pocket beat

[uma coleção, um livro, um “causo” na primeira classe, jp turismo, jornal pequeno, hoje]

Tristessa de bolso

L&PM Pocket ultrapassa os quinhentos títulos e publica “Tristessa” de Jack Kerouac.

por Zema Ribeiro*

A coleção L&PM Pocket [L&PM Editores], com seus mais de quinhentos títulos, acaba, em parte, com uma desculpa esfarrapada dada por parte de uma parcela que não lê: a de que livros são caros. Com preços acessíveis, edições bem-acabadas e um vastíssimo repertório, é possível ler nomes como Machado de Assis, William S. Burroughs, José de Alencar, Dante Alighieri, Dalton Trevisan e Oscar Wilde, entre outros, muitos outros.

Um ótimo exemplo é “Tristessa[R$ 6,00, 100 páginas], de Jack Kerouac, publicado pela primeira vez em 1960. Um livro ligeiro, como ligeira é a prosa ligeiramente poética e apressada – sôfrega – do beat-mor. Uma história de amor, seja lá o que isso for, e desamor, dolores e (poucos) dólares. Junkies decadentes viciados em morfina na Cidade do México, a urgência do próximo pico, a urgência da pena de Kerouac, que meio que escreve ali, (parte de) sua própria biografia, tendo uma prostituta como protagonista. [A L&PM lançou recentemente os “Diários de Kerouac”, mas não em sua coleção de livros de bolso].

Estas pequenas – só no tamanho físico, diga-se – obras podem ser encontradas em qualquer banca de revistas. Um pouco de paciência para encontrá-las ajuda. Numa das bancas da Praça Deodoro, indago, após ter feito o mesmo em outras: “Tem “Tristessa”, de Jack Kerouac?”; o homem responde-me com uma indagação a outro: “Tem tristeza?”. “Não, “Tristessa”, com dois ésses”, corrijo. O segundo homem responde-nos com um “não” seco. Pergunto ao primeiro se poderia dar uma olhada e ele me abre passagem. Giro umas poucas vezes a estante e acho o livro procurado, caçando as moedas entre os trocados da carteira. Pago e saio, antes ainda ouvindo um esporro do primeiro ao segundo homem: “Tu responde logo que “não” sem nem saber. Não quer ler…”. A desculpa do preço, citada lá em cima, não pode ser.

* Zema Ribeiro é correspondente do site Overmundo e escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com

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