Cátia de França apresentou seu novo álbum em show no Festival BR-135

Cátia de França e banda no palco do Festival BR-135 - foto: Zema Ribeiro
Cátia de França e banda no palco do Festival BR-135 – foto: Zema Ribeiro

Ontem (15), na segunda e última noite do Festival BR-135 Cátia de França reencontrou o público ludovicense – era apenas a segunda vez que a paraibana se apresentava como cantora no Maranhão; a primeira, na Casa d’Arte (Raposa), há pouco mais de dois anos, no formato voz e violão. Antes, já tinha passado por aqui na década de 1970 integrando trupes teatrais.

Graças à redescoberta, pelas gerações mais novas, de seu álbum solo de estreia, 20 Palavras Ao Redor do Sol (1979), no youtube ou em plataformas digitais, ao ver uma juventude conhecendo seu repertório e cantando parte dele junto, não apenas seus maiores êxitos, mas coisas já do último álbum, No Rastro de Catarina (2024), não pude deixar de pensar em meus primeiros contatos com sua obra: entre o fim da infância e início da adolescência ouvindo sua “Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa)” na voz de Xangai no antológico Cantoria 1 (1984).

Ela abriu o show com uma música do novo álbum, “Fênix”, que evoca sua própria trajetória: antes de ser merecidamente reconhecida, sobretudo a partir de Hóspede da Natureza (2016), Cátia de França não era nome comum entre curadorias de festivais – ainda bem que isso mudou, nunca é tarde.

No Rastro de Catarina, o álbum que forneceu a base do repertório de sua apresentação, costura composições novas e resgate de criações que datam ainda da década de 1970. Cátia de França tem a veia e a alma nordestina sem tirar um pé do rock, que o diga a formação da banda que a acompanhou: Cristiano Oliveira (viola), “melhor amigo do mundo”, Marcelo Macêdo (guitarra), Elma Virgínia (baixo) e Beto Preah (bateria) – a mesma formação com que gravou o álbum, faltando apenas Chico Corrêa, que esteve no palco no dia anterior, com Seu Pereira e Coletivo 401.

Em “Espelho de Oloxá” dá o recado: “cada mulher que se impõe nos liberta”, no que fala também de si mesma, jogando luzes sobre o empoderamento feminino, preocupação da curadoria do festival, que montou um line up completamente nordestino e valorizando grandemente a presença feminina em seus dois palcos.

Se o captador do violão quis lhe atrapalhar, ela levou na esportiva. A princípio brincou com sua própria timidez, dizendo ao roadie (e ao público presente): “eu já venho nervosa para cá, ainda acontece um negócio desses”. Mas depois tirou de letra, alternando-se entre os caxixis e o triângulo – nada que espante quem já conhecia a sanfoneira do primeiro disco de Zé Ramalho (1978).

“Negritude” é das músicas da nova safra que mais empolgam o público, que foi ao delírio com a levada reggae com que trajou “Academias e Lanchonetes”. “É a terra do reggae”, saudou a ilha, antes de “Bósnia”, do recado “toda guerra é feia”. Ao ouvir um grito de “gostosa!” vindo da plateia, rebateu, bem-humorada: “mentiroso!”. Respondeu com um “é lá no fim” ao pedido de “Kukukaya” e com um “não sei, não” ao de “Estilhaços”.

Não era um show para a galera do “oba, oba”: Cátia de França apresentou, em um festival gratuito e a céu aberto, o repertório de seu novo álbum, embora não tenham faltado clássicos como “Ensacado”, “Kukukaya”, “Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol” e “Quem Vai Quem Vem”, demonstrando ser merecedora da atenção, carinho e reconhecimento com que vem sendo tratada Brasil afora, mais recentemente. Antes tarde do que mais tarde.

*

Ouça No Rastro de Catarina:

A potência de Juliana Linhares

Juliana Linhares e trio no palco do Festival BR-135 - foto: Zema Ribeiro
Juliana Linhares e trio no palco do Festival BR-135 – foto: Zema Ribeiro

Quem já ou/viu sabe que Juliana Linhares é uma das mais potentes artistas da música brasileira surgidas neste primeiro quarto de século e sua apresentação, ontem (14), no Festival BR-135, reafirmou isso.

