rremembranças zêmicas em depoimento por crime de plágio

Não, eu não tenho rremembranças da menina de rua morta nua, era muito novo quando o crime aconteceu, tinha onze anos, apenas. Achava chatíssimo o jeito de Gil Gomes apresentar o Aqui Agora. Aliás, sempre achei chato esse tipo de programa de televisão. Aqui no Maranhão nunca fui com a cara do Bandeira 2. Insuportavelmente antipático, aquilo, [faz voz fanha] “Jânio Arlei, Bandeira 2 e o SBT, de olho em você”, argh! Toscas demais aquelas propagandas de café, cachaça e locadora de filme pornô que patrocinavam o matutino sanguinolento. Não sei como minha família gostava de ver aquilo. Vai ver, supriam a falta de presunto no pão vendo os cadáveres na telinha.

Bom, a primeira vez que ouvi falar da menina de rua morta nua, achei simplesmente um título bonito. A capa, também, lembrava uma grade, uma cela, algo assim. E li o entusiasmadíssimo texto de Joca, quando ele ainda tinha o blogue, talvez seu fã número um. E aqui se desencadeia um fanatismo em cadeia, perdoem-me ser tão repetitivo e trocadilhesco e sem-graça e não ser objetivo, vocês entendem meu nervosismo, não sou acostumado a estes ambientes. Ainda mais que me obrigaram a por uma roupa mais arrumadinha. Por mim tinha vindo como estava em casa, sandália de dedo, bermuda e regata. São Luís é quente. Ah, sim, os fanatismos em cadeia. Bom, talvez eu esteja exagerando. Mas Joca é fã do Valêncio Xavier, um repórter do absurdo, e Reuben é fã do Joca. E eu também já era fã do Joca e do Reuben, e digo-me, além de fã, amigo dos dois, embora não conheça Joca pessoalmente, ao menos ainda. Sim, claro que tenho a idéia de conhecê-lo. E tomar umas cervejas na Mercearia São Pedro com ele. Com ele e aquela turma da Antologia BêbadaRonaldo Bressane, Xico Sá… ah, falar em Xico Sá, outro dia o Alê Muniz me contou uma história que só podia me deixar emocionado. Diz que ele encontrou Xico na Merça, ah, perdoem-me a intimidade, mas puta-que-pariu, quer não ficar íntimo depois de ver as fotos que a Ivana publicou no blogue dela de um almoço na casa do Joca? É, juntem às provas do crime, talvez isto nos facilite as vidas. Aí o Alê ficou na dúvida se era ou não o Xico e resolveu chegar e era, e ele deu um disco do Criolina para ele. E Xico deu os parabéns ao Alê e a Lu pelo trabalho e disse que já tinha ouvido falar, que um cabra do Maranhão etc. E Alê: “Quem?” e Xico: “Zema”.

Sim, mas aí, onde estava mesmo? Ah, bom, aí eu já me considerava amigos dos dois – quer dizer, de Reuben eu sou, inclusive, foi ele quem me emprestou as Rremembranças da menina de rua morta nua e eu li dum tapa e fiquei impressionado e fiquei fã, já era de dois, fiquei fã dos três. Aquele livro você lê muito rápido, curta-metragem, qualidade altíssima, mas vale a pena, sem dúvidas. É muito bonito.

Inclusive eu ‘tava lendo Sonho Interrompido por Guilhotina quando a campainha tocou e só me deram tempo de eu trocar a roupa, ainda bem que já tinha tomado banho, se não ‘tava que nem o velho ex-guerrilheiro de Amores Brutos, que eu vi ontem e também achei bonito, mas nada me impressionou mais este fim de semana que as Rremembranças. Aí eu vim. E lá no Sonho, que a guilhotinesca campainha interrompeu, há histórias de Joca em tributo ao ídolo. E, olha, Joca, chegou a editar um livro dele, não lembro o título agora, deixei o volume das Rremembranças em casa, tive tempo de nada, estou dizendo.

Ciência do Acidente, era o nome da editora de Joca. Aliás, além da prosa e da poesia em si, ele tem títulos maravilhosos, concordam? Não sei o que houve. Junto com as rremembranças, Reuben emprestou-me também o Eletroencefalodrama e eu vi o Joca sem ser careca pela primeira vez, na foto da orelha – do livro, não a dele – encoberta pela vasta cabeleira – a orelha dele, encoberta, não a do livro. Quero até saber se Joca não tem uns livros encalhados, queria comprar umas coisas de Valêncio Xavier, se ele tiver vai ser legal.

