Camila Reis Brito mergulha no universo do Divino e do Cacuriá em livro pioneiro

Cantigas Divinas. Capa. Reprodução
Cantigas Divinas. Capa. Reprodução

 

Até a abertura dos cursos de música das universidades Estadual e Federal do Maranhão a Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, fundada em 1974, foi, durante muito tempo, responsável pela formação da quase totalidade de nossos músicos em atividade. Durante um bom período foi também questionada com base em uma equação simples: se a maioria dos músicos ali formados iria atuar com cultura popular, em carreiras solo ou em grupos, por que a base do currículo era erudita?

As coisas vêm mudando pouco a pouco, mas partindo dessa premissa, a musicista Camila Reis Brito lança hoje (17), às 19h, no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro), com entrada franca, o livro Cantigas Divinas [Laborarte, 2015, 41 p., distribuição gratuita, disponível para download no site do projeto], conjunto de partituras de músicas executadas por caixeiras, na Festa do Divino Espírito Santo e no Cacuriá – dança tipicamente maranhense originada na festa e coreografada em seu encerramento. O livro será distribuído gratuitamente a escolas, bibliotecas e instituições de ensino de música.

Filha de dois expoentes da cultura popular do Maranhão, o ator e diretor Nelson Brito e a cantora Rosa Reis, Camila, qual os pais, membro do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte) e brincante do Cacuriá de Dona Teté, pioneiro e mais famoso grupo da dança, indagava-se o porquê de nunca ter visto, no currículo de sua formação musical, peças – do Divino e do cacuriá – que faziam parte de seu círculo de convivência na cultura popular.

Daí surgiu a ideia de Cantigas Divinas, realizado pelo Laborarte com patrocínio da Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura, em que ela e o cantor, compositor e professor Gustavo S. Correia transcrevem 20 partituras de músicas bastante conhecidas de foliões e “folioas” do Divino (e do cacuriá). A obra é ilustrada por Layo Bulhão, coordenador do Festival de Arte Contemporânea do Maranhão e da revista Insight Photo.

As cantigas são apresentadas “em linguagem infantil e didática com o objetivo de possibilitar que estas músicas façam parte de trabalhos de iniciação musical e de fazer um registro destas em formato de partitura”, afirma a autora na apresentação do livro. O livro de Camila deve interessar não só a maranhenses, já que a Festa do Divino Espírito Santo é uma manifestação de catolicismo popular presente em todo o território nacional.

Nas páginas de Cantigas Divinas estão contemplados um breve histórico acerca da festa, de quem a faz, do cacuriá, além de um glossário. Nas partituras estão cantigas de todas as fases dos festejos. O leitor ou músico, como se em procissão, passeia por versos que emocionam, como “meu Divino Espírito Santo/ a vossa capela cheira/ cheira cravo, cheira rosa/ cheira flor de laranjeira” (de Cheira flor de laranjeira), a músicas tornadas hits pela saudosa voz de Almeirice da Silva Santos, mais conhecida pela alcunha de Dona Teté. Quem não já cantou (e/ou dançou) o Choro de Lera, Passarinho verde, Mariquinha, Jacaré e Jabuti? Todas as músicas do livro são de domínio público.

Cantigas Divinas reúne em sua feitura as doses certas de necessidade, ineditismo, devoção e paixão. Um livro importante não só para os que fazem a cena da cultura popular do Maranhão, mas também para eruditos e mesmo àqueles que só cantam no chuveiro ou ninando as crianças.

3 respostas para “Camila Reis Brito mergulha no universo do Divino e do Cacuriá em livro pioneiro”

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