A potiguar se agiganta no palco, dona da situação, canta com o corpo, com os olhos, ao mesmo tempo cantora e também atriz que canta, nordestina nutrida por seu chão, que também ajuda a nutrir com seu canto, mais que agridoce, agreste-doce.

Quando esteve na bancada do Sem Censura, com Cissa Guimarães, na TV Brasil, por ocasião da entrevista de Chico César e Zeca Baleiro, ela revelou que ouvia seus discos na solidão de seu quarto e cantava acompanhando. Hoje é parceira de ambos.

Acompanhada por Elísio Freitas (guitarra e direção musical), Renata Neves (violino) e Estevan Cípri (bateria), Juliana Linhares apresentou um vigoroso show de uma hora – aliás, de parabéns o BR-135: todas as apresentações começaram pontualmente.

O repertório passeou por seu merecidamente aclamado álbum Nordeste Ficção (2021), desde a faixa-título, e covers de Belchior (“Comentário a Respeito de John”, parceria com José Luís Penna, num original arranjo forró), Zé Ramalho (“Galope Rasante”) e Elino Julião (“O Rabo do Jumento”, no bis), “um conterrâneo”, como fez questão de frisar, cantada à capela, como na véspera, quando Juliana deu uma palinha no Festival Por Terra, Arte e Pão, que celebrava os 40 anos do MST.

Ao longo da apresentação, como o álbum, aberta por “Bombinha” (Carlos Posada), Juliana Linhares ainda havia de dar recados políticos, postura que ela nunca escondeu: em “Balanceiro” (Juliana Linhares/ Khrystal Saraiva/ Moyseis Marques/ Sami Tarik), por exemplo, que frequentou a trilha sonora da novela Renascer, já está embutida no refrão: “eu não posso mudar o mundo, mas eu balanço”. Outro recado direto, carregado de fina ironia, é “Aburguesar” (Tom Zé).

“Vamos rir da cara desse povo que está destruindo o nosso país e fazer rápido alguma coisa para mudar”, disse antes de emendar gargalhadas em meio a “Tareco e Mariola” (Petrúcio Amorim). Chamou o intérprete de libras para cantar com ela “Embrulho” (Juliana Linhares/ Chico César). Gestualmente celebrou a liberdade sexual da mulher ao cantar “É Mais Embaixo”, sucesso da alagoana Clemilda (1936-2014), a rainha do duplo sentido, emendada com a “Lambada da Lambida”, outra parceria com Chico César. E agradeceu a oportunidade de estar em São Luís pela primeira vez, a convite do Festival BR-135, celebrando a iniciativa de um line up completamente formado por artistas nordestinos e com forte presença feminina.

Ao set list de Juliana Linhares compareceriam ainda “Meu Amor Afinal de Contas” (parceria dela com Zeca Baleiro), “Armadilha” (Caio Riscado/ Juliana Linhares), a singela “Bolero de Isabel” (Jessier Quirino) e “Frivião” (Juliana Linhares/ Rafael Barbosa de Araújo), a celebrar o dia do frevo, comemorado ontem. Mais uma vez parabenizando o festival e agradecendo toda sua equipe, revelou, sobre sua presença ali: “eu já estava há anos num namoro com Luciana Simões, finalmente deu certo”. E convidou a cantora, compositora e produtora para outro bis, num dueto em que repetiram “Bombinha”.

No segundo palco, na sequência, os piauienses da Boi de Piranha não deixaram ninguém parado, num bailão que foi de carimbó, lambada e calipso, com referência e reverência a Poly e Seu Conjunto no clássico “Moendo Café” (Bella Maria/ Manzo).

Na sequência – sempre pontualmente, frise-se novamente – a turma do Seu Pereira e Coletivo 401 era super aguardada e fez também um show entre o dançante e a sofrência, agradando enormemente o público presente.

