Aberta ontem 5ª. Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Este blogue comenta brevemente a noite de abertura da Mostra. Ao fim do post, programação de hoje.

Poucas vezes em minha vida vi o Cine Praia Grande tão cheio quanto ontem, na abertura da 5ª. Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que somente nesta edição chega à São Luís: todos os lugares do cinema estavam ocupados e pessoas, devidamente avisadas antes de, ocupavam, em pé, os corredores laterais da única sala que foge da rota comercial e/ou dos padrões hollywoodianos – por isso também, simbolicamente escolhida pela produção local para abrigar o evento.

Cheguei pouco antes das 18h e pequena fila já se formava para garantir o acesso à sessão inaugural – bom, houve uns poucos que quiseram apenas garantir o kit chique: uma sacola com o catálogo da Mostra, bloquinho de anotações, lápis, cartaz e uma linda camisa verde com a logomarca do evento. Mas, digamos que a maioria absoluta dos ali presentes estava mesmo ávida pelos filmes: da fala dos representantes das entidades e organizações envolvidas com a realização da Mostra até os créditos do segundo filme, a sala, um tanto quente, permaneceu lotada.

Ceres Costa Fernandes, diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, tradicional espaço cultural da Praia Grande que abriga o Cine Praia Grande, foi a primeira convidada pelo cerimonial a dar as boas vindas ao público, em nome da casa. Cometeu duas gafes: foi “politicamente incorreta” ao dar boa noite somente “a todos” e esqueceu o nome da “5ª. Mostra…”, sendo socorrida por alguém do cerimonial, “… 5ª. Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul”, leu num catálogo que lhe entregaram.

Perdão, Mister Fiel, segundo filme da noite de estreia da Mostra é documento fortíssimo sobre os porões da ditadura militar e conta até com depoimento inédito do ex-presidente Ernesto Geisel – em áudio. José Sarney deixou o público presente entre o muxoxo e a vaia quando de sua primeira aparição na tela. Lula e Fernando Henrique Cardoso são outros ex-presidentes que aparecem no filme, entre parentes do operário Manoel Fiel Filho, o personagem-título torturado até a morte nos porões do DOI-CODI, intelectuais e ativistas de direitos humanos. O ponto forte são os depoimentos de um ex-agente do DOI-CODI.

Já perdi a sessão das 13h30min (horário de início da programação todos os dias até seu encerramento, no próximo domingo) e deixei os poucos-mas-fieis leitores deste blogue sem as infos sobre ela. Abaixo a programação de hoje da 5ª. Mostra de Cinema e Direitos Humanos da América do Sul em São Luís (incluindo a sessão perdida). E tornamos a repetir: toda a programação é gratuita. Basta chegar meia hora antes e retirar o ingresso na bilheteria do CPG.

13h30min

A Verdade Soterrada, de Miguel Vassy (Uruguai/Brasil, 56min, 2009, doc)

Foram mais de vinte anos de impunidade e silêncio forçado por ameaças e medo. Porém, as ditaduras do Cone Sul não conseguiram apagar todas as provas dos seus crimes. Hoje, a sociedade uruguaia discute de que forma se deve desenterrar esse passado e promover a justiça. A Verdade Soterrada resgata os testemunhos das vítimas do terrorismo de Estado em busca da verdade.

Rosita não se desloca, de Alessandro Acito e Leonardo Valderrama (Colômbia/Itália, 52min, 2009, doc)

Há 50 anos a Colômbia vive uma violenta e covarde guerra civil. As Farc e o exército do governo se enfrentam. Além disso, estão presentes no país inúmeros outros grupos armados de esquerda, gangues e paramilitares. Para todos, o país é hoje sinônimo de narcotráfico. Todos conhecem a história de Ingrid Betancourt e muitos sabem que é apenas uma pequena ponta desse enorme iceberg. Mas, se por acaso, um dia você for além das crônicas e notícias de jornais e de televisão, se você passear pelas belas ruas de Bogotá, verá o aspecto menos conhecido e mais absurdo dessa guerra. Nesse momento, encontrará histórias extraordinárias como a de Rosita Poveda, pequena agricultora indígena, com a cabeça cheia de “guevarismo” e agronomia, mulher de mãos grandes e sorriso completo. Há cinco anos ela limpa e cultiva um pedaço de terra doado por um arquiteto – localizado na periferia da capital – que servia como depósito de lixo e entulhos, além de refúgio para ladrões. Sem “plata”, mas com muito trabalho e garra, ela transformou o depósito de entulhos numa comunidade agrícola indígena e hoje, com sua associação, ensina práticas de agricultura orgânica para a população e estudantes universitários de toda a América do Sul.

15h30min

Ensaio de cinema, de Allan Ribeiro (Brasil, 15min, 2009, ficção)

Ele dizia que o filme começava com uma câmera muito suave, com um zoom muito delicado, e avançava em busca de Barbot.

108, de Renate Costa (Paraguai/Espanha, 91min, 2010, doc)

De todos os meus tios, Rodolfo foi o único que não quis ser ferreiro como meu avô: queria ser bailarino. A busca pelos rastros de sua vida leva a descobrir que, na década de 1980, no Paraguai da ditadura Stroessner, Rodolfo foi incluído em uma das “108 listas de homossexuais”, tendo sido preso e torturado. A história de Rodolfo revela uma parte da história oculta e silenciada de meu país. Em 108, duas gerações se enfrentam cara a cara, e o resultado permite que cada um de nós entenda seu lugar no mundo.

17h30min

A batalha do Chile II – O golpe de Estado, de Patricio Guzmán (Chile/Cuba/Venezuela/França, 90min, 1975, doc)

No período de março a setembro de 1973, a esquerda e a direita se enfrentam nas ruas, nas fábricas, nos tribunais, nas universidades, no parlamento e nos meios de comunicação. A situação torna-se insustentável. Os Estados Unidos financiam a greve dos motoristas de caminhão e incitam o caos social. Allende tenta conseguir um acordo com as forças da Democracia Cristã, mas fracassa. As contradições da esquerda aumentam a crise. Os militares começam a conspirar em Valparaíso. Um amplo setor da classe média fomenta o boicote e a guerra civil. No dia 11 de setembro, Pinochet bombardeia o Palácio do Governo.

19h30min

Abutres, de Pablo Trapero (Argentina/Chile/França/Coreia do Sul, 107min, 2010, ficção)

Na Argentina, os “caranchos” são os advogados que procuram as vítimas de trânsito para tirar a maior indenização possível das seguradoras e ficar com uma gorda comissão. Segundo as estatísticas, mais de 8 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito no país. Um advogado especialista em lucrar com esse mercado passa a repensar seu trabalho quando se apaixona por uma jovem médica que cuida dos feridos em acidentes. Ela não aceita que ele continue nesse trabalho; em nome dela, ele tentará tomar outro rumo. Como na máfia, porém, há toda uma organização por trás, e eles não conseguem sair de uma espiral de violência.

Classificações indicativas e maiores detalhes, vide site da Mostra, onde pode ser baixado seu catálogo completo.

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