(Toma água em copo descartável). Não, obrigado. (Recusa um cigarro). Sim. (Aceita um cafezinho e repete).

Fiquei teorizando umas bobagens. Por exemplo: quando Valêncio Xavier assina apenas com as iniciais, VX, eu ficava fazendo um cálculo doido, sem sentido, uma equação de dar em nada. Lembrava-me dos algarismos romanos que era praticamente obrigado a aprender nos primeiros anos de escola. Se V é cinco e X é dez, e se, para fazer alguns números, você põe uma letra antes da outra, de modo a subtrair da segunda… por exemplo: como se faz um nove em romanos? IX. Ou seja: dez, que é X, menos um, que é I, nove. Ou I, um, para X, dez, nove. Ou quarenta: X, dez, para L, 50, quarenta. Logo, VX seria cinco. V para X, cinco, mas isso não dá em nada, já que cinco é V e pronto.

Outra teoria besta: pensei em dizer, mas não direi, que Valêncio Xavier é o Luiz Gonzaga da nossa literatura. Eu já tinha pensado em dizer que Flávio Moreira da Costa é o Tom Zé da nossa literatura. Mas podem procurar aí por onde eu tiver escrito, qualquer espaço, qualquer, qualquer. Nunca disse. Também, fiquei maravilhado com as obras de ambos, assim que tomei contato, mas soltar isso, assim, de cara, seria demais, pois os li pouco, muito pouco. Por enquanto. Sim, certamente isso é um crime. Eu acho. Vem cá, tem alguma tv filmando isso? Imprensa, rádio… destaquem aí, para a gurizada: leiam Valêncio Xavier e leiam Flávio Moreira da Costa. E não só a rapaziada nova não. Todos deveriam, todos devem lê-los. E já! Eu mesmo, saindo daqui, antes de chegar em casa passo numa livraria para procurar títulos de VX. De Flávio tenho uns dois aguardando, em casa. E chegando em casa digitarei o nome de Valêncio Xavier num desses sites de busca e verei no que dá. Achando qualquer coisa, principalmente se venderem pré-datado, já mando buscar.

(A sala está quente. Justo no dia do depoimento, o ar-condicionado havia achado de pifar. Janelas abertas não davam conta do recado. Felizmente havia energia elétrica para que se digitasse o que ele dizia, por vezes sem pensar e ligeiro demais). Ah, sim, não, talvez essa relação que eu faço, ou tento fazer, do Valêncio com o Luiz Gonzaga, seja pelo fato de eu ter ouvido muito o rei do baião durante o final de semana. Bom, talvez eu esteja dizendo bobagem, até por que, apesar de ter lido bem pouco Valêncio Xavier, ouvi pouco Luiz Gonzaga também; embora do segundo conheça mais coisas, até por ouvir música ser mais fácil do que ler, concordam? Quem já ouviu Samarica Parteira entenderá. É isso. Se Luiz Gonzaga tirava música daquele “nhééééééééééééééééém… pá!” das cancelas sertanejas, de onde Valêncio Xavier tira sua literatura? Como Gonzaga tira sua música, de qualquer lugar, é o que eu quero dizer. Só isso. Ó, aquele bilhete das crianças-pedintes nos ônibus, que ele recebeu em alguma viagem… aquilo ‘tá lá nas rremembranças dele. E isso é o que me rremembro agora.

Bom, quem me conhece sabe que sou boa gente, que não mexo com ninguém. Aliás, ando cada vez mais quieto, os próximos sabem. Sim, tenho bebido menos e, ainda não é o ideal, mas tenho lido mais, tenho procurado ler mais. Foi assim que cheguei às rremembranças do Valêncio Xavier. Sim, claro que vou comprar. Aqueles sete livros, aquela bíblia, é coisa para se ter em casa. Pecado? Ora, bíblia, não é um livro com vários livros dentro? Pois então? O título não é Rremembranças da menina de rua morta nua e outros livros de Valêncio Xavier? Não estou errado, portanto. Portanto, repito, pecado, não, meu crime é outro: EU SOU ZEMA RIBEIRO E PLAGIEI JOCA REINERS TERRON.

4 respostas para “rremembranças zêmicas em depoimento por crime de plágio”

  1. menina, tu anda sumida, hein? esse desatino aí é um plágio-ficção por conta de meu impacto com a leitura do livro do valêncio xavier (o primeiro, e até aqui, único, que li dele), em paralelo ao mais novo do joca. a história do xico é verídica. gracias. abração!

diga lá! não precisa concordar com o blogue. comentários grosseiros e/ou anônimos serão apagados