Apoteótica e simbólica foi a volta de Juliana Linhares ao palco para dividir com a banda, após uma troca de gentilezas e admiração recíproca, um medley que foi um verdadeiro passeio pelo Nordeste, que começou com “Pedra de Responsa” (Chico César e Zeca Baleiro), continuou com “Sinhá Pureza” (Pinduca) e clássicos do forró, como “Forró Desarmado” (Cecéu/ Lindolfo Barbosa) e “É Proibido Cochilar” (Antonio Barros).

Serviço: O Festival BR-135 continua hoje (15), a partir das 15h, no Forte Santo Antonio (Ponta d’Areia). A programação (gratuita) de hoje tem DJ Jorge Choairy (15h, Palco 1), Instrumental Pixinguinha (16h, Palco 2), Baque Mulher São Luís (17h, 1), Athuy (18h, 2), Cátia de França (19h, 1), Femme Fusion (20h, 2) e Mombojó (21h, 1).

Titane e André Siqueira para êxtase do público

Titane e André Siqueira - foto: Zema Ribeiro
Titane e André Siqueira – foto: Zema Ribeiro

Já faz tempo que os caminhos de Titane e do Maranhão se cruzam, mesmo que a mineira só tenha vindo por aqui neste setembro em que o Festival Por Terra, Arte e Pão e a Feira da Reforma Agrária Manoel da Conceição celebram os 40 anos do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).

Antes de Titane e André Siqueira subirem ao palco, após o show dos paraenses do grupo Baobá, a potiguar Juliana Linhares, também simpatizante do movimento, que visitava o festival, subiu ao palco para enaltecê-lo e receber uma homenagem. À capela cantou um trecho de “O Rabo do Jumento”, do conterrâneo Elino Julião (1936-2006), e não resistiu aos pedidos do público por “Balanceiro” (Juliana Linhares, Khrystal Glayde, Moyses Tiago e Sami Tarik), de que também cantou um trecho. Uma das atrações do Festival BR-135, ela se apresenta daqui a pouco, às 19h, no Forte Santo Antônio (Ponta d’Areia).

Titane lembrou, por exemplo, do intenso convívio com Papete (1947-2016), em São Paulo, e também o fato de os dois percussionistas de seu primeiro álbum, serem maranhenses: Manoel Pacífico, há décadas radicado em São Paulo, e Erivaldo Gomes (1959-2022).

Muito apropriado, aliás, o convite do movimento para que a artista se apresentasse nesta celebração – acompanhada pelo monumental André Siqueira ao violão, ele um dos músicos que comparecem a “Titane Canta Elomar – Na Estrada das Areias de Ouro” (2018) –, já que sua relação com o movimento também vem de longa data, tendo a artista colaborado com a criação das Escolas de Arte do MST em Minas Gerais. Ela se apresentou descalça, para sentir a energia do chão do lugar.

Ela abriu o show com “Estrela Natal”, do conterrâneo Sérgio Pererê, ao lado do paraibano Chico César, os compositores que ela mais gravou, como ela mesmo revelou. Cantou acompanhando-se tocando caixa. “Cantar pra não morrer de dor”, como diz a letra, com Titane aproveitando para destacar a importância do MST no enfrentamento ao triste estado de coisas que termina com o país sufocado pela fumaça das queimadas espalhadas por toda sua geografia.

Titane passeou por vários ritmos e fases de sua carreira, num show curto, porém, na mesma medida, intenso e emocionante, que seguiu com “Folia de príncipe”, de Chico César.

Pereira da Viola pede “licença pra cantar neste salão” na letra de “Tá No Tombo”: a essa altura do show, Titane e André Siqueira já eram visitas recebidas com alegria e honras. Guardarei para sempre as palavras gentis com que, do palco, se referiu a este jornalista (que não reproduzo aqui para não soar vaidoso, quem estava lá é testemunha), antes de me oferecer “Clariô”, única de Elomar que compareceu ao repertório.

“Templo” (Chico César, Tata Fernandes e Milton de Biasi) antecedeu a inusitada “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, (Herbert Vianna), hit de Ivete Sangalo. Pererê voltaria ao set list em “Na fé”, e “Aroeira”, com que o show foi encerrado.

