da linha, cobrando a crônica. Um toque no mouse desfazendo a proteção de tela e lá estava o word, ainda completamente em branco. As unhas iam se desgastando, como um tira-gosto do nervosismo para as cervejas que iam sendo retiradas da geladeira. Tela branca. Um branco de idéias. Pensou em escrever sobre alguma aventura etilírica, vivida no passado. Mas logo castrou a idéia: o tema já estava por demais batido e haviam escritores que faziam isso melhor que ele. Abriu a pochete em busca de algo. Guardanapos amassados, riscados de canetas. Idéias para poemas. Apenas poemas. Nada servia, nada o salvava. Desligou o computador. Foi até uma das várias estantes abarrotadas de livros, “servem só pra quem não sabe ler”, lembrou Raul, serviu-se de um, de outro, procurava algo, nada. Cochilou. Dormiu. Sonhou. Despertou no meio do sonho. Acordou, idéia na cabeça. Iria contar o sonho aos leitores na próxima crônica.

Navegar é preciso!

[Diário Cultural de hoje]

Domingo passado mostramos aqui quatro endereços interessantes, produzidos em São Luís: O Trompetista Gago, por Reuben; Entretanto, por Carolina Libério; O Caminho do Meio, por Gisele Brasil; e Poesia Papangu, por José Patrício Neto. Dando continuidade ao tema, Diário Cultural indica mais alguns endereços da blogosfera local.

Pataugaza

Como o poeta mesmo define, na apresentação do blogue: “poesia, diabo e cotidiano”. Leminskiano, como já o classificaram, inclassificável, numa caixa de comentários (outro detalhe importante de frisar nos blogues: espaço interativo entre “autor” e “leitor”). Eis a poesia de Patrick Azevedo, Pataugaza para os íntimos.

Floema

Com Pataugaza, Bruno Barata tira um som, com a banda Cabana. Sem som, sua poesia não perde a graça. Quem aí conhece o “Labirinto”?, zine editado por ele. Pelo sim, pelo não, o Floema merece uma visita. E depois da primeira várias. Poesia assim, tipo cachaça: depois da primeira dose ninguém sabe exatamente em qual irá embriagar-se.

Fadado

Mais um blogue que vem dos zines. Ao lado de Carolina Libério, Jane Maciel é das mais límpidas vozes poéticas (femininas) do Maranhão de hoje. Atualmente na França, para um intercâmbio de um ano, de lá ela nos alimenta a alma e nos diminui a saudade. Quem visitar seu blogue uma vez, ficará fadado a voltar por lá.

Luto na Lata

Estudante de Filosofia (UFMA), João Simas é competente músico violonista (gravou com Erivaldo Gomes, no disco de estréia da Fogo, Cordas e Tarraxas, a ser lançado em breve). Poeta e contista, publica em Luto na Lata trabalhos às vezes em construção, para opinião do público. Vale opinar.

E ainda…

Como dito aqui, o tema é vasto e não se esgota em duas colunas. Em momento oportuno, poderemos voltar a ele, talvez de forma mais aprofundada.

[aqui a coluna indica ainda os blogues (linkados ao lado) de Jana Lobo, Chico Piancó, Marcos Fábio e Walter Rodrigues; no blogue, recomendamos uma visita à lista completa, aí à direita]

Maranhenses são destaque no UOL

[Diário Cultural de domingo, 11/12/2005]

Blogue: aportuguesamento de blog. Blog: abreviatura de weblog. Weblog: diário na rede, ao pé da letra. Surgidos com esta característica, os blogues são, hoje, mais que isso. Espaço para divulgação de opiniões (com independência), trabalhos em construção, prática de jornalismo, enfim: um vasto mundo com muito ainda por ser desvendado.
Com a recente indicação de dois blogues maranhenses na página Blogs Legais, doUOL, um dos maiores provedores da internet brasileira, esta coluna dedica-se a apresentar alguns endereços interessantes, produzidos por aqui. O assunto é vasto e não se esgota aqui, portanto, voltaremos a ele a qualquer momento. Por hoje, nos limitaremos a São Luís (e mesmo assim não conseguiremos escrever sobre tudo o que se produz aqui, até por não ser esta a nossa pretensão). Em tempo: os blogues indicados no UOL foram o Blog do Kenard e este Shopping Brazil.

O Trompetista Gago

Começo por minha leitura diária obrigatória. Quem acessar o “Olho de Boi”, perceberá uma lista de links por lá; são coisas que leio sempre. Como não sigo ordem alfabética, nem consigo ler todos, todos os dias, O Trompetista Gago é a minha leitura inicial (mas não é aperitivo: é prato principal). Escrito por Reuben, estudante de Comunicação Social (UFMA), competente poeta, de senso crítico afinado; estagiário do programa Itaú Cultural (Jornalismo Cultural), ele está escrevendo também (sobre poesia) emhttp://barulhos.zip.net, espaço temporário para exercícios do estágio.

Entretanto

Apesar de nascida no Rio de Janeiro, considero Carolina Libério uma das melhores poetisas maranhenses contemporâneas. Quem quiser comprovar, basta visitar seuEntretanto. Concisa e certeira, lá você encontra coisas assim: “meus olhos / amarelando imagens” (foto antiga) e muito mais.

O Caminho do Meio

Com influências várias, que vão de Jorge Luís Borges a Beatles, passando por Snoopy, eis outra poetisa interessante: Gisele Brasil. Quem visitar o seu blogue vai emocionar-se com poemas como “Lucy in the sky with diamonds” (um dos meus prediletos, de minha antologia pessoal).

Poesia Papangu

José Patrício Neto é dos “cabras” mais sinceros que já conheci. Crítico ao extremo, tem competência para tal, e não se importa em desagradar com suas opiniões ou abalar amizades. Não tece loas gratuitas e segue escrevendo sua poesia papangu, que deve virar livro (homônimo) em breve. Apesar de não atualizado constantemente, seu blogue merece visitas constantes.

canção desesperada

minha canção
desesperada
pode até não dizer nada
mas não é esta a intenção

quer bater
o pó da estrada
e se fazer
cantada

quer matar
a saudade
e de verdade
assumir te amar

quer morrer
de amor
no calor
de querer

-te mais que deve
de querer-te mais
que o som dos ais
que já teve

que gritar.
minha canção
(desesperar
mais não)

quer também
te fazer feliz
(olha, eu sempre quis
ser teu bem)

minha canção
desesperada
(agoniado
coração)

quer te fazer
contente
e assim a gente
ser um só ser

(minha canção
desesperada
quer saber de mais nada
não:

minha canção desesperada
garganta já um tanto cansada
só quer saber
de te ter)

ilha, 12/12/2005