Os vários planos de Tatá Aeroplano

Cantor e compositor conversou com o blogue sobre seu novo disco, Aladins Bakunins, protagonizado por seu personagem Frito Sampler

Aladins Bakunins. Capa. Reprodução
Aladins Bakunins. Capa. Reprodução

 

Tatá Aeroplano é um inquieto. Seu ritmo de produção, difícil de medir; rotulá-lo, simplesmente impossível. Ele inventou e integra/ou bandas como Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, e agora ataca de Frito Sampler. Além disso, é dj e produtor (vide o ótimo homônimo de estreia do capixaba Juliano Gauche) e, entre outros, participou de Vira lata na via láctea, mais recente disco de Tom Zé.

Frito Sampler, alter ego de Tatá Aeroplano, era o vocalista da Jumbo Elektro, e acaba de lançar Aladins Bakunins, seu disco de “estreia”, já à venda em seu site, onde também pode ser baixado de forma gratuita. O show de lançamento do álbum está marcado para 26 de agosto, no Sesc Pinheiros/SP. O disco tem produção de Tatá Aeroplano, Otávio Carvalho e coprodução de Júnior Boca (parceiro de Tatá na produção do citado Juliano Gauche) em algumas faixas.

Em Aladins Bakunins Frito Sampler dá vazão à experiência iniciada pelo artista na saudosa Jumbo Elektro: canta numa língua inexistente baseada no anglo-saxão. Assim, é possível ler coisas como Cats and gatz ou Ladies, soldies and fantasys, além de Love, melodies and more nothing, entre outras, entre os títulos das 10 faixas do álbum.

Frito Sampler surgiu em um sonho. Aladins Bakunins, o título do álbum, em uma pesquisa na internet: buscando outra coisa, as palavras apareceram juntas e ele não teve dúvidas em usá-las para batizar o novo trabalho.

Nele estão traços característicos da obra de Tatá Aeroplano, com altas doses de psicodelia evocadas desde a capa, num disco de conteúdo freak, às vezes folk, alucinante, mais alegre aqui, ou melancólico acolá, como se pudéssemos prever o que, de repente, a formação original dos Mutantes estaria fazendo em pleno século XXI.

Tatá Aeroplano – ou Frito Sampler – conversou com o blogue. Esbanjando simpatia, ao fim do e-mail em que respondeu a entrevista, mandou um “viva a música e obrigado pelas perguntas”. Aos produtores da Ilha, um toque: é grande sua vontade de tocar aqui.

O plural Tatá Aeroplano: cantor, compositor, instrumentista, DJ, produtor... Foto: Divulgação
O plural Tatá Aeroplano: cantor, compositor, instrumentista, DJ, produtor… Foto: Divulgação

 

ENTREVISTA: TATÁ AEROPLANO

Já foi dito que a música é a única linguagem universal. O que o levou a cantar numa língua inexistente?
Quando aprendi tocar violão na adolescência, a segunda canção que compus junto com o violão foi uma que não tinha uma letra em português, e sim umas palavras “desconexadas”, puxadas pro anglo-saxão… Foi um lance natural, que sempre teve momentos na minha onda criando. O que aconteceu com o Frito foi isso. Tive um surto cantando essa linguagem louca em 2013 [durante a gravação da trilha sonora do longa-metragem De menor, de Caru Alves de Souza]… Fiz um monte de músicas assim e me deixei levar por isso, como tinha feito com o Jumbo Elektro, minha banda de 10 anos atrás.

Homem à frente de Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, carreira solo de Tatá Aeroplano, e agora Frito Sampler. Qual a sensação de ser vários?
Depois que eu vi o filme Holy Motors do Leo Caraix, entendi que sempre fui vários… Dei corda pra isso… Adoro me jogar na noite… Adoro acordar cedo… Gosto de correr… De andar pela city… De tomar umas… De tomar várias… As composições sempre vieram de todos os lados e influenciadas por tudo o que eu vivo… Entendi que sempre fui vários… Tem o que acorda cedo.. O que não dorme… O que toma litros de café… O que bebe todas… Eu convivo com todos eles… E se dou mais corda pra um… O outro reclama… Minha cabeça é uma loucura das boas.

 

Frito Sampler é mais que a reunião de sobras que não couberam em discos de tuas bandas ou tua carreira solo. É possível explicá-lo?
São as músicas que baixaram sem muita explicação lógica, como as cantadas em português, que também chegam do nada, a maioria é assim… O lance de sobras, são aquelas bandas que fazem 50 músicas pra tirar 10 pro disco… O meu problema, na real, é que componho centenas de coisas a cada ano… Daria pra fazer uns discos bem loucos… Então tô vendo até que ponto posso dar asa às loucuras… Porque pretendo no futuro… Fazer um disco de inéditas a cada seis meses… Falando em baixar… Tenho uma banda com o Paulo Beto… Chamada Zeroum, lá eu sempre cantei nesse idioma também… [o artista enviou os links com os vídeos usados nesta entrevista]

 

Aladins Bakunins é divertido e tem a marca de Tatá Aeroplano. Fora a língua inventada, o que difere basicamente Frito Sampler de Tatá Aeroplano?
O Frito é esse cara que aparece no clipe Frank Black Meeting Calling Days [faixa que abre Aladins Bakunins]: ele tem uma namorada andrógina de peruca rosa também e tem amigos como o pássaro psicodélico da floresta… A Ohana… A Sofi Anaho… Ele frequenta a noite e se joga geral… Esse é o Frito, canta numa língua que não existe… É o cara que veio do campo pra cidade. Já meu trabalho de compositor traz as canções em português, tem a psicodelia e a ironia que carrego comigo e em tudo que eu faço coloco um pouco dessas referências todas.

Com tantas identidades é difícil conciliar tantas agendas? Tem ainda a de produtor, dj…
O mais difícil mesmo é conciliar todos esses personagens malucos aqui dentro da cachola… Quanto a agenda… A prioridade total pro trabalho autoral, os álbuns do Tatá [Tatá Aeroplano, de 2012, e Na loucura e na lucidez, de 2014]… E nos respiros… Pirações… Como eu disse… Minha meta é um disco a casa seis meses.

Conheces São Luís? Gostaria de tocar aqui? O que falta?
Nossa, tenho muita vontade de ir pra São Luís. Eu preciso saber quem pode me ajudar a ir praí fazer shows! Quero muito ir!

3 respostas para “Os vários planos de Tatá Aeroplano”

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