Antes do fim, “Boi da Beira” (Mochel) traduziu ainda melhor a relação com o Maranhão de que falamos no início. Nem Titane, nem André Siqueira, nem o público presente à Praça Deodoro, em frente ao novo Armazém do Campo (Rua de Santaninha, Centro), onde aconteceu a programação querem que demore tanto uma próxima ponte Minas-Maranhão.

Cada presente, em êxtase, leva um pouquinho de Titane (e André Siqueira) consigo, após o show. Ela, já tão maranhense por afinidade, certamente leva mais um pouco de Maranhão na bagagem e no afeto. 

O baile de Chico César, em casa

TEXTO E FOTOS: ZEMA RIBEIRO

Chico César se apresentou ontem (2), na Praça das Mercês, no Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, na programação do aniversário de 412 anos de São Luís. Cantou por pouco mais de hora e meia, numa demonstração de sua relação atávica, umbilical e orgânica com a cidade. Muita gente, ainda hoje, acredita que o paraibano é maranhense.

Prestes a completar 30 anos de sua estreia fonográfica, com Aos Vivos (Velas, 1995), ele escolheu “Beradêro”, faixa que abre o citado trabalho, para inaugurar seu show, com a plateia cantando junto desde ali e direito a um “viva Paulo Freire (1921-1997)!” – o educador é citado na letra – respondido a plenos pulmões pelo público presente.

Artista experiente e experimentado, com pleno domínio de palco, Chico César soube fazer o público cantar junto, aplaudir, dançar e vibrar, em êxtase coletivo. Marcado para às 21h, o show só foi começar pouco depois de 23h30. O artista desculpou-se, mas disse que o atraso nada tinha a ver com ele e sua equipe, que esperaram pacientemente todas as apresentações que o antecediam. E revelou: “a gente preparou um show de duas horas, mas vai ter que diminuir um pouquinho. Minha equipe precisa estar no aeroporto às duas”. Após ouvir um “ah” de insatisfação do público, respondeu: “amanhã vocês trabalham”. E o público, para rir de si mesmo: “não!”.

Chico César conhece o chão que pisa, sabia que estava na ilha do reggae. Após “Beradêro” mandou “Árvore”, clássico do baiano Edson Gomes (que ele havia cantado em duo com Marcelo Jeneci em Night Club Forró Latino (volume I), álbum mais recente do sanfoneiro), seguida por “Mama África”, “Brilho de Beleza” (Nego Tenga) – trocando o nome de Bob Marley (1945-1981) da letra original pelo de Marielle Franco (1979-2018) – e finalizando o longo medley com “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” (Geraldo Vandré), transformando a praça num salão de baile em que os presentes não têm intervalo para interromper a dança.

Dizer que o público foi à loucura pode ser redundante em se tratando deste show, de muitos pontos altos. Chico César cantou “Sereia Linda de Cumã” (Humberto de Maracanã/ Zé Maria), faixa de Aldeia Tupinambá (Ná Music/ Tratore, 2020), de que ele participa (quem esteve no Festival Zabumbada em 2022 não esquece o encontro do paraibano com o batalhão, na mesma Praça das Mercês). A esta seguiram-se “Vestido de Amor” e “À Primeira Vista”, com citação de “Samurai” (Djavan), numa apresentação recheada de intertextos, em que Chico César vai descortinando sua formação e sua relação com o lugar, sem nunca forçar a barra.

No palco ao lado do Monumento da Diáspora Africana, na Praça das Mercês, Chico César exaltou o papel dos negros e das mulheres, por vezes repetindo a frase “lugar de mulher é onde ela quiser” – metade do sexteto que o acompanha – a banda Machifeme, como ele apresentou – é feminino: Síntia Piccin (saxofone e flauta), Richard Fermino (trompete e flauta), Larissa Humaitá (percussão), Gledson Meira (bateria), Helinho Medeiros (teclado e sanfona) e Lana Ferreira (baixo).

