três

na verdade, quatro, mas um já foi (re-)publicado por aqui anteriormente: “o barulho da navalha na veia da literatura” saiu, ontem, no diário da manhã.

abaixo, três textos meus, os dois primeiros publicados no número dois do colunão, que chegou ontem às bancas e assinantes (alô!: assine já, ligando para (98) 3235-5530).

o primeiro, uma nota sobre o prêmio visa de música brasileira, publicada (sem assinatura) no senadinho, seção de “idéias & toques sem muita formalidade” do colunão (alô!: mande sua idéia ou toque para wr.walter@uol.com.br e/ou zemaribeiro@gmail.com).

o segundo, “o des-exílio de tom zé”, fiz para a página de cultura, editoria que começa a se desenhar no semanário independente e que, neste segundo número, conta com a presença ilustríssima de joãozinho ribeiro. o trecho em itálico do texto não foi publicado no jornal, por conta de espaço; vai aqui com exclusividade para os leitores do blogue, espécie de bonus track.

o terceiro, um desabafo, um tanto quanto piegas e mal-escrito, motivado pelo assalto que sofri, acompanhado da namorada na quinta-feira última. alô: (alô o quê?) estou sem celular; para me encontrar: e-mail e/ou caixa de comentários deste blogue. estou tentando resolver logo o problema e em breve aviso amigos e inimigos por aqui.

1.
Chamada aos músicos

A nona edição do Prêmio Visa de Música Brasileira está com inscrições abertas. O já tradicional prêmio é fruto de uma parceria entre a administradora de cartões de crédito e a Rádio Eldorado, e hoje é reconhecido como um importante espaço de fomento à criação musical no país. A edição deste ano premiará compositores (a categoria muda a cada ano, podendo premiar também cantores e instrumentistas etc.). Podem se inscrever artistas de todo o país. Os trabalhos devem ser enviados via internet ou correios até o dia 22 de maio e a premiação pode chegar a até R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais, valor bruto com imposto de renda a ser deduzido na fonte e CPMF a ser recolhida pelo banco), além do contrato para a realização de um disco pela Gravadora Eldorado. Outras edições do prêmio já contemplaram nomes como Chico Saraiva, Mônica Salmaso, Renato Braz e Yamandu Costa, entre outros. Não há necessidade dos trabalhos serem inéditos. Para ler o regulamento, ficha de inscrição e maiores informações, acesse http://www.premiovisa.com.br

2.
O des-exílio de Tom Zé

“Nave Maria”, único disco de Tom Zé ainda não reeditado em cd chega finalmente ao mercado em formato digital; na série Som Livre Masters, pelas mãos de outro bruxo: Charles Gavin, incansável garimpeiro de sons brasileiros.

É inegável e impagável a contribuição que o titã Charles Gavin tem dado à música popular brasileira nos últimos anos. Iniciado com o relançamento de diversos títulos em cd, os famosos dois em um (dois elepês em um cd), recolocaram nas gôndolas das lojas de discos e de departamentos, nomes como A Cor do Som, Belchior, Guilherme Arantes, Novos Baianos, Secos e Molhados, Tom Zé e Walter Franco, entre outros. Os discos (cd’s) reproduzem as artes dos encartes originais, com a limitação imposta pelo novo formato.

“Fuçando”, literalmente, os arquivos da Som Livre, Gavin acaba de recolocar à disposição do público – em parte saudoso, em parte curioso, noutra parte ávido por bons sons, tão raros hoje em dia – vinte e cinco títulos de diversos artistas brasileiros importantes.

Acaba de me chegar às mãos o único título de Tom Zé lançado na década de oitenta do século passado, “Nave Maria” (1984). Incrível como o “gênio de Irará” – seja isso o que for: clichê, lugar-comum, chavão – possa ter ficado tanto tempo no ostracismo – outro clichê, chavão, lugar-comum, quando se fala dele –, entre o lançamento de “Correio da Estação do Brás” (1978) e o de “Brazil Classics 4 – The Best Of Tom Zé” (1990), após David Byrne tê-lo (re)descoberto para o mundo.

A história: em fins da década de oitenta, David Byrne, em visita ao Brasil, comprou dezenas de discos de música brasileira, levando entre eles o “Estudando o Samba” (1975), de Tom Zé. Ouvindo-o, achou genial, organizou a coletânea citada e, pela Luaka Bop, gravadora do ex-Talking Head, (re)colocou o baiano – que quase desiste da música para ser frentista no posto de gasolina de um sobrinho em sua terra natal – nos estúdios. De lá para cá, Tom Zé é namorado pela imprensa nacional e mundial, celebrado que é, a cada lançamento que faz, pós-carreira americana.

