AS NOVAS AVENTURAS DE WILSON MARQUES NO REINO DOS PEQUENINOS

[O texto abaixo saiu n’O Debate de ontem (30/9) e teve as datas adaptadas para efeito de publicação neste blogue]

WILSON MARQUES EM NOVA AVENTURA

Escritor lança nesta sexta sua nova obra dedicada ao público infanto-juvenil: O Tambor do Mestre Zizinho.

ZEMA RIBEIRO
DA REDAÇÃO


[O escritor Wilson Marques leva o tambor de crioula ao conhecimento da gurizada. Divulgação]

O escritor Wilson Marques, 48, tem uma importante contribuição às letras do Maranhão, sobretudo no que diz respeito ao público infanto-juvenil. Suas obras, há tempo publicadas de maneira independente, têm ajudado a difundir manifestações da cultura popular maranhense, tradições, costumes, lendas e aspectos históricos aos pequenos.

Jornalista, meio que abandonou a profissão, embora alguns valores do ofício o ajudem no outro. Como fotógrafo, foi vencedor de duas Coletivas de Maio, algo que possivelmente a população ludovicense já nem lembre mais o que era e os gestores parecem não ter interesse em reeditar. Num projeto em parceria com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), documentou diversos quilombos maranhenses, o que certamente lhe deu munição para o novo livro e cujas fotos acabaram rendendo uma exposição montada em Salvador/BA.

O lançamento de O Tambor do Mestre Zizinho, hoje (1º.), às 19h, na Livraria Leiamundo (Jaracaty Shopping), inaugura uma nova fase na sua trajetória: editado pela Mercuryo, de São Paulo, é a primeira vez que Wilson Marques tem uma obra publicada por uma editora, o que certamente garantirá melhor distribuição, inclusive fora de seu estado natal – o escritor nasceu em Caxias e mudou-se cedo para a capital. “A editora ficou sabendo do projeto pela minha página na internet e se interessou. O texto foi aprovado e o projeto seguiu em frente”, explica.

O Tambor do Mestre Zizinho conta a história da personagem do título, um menino que é convidado por uma professora a resgatar a tradição do tambor de crioula em uma comunidade quilombola no interior do Maranhão. Se o autor não diz exatamente onde fica, isso não faz diferença: o cenário pode ser qualquer quilombo brasileiro. O menino consegue organizar uma festa bonita e passa a ser chamado de mestre. Na ficção, o acontecimento vira documentário.

Documentar, aliás, parece ser uma das missões de Wilson Marques, hoje trabalhando com redação publicitária. “Não deixo de fotografar, embora tenha me concentrado mesmo nos livros. Eu sempre estou com muitos projetos na cabeça e em fase de produção. Tenho, por exemplo, um Touché [personagem de uma série de livros do autor] sobre a Balaiada, esperando a oportunidade de ser publicado”, avisa.

Dedê Paiva é quem dá cores às palavras de Wilson Marques. Usando lápis de cor, a publicitária de formação traduz a vida no quilombo, a paisagem tranquila e bela do interior e os movimentos dos homens ao tirarem música dos tambores grande, meião e crivador, e das mulheres, ao rodopiarem suas saias, bailarem em louvor a São Benedito, padroeiro da manifestação cultural patrimônio cultural imaterial brasileiro, e darem a punga, a umbigada que convida outra coreira – como são chamadas as dançarinas – para o centro da roda.

Wilson Marques lembra como se deu o contato com ela: “Acho que pra dar um tempo da zoeira de São Paulo, ela resolveu passar uns tempos aqui. Ficou três anos e nesse período documentou muito da paisagem e da cultura do Maranhão. Conhecemo-nos nesse período e realizamos o [O Tambor do Mestre] Zizinho pouco antes dela decidir voltar para Sampa”.

Em relação ao voo que o novo livro deve alçar, por ser publicado por uma editora e ter distribuição nacional, alfineta a “cena” local: “O problema é que não temos mercado consumidor. Se o sujeito produz e não consegue vender sua obra, o negócio não se sustenta. Isso poderia ser contornado caso as obras dos nossos escritores, e temos muitos autores bons, compusessem acervos das bibliotecas, escolas públicas etc. Por enquanto, só existem discursos vazios de apoio e, na prática, poucas ações que apontem para a profissionalização dos nossos autores”.

Uma das satisfações de Wilson Marques é ir a escolas e ser bem recebido por diretoras, professoras e alunos – “meus leitores”, diz – sempre com muito respeito. “Ouço palavras elogiosas, dizem que meus livros são importantes na formação das crianças”, conta. Realização? “Não dá pra falar em realização, seja lá o que essa palavra queira significar. Quando se sabe que nossas crianças, pela falta de acesso à educação e cultura, veem negado seu próprio futuro”.

Não é de hoje que alguns livros dele vêm sendo bastante usados em escolas como paradidáticos. “Havia uma demanda local bastante grande de obras voltadas para o público infanto-juvenil tratando desses temas. Por outro lado me pareceu óbvio que os elementos da nossa cultura, que mistura danças, ritmos, lendas, como as de Ana Jansen e da Manguda, e histórias fantásticas, eram temas literários, por excelência, sobretudo para as crianças. Junte-se a isso meu interesse e a vivência com a cultura popular do Maranhão, e minha predileção por escrever”, ele conta como ingressou no universo literário infanto-juvenil.

Perguntado sobre o que anda lendo atualmente, Wilson Marques revela que tem dado atenção à chamada literatura pop: “Invisível, de Paul Auster. Ultimamente, aliás, só tenho lido autores contemporâneos, que estão produzindo, tipo Nick Hornby [o autor de Alta Fidelidade], Hanif Kureishi [Tenho algo a te dizer]”. Referências? “No caso dos infantos, a obra de Monteiro Lobato é sempre uma referência”.

Em se tratando de um autor maranhense, às vésperas do acontecimento – menos de dois meses completos até lá –, o repórter não poderia deixar de querer saber a opinião do escritor sobre a Feira do Livro de São Luís: “A Feira é sempre muito criticada mas acho que, ao mesmo tempo que devemos ter posturas críticas, perspicazes, não devemos embarcar num jogo de simplesmente atirar pedras. Acho que a gente deve participar. Dar opiniões. Estar presente. A Feira é um grande e importante evento, vinculado à agenda cultural da cidade. E não pode acabar. Portanto, acho que é nosso dever contribuir para que ela se fortaleça, independentemente de quem seja o prefeito ou o presidente da FUNC [a Fundação Municipal de Cultura]. Do contrário, corremos o sério risco de a perdermos, como perdemos, para citar apenas um exemplo, a Coletiva de Maio”.

Serviço

O quê: lançamento do livro O Tambor do Crioula do Mestre Zizinho.
Quem: o escritor Wilson Marques.
Quando: hoje (1º.), às 19h.
Onde: Livraria Leiamundo (Shopping Jaracaty)
Quanto: entrada franca. A produção não informou por quanto o livro será vendido.

4 respostas para “AS NOVAS AVENTURAS DE WILSON MARQUES NO REINO DOS PEQUENINOS”

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