“Pensar em Você” trouxe outras citações: “Nossa Canção” (Luiz Ayrão), além de um trechinho de “Dia Branco”, de Renato Rocha e Geraldo Azevedo – com quem Chico divide Violivoz (Ao Vivo) (Chita/ Geração/ LF + C, 2023). Quando cantou “Deus me Proteja” agradeceu a Dominguinhos (1941-2013) e Juliette, por colocarem sua composição no coração dos brasileiros. Presenteou os presentes com uma inédita, “composta ontem” – quando postou-a no instagram: “Namorar no Maranhão”, uma toada que primeiro cantou sozinho ao violão e depois acompanhado da banda. Dedicou-a a “Josias Sobrinho e Chico Saldanha, meus mestres”, que estavam presentes. Outra viria mais à frente, “composta durante a pandemia, mas também parece que foi ontem”, sobre os Lençóis Maranhenses – que ele revelou não conhecer, “ainda”, brincando com o fato de serem “muita areia para seu caminhãozinho”.

“Agalopado” (Alceu Valença), faixa que abre Espelho Cristalino (Som Livre, 1977), inaugurava um bloco de formadores de Chico César, como ele mesmo revelou. Seguiram-se “Sobradinho” (Sá e Guarabyra), cuja regravação pelo paraibano foi abertura de novela da Rede Globo, e “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho). O fio autoral foi retomado com “Palavra Mágica” e “Da Taça”, com incidental de “Lenha”, do parceiro maranhense Zeca Baleiro (com que Chico divide o álbum Ao Arrepio da Lei (Saravá/ Chita, 2024). O medley se completava com “Proibida Pra Mim” (Chorão/ Marcão/ Champignon/ Pelado), sucesso do grupo Charlie Brown Jr., também regravada por Baleiro, “Onde Estará o Meu Amor”, “Diana” (Paul Anka em versão de Fred Jorge [1928-1994]) e “Filme Triste” (John D. Loudermilk [1934-2016] em versão de Romeu Nunes), na porção jovem-guardista do espetáculo.

“Eu vou cantar uma música que eu lembro que a primeira vez que eu cantei em público foi aqui, num carnaval, em cima de um trio elétrico. Não é fácil a gente lançar uma música assim”, lembrou-se antes de cantar “Pedrada”. Como ontem, este repórter estava lá e lembra do impacto da mensagem, em pleno carnaval de 2019. Pelo meio da música mandou a palavra de ordem: “sem anistia!”.

Em meio a “Estado de Poesia” gritou “viva Celso Borges (1959-2023)!”, lembrando o parceiro que o apresentou a Zeca Baleiro. Quando cantou “Pedra de Responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) voltou a apresentar a banda, referindo-se a cada músico como uma pedra de responsa, a gíria maranhense que designa os reggaes muito bons, os prediletos. Era a noite do povo de axé, e Chico César terminou a apresentação cantando “Mamãe Oxum” à capela. O tema de domínio público, adaptado por Zeca Baleiro, foi cantado em dueto por ambos no álbum de estreia do maranhense, Por Onde Andará Stephen Fry? (MZA Music, 1997).

Chico César saudou São Luís pelos 412 anos que a cidade completará no próximo dia 8 de setembro e disse esperar estar de volta em 12 anos para esta festa. O gracejo de um artista que adora o lugar, por ele é adorado e tem vindo com frequência, para alegria de seu público fiel: de 2019 para cá, só não se apresentou em 2020 e 2021, os anos mais graves da pandemia de covid-19.

Passava um pouco de uma da manhã quando as luzes do palco se apagaram e os resistentes começaram a fazer o caminho de volta para casa, satisfeitos, mas com o gosto de quero mais por contradizer-lhes, certamente em estado de poesia.

O plural Claudio Lima é o convidado desta Quarta no Solar

[release]

O multifacetado Claudio Lima - foto: divulgação
O multifacetado Claudio Lima – foto: Cláudia Marreiros/ divulgação

Desde seu álbum de estreia, lançado em 2001, o cantor e compositor Claudio Lima constrói pontes interessantes entre a cultura popular do Maranhão e a obra de grandes nomes do jazz, da bossa nova e da música popular brasileira.