Inacreditável ostracismo – Quem diz não crer/entender n/os motivos que relegaram Tom Zé ao ostracismo, tem boas razões. Senão vejamos este relançamento. A faixa-título, que abre o disco, está na coletânea organizada por David Byrne, celebrada por cabeças pensantes ao redor do mundo e Brasil afora/adentro. E diversas outras faixas já foram regravadas, no todo ou em parte, pelo próprio Tom Zé – plagiocombinador de si mesmo – em discos pós-EUA: “Su Su Menino Mandú” teve trechos melódicos usados em “Defeito 14: Xiquexique”, parceria com letra de José Miguel Wisnick e voz de Arnaldo Antunes em “Com Defeito de Fabricação” (1998); “Identificação” ganhou roupagem voz e violão e teve versão ao vivo incluída em “Imprensa Cantada” (2003); “Conto de Fraldas” foi regravada por Tom Zé em “Jogos de Armar – Faça Você Mesmo” (2001) e no homônimo disco de estréia do Tianastácia (2000), prova de que nem só de skanks e jota-quests vive o pop mineiro contemporâneo.

Em “Nave Maria” já aparece a idéia dos arrastões: classificações dadas pelo autor de “São São Paulo” baseadas no trabalho anterior de outro(s) compositor(es) (lá ainda não citados). O disco é feito, pois, de bugue-samba, baião-xaxá, baião-barbeiro, sambatutu, baião-través, fanque-enredo e frevo-roque.

A “cozinha” é sempre boa companhia: além do compositor, aparecem como instrumentistas no disco, Reinaldo Barriga (violão), Milton Belmudes (violão, cavaquinho e percussão), Oswaldinho do Acordeão (um dos maiores sanfoneiros do país), Sérgio Sá (de Sá, Rodrix e Guarabira, depois só ele e o último, teclado), Silvia Maria e Eliana Estevão (vocais); por lá também Charles Furlan (baixo, cavaquinho e teclado; com ele Tom Zé gravou “No Jardim da Política” (1998), vozes e violões) e Lauro Lélis (bateria e percussão, ainda hoje na banda do “Tropicalista lenta luta”).

O que o levou ao ostracismo, ninguém sabe. Mas que bom que ele conseguiu sair dessa. Vivo. Ave, Gavin! Nave, Maria! Sem instante, maestro! Viva, Tom Zé!

3.
Eu e minha namorada vestidos de utopia

A reação era praticamente unânime entre amigos e familiares: “mas vocês vacilaram!”, “o trecho ali é perigoso…”, “São Luís tá um perigo…” e por aí vai/ia (vaias para nós, “chapéu de otário é marreta”, hein?). Tudo vai/ia (de novo!) contra a minha opinião, cheia de certeza: a Ilha é uma cidade pacata, como não poderia não ser uma província. E falo isso sem nenhum ranço de ódio ou qualquer outro sentimento negativo em relação à terra natal, ilhéu convicto que sou.

O fato: minha namorada e eu caminhávamos pela Rua Grande – entre a Caixa d’água e o Canto da Fabril, nesse sentido – por volta das 19h do dia 4 de maio, quinta-feira. Eu, atrasado, rumo à aula, na Faculdade São Luís. Ela me acompanhava e de lá iria para casa. Fato absolutamente normal, não? Não fosse a abordagem de um cidadão armado com um revólver que reluzia, apesar da pouca iluminação do local (alô, Cemar!); cidadão esse que era esperado por outro, montado numa bicicleta, do lado oposto da rua. Após “rasparem” minha pochete e a bolsa da namorada, pedaladas tranqüilas os levaram rumo ao Diamante. Na pochete e na bolsa: celulares, dinheiro e documentos.

Minutinho depois, surgem, no sentido Canto da Fabril-Caixa d’água, duas motos do grupo de choque da Polícia Militar: informados por nós sobre as características do homem armado e seu companheiro ciclista, pediram-nos que esperássemos e partiram em busca dos dois, nada encontrando e retornando depois para nos dar esta satisfação e tomar nossos números de telefones, para um eventual contato, já que as buscas continuariam.

