DOIS ANOS SEM GERÔ

O texto abaixo foi publicado no jornal Tribuna do Nordeste, em minha coluna Tribuna Cultural, hoje, data em que o brutal assassinato de Gerô completa dois anos.

O VASTO BALAIO DE GERÔ

Disco póstumo apresenta vasto panorama da obra interrompida do compositor, brutalmente assassinado há dois anos.

Completa dois anos hoje (22) o brutal assassinato do poeta, repentista e compositor Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, à época com 46 anos de idade. O artista foi brutalmente torturado, espancado até a morte por policiais militares, num fim de tarde, “confundido” com um ladrão, “tratado como preto/ só pra mostrar aos outros quase pretos/ (e são quase todos pretos)/ e aos quase brancos pobres como pretos/ como é que pretos, pobres e mulatos/ e quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados” (Haiti), como cantaram, bem antes, Caetano e Gil.


[Capa. Reprodução]

Selecionado postumamente pelo Plano Fonográfico SECMA 2007 – Prêmio A Voz do Povo, A peleja de Gerô [Secma, 2009], finalmente sai do forno. O disco ajuda a preservar a memória deste importante compositor, embora nem de longe repare a perda sofrida por filho e viúva deixados. Gerô cuidou da direção artística do disco, deixando as bases prontas. Direção e produção musical são assinadas por Anísio Galvão, que toca quase todos os instrumentos do disco – as exceções são a percussão (auxílio luxuoso) de Arlindo Carvalho e as faixas 500 anos (Gerô), Bate coração de novo (Gerô e Naldinho Pinheiro) e Canto de passarinho (Domingos Santos e Gerô), a primeira gravada em Brasília com participação de Moisés Nobre (voz e pandeiro) com o próprio Gerô ao violão, e as duas últimas excertos dos LPs Segunda de arte [Prefeitura Municipal de São Luís, 1992] e Festival Viva Maranhão [Governo do Estado do Maranhão, 1985].

Esta última, interpretada por Fátima Passarinho naquele festival, ficou em terceiro lugar – Oração latina (Cesar Teixeira) seria a grande vencedora – e deu a Fátima Passarinho o prêmio de melhor intérprete e o definitivo nome artístico.

O excesso de teclados no disco e alguns erros no encarte – além dos ortográficos, a autoria de A emenda do cão é erroneamente atribuída a Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro e Gerô, quando o xote (originalmente um samba intitulado Samba do capiroto) foi composto apenas pelos dois primeiros – não diminuem os méritos do trabalho: se Gerô não era um grande cantor, a força de sua poesia – Linguafiada era outro pseudônimo seu – e seu bom humor fazem o disco valer muito a pena. Há martelo, xote, frevo, toada, reggae, repente e coco, num vasto panorama de sua obra interrompida, cheia de verdades que poucos têm coragem de dizer – ou cantar.

5 respostas para “DOIS ANOS SEM GERÔ”

  1. Zema,É importante o registro em CD da obra do irrequieto Gerô, assassinado pela polícia da libertação, com l minúsculo mesmo. Em terra onde tudo passa e nada muda, Gerô faz falta mesmo.Abraços!

  2. Zema ribeiro parabéns pela lembrança , uma vez que a fatídica data de 22/03/2006 foi tornada o dia estadual de combate a tortura no Maranhão prla deputada Helena Heluy, espero que na sessão de hoje tenham pelo menos lembrado, pois o facão ficarar mais amolado para que atos covardes como este seja banido defeinitivamente.TORTURA NUNCA MAISMARTINS

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