Multifacetado, além de artista da música, Cláudio Lima é também designer (ele mesmo é o autor dos projetos gráficos de seus álbuns), escritor (autor de Esplêndido – o guará que não conseguia ficar vermelho) e artista visual (atualmente com duas exposições em cartaz na Sala Sesc (Condomínio Fecomércio, Av. dos Holandeses, Jardim Renascença): “Pássaras de Upaon-Açu” e “Bicharada Nativa de Upaon-Açu”. Seu quarto álbum está em processo de produção e deve ser lançado muito em breve.

Atualmente considerado uma das grandes vozes da música brasileira em atividade, Cláudio Lima é o convidado desta quarta-feira (28) do projeto Quarta no Solar, evento já integrado ao calendário cultural da capital maranhense, que acontece semanalmente no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro). O sarau musical é capitaneado pelos cantores e compositores Aziz Jr. e Chico Nô, além do DJ Pedro Dreadlock.

Em sua apresentação, Cláudio Lima passeará por temas de nomes como Catoni (1930-1999), Cesar Teixeira, Dori Caymmi, Lupicínio Rodrigues (1914-1974) e Mercedes Sosa (1935-2009), entre outros.

O Quarta no Solar começa às 19h e o couvert artístico é colaborativo.

Em sábado intenso, Wilson Zara apresenta 33ª. edição do “Tributo a Raul Seixas”

[release]

O cantor Wilson Zara - foto: divulgação
O cantor Wilson Zara – foto: divulgação

O último dia 21 de agosto marcou os 35 anos do falecimento de Raul Seixas (1944-1989). Neste sábado (24), o cantor Wilson Zara apresenta mais uma edição do já tradicional “Tributo a Raul Seixas”, que apresenta desde 1992 – quando ainda morava em Imperatriz/MA e o show tinha por título “A hora do trem passar”.

Ouvir “Ouro de tolo” (Raul Seixas) foi marcante para Wilson Zara, que chegou a iniciar o curso de Letras e a passar em um concurso para bancário – à época o emprego dos sonhos, que abandonou para viver de música. No final da década de 1990 o artista mudou-se para São Luís, onde tornou-se um dos mais importantes nomes da noite da ilha.

O 33º. “Tributo a Raul Seixas” acontece às 21h, no Mestre Cana (Rua Portugal, 58, Praia Grande) – os ingressos custam R$ 30,00, à venda no local, na Luso Eventos – (98)991519512 – e na loja Ilha da Fantasia no instagram. O evento tem apoio de O Colibri Hotel e Colonial Comunicação Visual.

No palco, Wilson Zara (voz e violão) estará acompanhado por Marjone (bateria e vocais), Mauro Izzy (baixo), Moisés Ferreira (guitarra), Felipe Van Halen (guitarra) e Marco (teclado), e contará ainda com as participações especiais de Beto Ehong, Pedro Cordeiro, Alê Durrock e Thiago Pinheiro. A abertura fica por conta da banda Altas Doses e do DJ Cláudio.

Mas as homenagens a Raul Seixas começam antes. Na data, acontecerá a primeira passeata raulseixista em São Luís, organizada pela Sociedade Ilha da Fantasia, fundada em 2006 por Maidson Machado, Antônio Ednir, Thyago Thardelly e Muchila, todos fãs de carteirinha de Raul Seixas. A concentração acontece na Praça Nauro Machado (Praia Grande), onde Zara dará uma canja, antecipando um pouco do show, cujo repertório é formado por clássicos e lados b do repertório do cantor e compositor baiano. A passeata fará o curto percurso entre a praça e o local do show.

Também sábado, quem homenageia recebe homenagem: Wilson Zara é o convidado da Rádio das Tulhas, evento semanal que acontece de meio-dia às 18h, na Feira da Praia Grande, sob o comando dos DJs Victor Hugo e Lenda Brother.

Aos 35 anos sem ele, nunca foi tão atual o grito de “Toca Raul!”.

Joãozinho Ribeiro volta a mergulhar no universo do samba

[release]

Show no Miolo Café Bar dia 30 precede gravação de álbum dedicado ao gênero

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Em 2002 e 2003, quando percorreu 18 bairros de São Luís com o circuito Samba da Minha Terra, ficou comprovada a importância da verve sambista de Joãozinho Ribeiro, poeta e compositor versátil que se vira muito bem em outros gêneros, como também o provam centenas de composições suas, gravadas por nomes os mais diversos da música popular brasileira.