Depois de um assalto, é absolutamente normal fazer o relato a conhecidos, parentes etc. e ouvir outros relatos em resposta: “fulano já foi assaltado ali”, “beltrano já foi assaltado assim”, “cicrano, assado”. Todo mundo conhece alguém, ou conhece alguém que conhece alguém que já foi assaltado. Demos sorte, entre aspas, de encontrar as motos com os policiais. Menos sorte tiveram eles – e nós – que não encontraram nossos pertences.

Pelos relatos de parentes, amigos etc., soubemos: todos os dias ocorrem assaltos naquele trecho: além de mal-iluminado, conta com pouco policiamento (alô, polícias civil e militar!, alô, governo do estado!). Algo que deveria ser melhorado, observando-se que aquele pedaço do início do grande shopping aberto ludovicense, é “habitado” por escolas, cursos, faculdade etc. (alô, diretoria e DCE da Faculdade São Luís!, alô, diretores de escolas!, alô, donos de cursos!); os alunos destes, em sua maioria, têm que caminhar rumo ao Canto da Fabril ou à Praça Deodoro em horários inóspitos para tomar ônibus de volta para casa.

Ao registrar queixa para termos em mãos o boletim de ocorrência, a fim de tomar providências necessárias (bloqueio de celulares, segunda via de documentos, constar nas estatísticas etc.), o vazio da delegacia me soava ironicamente engraçado: ninguém na permanência, o telefone começa a tocar; alguém aparece e o atende; nem parecia que estávamos ali; ele pede um instante a quem está do outro lado da linha, vai até a porta, volta. A ligação era para alguém que não se encontrava no estabelecimento no momento, presumi pelo que ouvi pela fala do lado aqui da linha, enquanto espero um segundo aparecer e nos perguntar o que desejávamos… (de novo: alô, polícia civil!, a greve já acabou…)

Este texto é, lógico, motivado pelo que se deu conosco ontem. “Dos males o menor”, prefiro pensar. Bens materiais podem ser recuperados, documentos podem ser re-tirados e, exceto a violência do “berro” apontado em nossa direção e o nervosismo normal do momento, não sofremos (absolutamente) nada.

Não há, de nossa parte, nenhum sentimento de vingança. Não, não ficaríamos felizes se o batalhão pegasse os dois rapazes e os “enchesse de porrada” para recuperar nossos pertences. Mas não deveria ser garantido o direito de ir e vir dos cidadãos, seja lá em que local isso se dê? Idiota, infantil, inocente, utópico, ou o que quer que seja. Nós não desistimos/desistiremos de acreditar – e lutar por – (n)uma sociedade melhor e mais justa. Para todos!

Notas:

1. O título do presente texto, escrito na manhã de 5 de maio de 2006 foi extraído da música “Utopia”, de Chico César, registrada pelo compositor paraibano em seu disco “De Uns Tempos Pra Cá” (Biscoito Fino, 2005).

2. Boca da noite de hoje (vide data que escrevi o texto, nota acima), o ônibus em que minha avó retornava à Rosário, onde mora, foi assaltado: três homens armados levaram pertences dos passageiros. O fato aconteceu por volta das 18h, entre o posto da Polícia Rodoviária Federal (Pedrinhas) e Estiva.

10 respostas para “três”

  1. naldo: como eu disse no msn, risos, “a segunda parte é merda só” (?); mas tem a diagramação, a foto, mais risos. obrigado pela companhia dominical. continue lendo e comentando. abração!

  2. Amigo Zema sei bem o q sentiu, já aconteceu comigo dentro de uma clinica.É uma situação horrivél, é uma dor não física, mas que dói fundo. Espero q não aconteça mais, e peço para q todos nós fiquemos atendos aos nossos passos. um abraço “Fran”

  3. Amigo, no dia 05/04, eu tava saindo do serviço, por volta de 19h00, num taxi, com Rosaline e Claudeth e minha bolsa foi furtada de dentro do taxi. Estávamos passando embaixo da ponte Bandeira Tribuzzi – eu confesso que dei “bandeira”: estava no banco do passageiro, com os vidros aberto, falando ao celular – quando dois rapazes vieram tomar o celular, Cacau não deixou e eles levaram a bolsa. Eu ficaria mais tranqüila se a bolsa não tivesse só tudo o que poderia identificar minha função onde trabalho. A sensação de impotência aumenta, quando ligamos para o 190 e uma moça muito mau-educada, nos atende mal e nos dá um péssimo tratamento. Infelizmente, é isso aí…Abraços e, tomemos mais cuidado, ao circular pela Ilha…rs

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