Ian Ramil mostra personalidade e talento em disco de estreia

Ian. Capa. Reprodução

 

A música está no DNA de Ian Ramil. Filho de Vitor Ramil, sobrinho de Kleiton e Kledir, ele consegue mostrar uma voz própria em seu disco de estreia, assinado simplesmente Ian [2014], completamente autoral – a dispensa do sobrenome no título do álbum talvez seja uma tentativa de minimizar a responsabilidade pela herança da família musical.

O álbum tem produção de Matias Cella, que pilota vários instrumentos – contrabaixo, ukelele, guitarra, escaleta, violão, bongô. Outro instrumentista que comparece é o percussionista Marcos Suzano – que dividiu um disco, Satolep sambatown (2007), com o pai do estreante. O próprio Ian Ramil toca violão, guitarra e cuatro – espécie de violão de quatro cordas, originário da Venezuela, popular em alguns países da América latina. A voz do tio Kleiton pode ser ouvida em duas faixas, nos coros de Rota e Over and over.

Ao contrário do pai, que em discos como délibáb (2010) e Foi no mês que vem (2013), aproxima-se de países e artistas vizinhos, Ian Ramil canta em português e inglês, aproximando-se, em determinados momentos, de nomes como os mato-grossenses do Vanguart. Ian foi gravado em Buenos Aires e vem embalado em belo projeto gráfico de Virgílio Neto.

Outras influências, ele confessa no encarte do disco: Beatles em Nescafé (“Eu cuspo nescafé/ e você chora leite de manhã/ amarro o meu sapato/ e tu veste o sutiã/ (…)/ cadê o nosso amor? me diz onde/ vou correndo pegar o bonde/ que linha liga o teu coração ao meu?”) e Jorge Ben (assim mesmo, sem o Jor posterior) em Entre o cume e o pé (“eu já não sou infantil/ só quando eu quero/ quando convém eu brinco e pulo/ se desconvém eu sério”).

Transe aborda o amor entre metáforas gastronômicas e geográficas (“que que eu faço?/ me afogo em ti!/ eu posso logo ser um peixe?/ ou quer primeiro um puta barco de sushi?/ me diz pra gente se entender/ te pego em casa e digo: linda eu vejo o sol no teu olhar/ só pra nadar a noite nesse rio”) em faixa pontuada pela tuba de Santiago Castellani.

Entre o serrote de Diego Galaz e a guitarra de Ian Ramil, o personagem de Ímã ralo equilibra-se entre dois extremos: “às vezes ele pensa que é um ímã/ é que todo o mundo parece que quer colar/ em outras ele acha que é o ralo/ onde aquele mundo todo quer escoar/ (…)/ a personalidade desse cara é uma piada/ atraindo e escoando o que ele é”, diz a letra. Nela, Ian explora algumas possibilidades vocais, ele mesmo equilibrando-se entre a aproximação ou o distanciamento do conforto oferecido pelo sobrenome da família. Personalidade e talento ele prova ter de sobra neste consistente disco de estreia.

Confiram Ian Ramil em Suvenir.

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