Em setembro Joãozinho Ribeiro entra em estúdio para gravar o segundo álbum de sua carreira, que já conta 45 anos, desde a estreia em um festival universitário de música em 1979. O sucessor de Milhões de Uns – Vol. 1, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte, será dedicado ao samba, com direção de Zeca Baleiro, produção de Luiz Cláudio e participações especiais de insuspeitos bambas – entre os nomes confirmados, além do próprio Zeca, estão Rita Benneditto, Chico César e Fabiana Cozza.

Como uma espécie de aquecimento para o registro do álbum, Joãozinho Ribeiro se apresenta no próximo dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau). No show, intitulado “45 Anos: Letra e Música”, o artista experimentará o repertório que pretende levar ao estúdio, acompanhado por João Eudes (violões de seis e sete cordas e direção musical), João Neto (flauta), Juca do Cavaco (cavaquinho) e Carbrasa (percussão).

No show, Joãozinho Ribeiro contará ainda com as participações especiais de Adler São Luís, Fernanda Garcia, Chico Saldanha e Neto Peperi. No repertório, clássicos como “Milhões de Uns”, “Saiba, Rapaz” e “Estrela”, para destacar alguns sambas e choros de sua lavra.

“Este show vai ser uma confraternização, um encontro com parceiros, instrumentistas e intérpretes, já pensando no que a gente vai fazer quando entrar em estúdio. Tudo está sendo pensado com muito carinho e cuidado, tanto para o palco, quando a gente vai sentir o termômetro do público, quanto para o estúdio, quando a gente vai para um registro definitivo de uma obra que eu sigo construindo, num álbum que está sendo pensado de forma equilibrada entre músicas bastante conhecidas no Maranhão, mas também apresentando inéditas”, promete Joãozinho Ribeiro.

Serviço

O quê: show “45 Anos: Letra e Música”
Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e Regional
Quando: dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h
Onde: Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quanto: R$ 25,00 (couvert artístico individual)

Duas noites sublimes em São Luís

Vanessa Ferreira (contrabaixo acústico) e Arismar do Espírito Santo (baixo elétrico) na segunda noite do Festival Plural Instrumental
Vanessa Ferreira (contrabaixo acústico) e Arismar do Espírito Santo (baixo elétrico) na segunda noite do Festival Plural Instrumental
Amilton Godoy (piano) e Sidmar Vieira (trompete)
Amilton Godoy (piano) e Sidmar Vieira (trompete)

Arismar do Espírito Santo subiu ao palco muito à vontade, trajando um macacão jeans com uma camisa de estampa florida e sandálias havaianas. O despojamento no vestir traduziu-se na sonoridade apresentada por ele, com vocais a la Hermeto Pascoal, entre seu baixo sozinho, em duo com Vanessa Ferreira, e os escudeiros Eduardo Farias (piano) e Cassius Theperson (bateria)..

Era a segunda noite do Festival Plural Instrumental em São Luís, no palco do Teatro João do Vale. Extremamente tímida para falar – a timidez inversamente proporcional ao talento da instrumentista ao contrabaixo – Vanessa Ferreira conseguiu agradecer a oportunidade de estar ali, diante de um dos monumentos vivos do baixo e da música instrumental brasileira. É tocando com os grandes que você se torna um, ela demonstrou tocando, mais do que dizendo algo parecido.

A música de Arismar tem sabor, como quando ele contou a história de “Pitaia”, composta após a inspiração vir de um raio de sol, que atravessava a lona furada de uma barraca na feira, iluminando a fruta. Quem esteve no teatro lambuzou-se de som, um deleite.

No segundo show da noite outro encontro de gerações: Amilton Godoy, fundador do igualmente lendário Zimbo Trio, recebeu Sidmar Vieira, jovem trompetista, já senhor de seu instrumento, que não titubeou ao receber o convite para um duo de trompete e piano com o mestre.

Não esconderam a predileção por Johnny Alf (1929-2010), passeando também por repertório autoral, de Godoy, de quem Sidmar lembrou-se de ter se aproximado a partir de um concerto de piano e orquestra apresentado pelo pianista junto a uma orquestra jovem integrada pelo trompetista.

No preâmbulo de “Canção do Sal” (Milton Nascimento e Fernando Brant [1946-2015]), Godoy abriu um parêntese que fez a plateia gargalhar: “tudo que eu conto já faz muito tempo”, disse, para lembrar que fez o arranjo da música ali pelo fim dos anos 1960, quando Milton ainda não era conhecido e estava atrás de intérpretes para gravar suas músicas. “Nara Leão (1942-1989) não demonstrou interesse, Elis gravou e vocês sabem o que aconteceu depois com Milton Nascimento”, resumiu, antes de tocarem juntos o mesmo arranjo gravado à época pela gaúcha.

Após duas noites memoráveis em São Luís o Festival Plural Instrumental percorre ainda Parauapebas/PA, Rio de Janeiro/RJ e Belo Horizonte/MG. A programação completa pode ser acessada no perfil do festival no instagram.

Grandes encontros no Festival Plural Instrumental, ontem, em São Luís

Saiba como foi a primeira noite; hoje tem mais, antes do evento seguir para Parauapebas/PA, Rio de Janeiro/RJ e Belo Horizonte/MG

TEXTO E FOTOS: ZEMA RIBEIRO

Com show inédito, Bebê Kramer e Lívia Mattos abriram o Festival Plural Instrumental, ontem (17)
Com show inédito, Bebê Kramer e Lívia Mattos abriram o Festival Plural Instrumental, ontem (17)

Os acordeonistas Bebê Kramer e Lívia Mattos inauguraram a programação musical do Festival Plural Instrumental ontem (17), no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande), em São Luís. Era uma noite de estreias, como ela salientou: do festival, do encontro dos dois instrumentistas no palco e de sua sanfona nova, “Cesária, la negra”, como batizou.

Esbanjando talento e versatilidade, gaúcho e baiana trocaram elogios mútuos – merecidos –, num repertório que ia do autoral a influências, notadamente as de Hermeto Pascoal e do argentino Astor Piazzolla (1921-1992). Muito simpáticos, cumprimentaram a “família de sanfoneiros” presentes à plateia: Rui Mário e Andrezinho, craques maranhenses do fole.

Bebê Kramer falou de uma inusitada parceria com Moacyr Luz, a quem reputou como um dos maiores compositores do Brasil. “Eu gravei um vídeo com essa melodia, na época da pandemia e uma madrugada postei em uma rede social e o Moacyr fez a letra, mas eu não vou cantar hoje. E ele colocou um título que eu não colocaria, mas ele colocou: “O sanfoneiro é bom””, disse, para deleite da plateia.

Entre os elogios que fez à colega de palco e instrumento, disse que ela era uma força da natureza e que já a viu tocando sanfona pilotando um monociclo e descendo por uma corda a muitos metros do chão. Ontem não teve nada disso, mas teve referências ao axé baiano.

Antes de tocar “Tuk Tuk”, um dos pontos altos do show, ela contou a história da música. “Eu estava no Cairo, no Egito, uma cidade de um trânsito muito louco” – o título se refere àquelas espécies de motocicletas cobertas –, “e tentava explicar para uma amiga, parceira, a relação da Bahia com o Egito”. E cantou um trechinho de “Faraó” (Luciano Gomes), sucesso de Margareth Menezes. O público ludovicense entendeu de cara, ao contrário da egípcia. Ela foi adiante e mandou ver outro trechinho, à capela, desta vez do É O Tchan: “essa é a mistura do Brasil com o Egito”. “Tuk Tuk” reflete sonoramente a loucura do trânsito do Cairo. “Não tentem fazer isto em casa”, advertiu Bebê, antes da execução.

Dois talentos ao mesmo instrumento
Dois talentos ao mesmo instrumento

Por falar em referências, Lívia estreou também a inédita “Forroguti”, em homenagem ao sanfoneiro Toninho Ferragutti, outra referência. E outro destaque da apresentação de ontem foi quando ela e Bebê Kramer abraçaram a mesma sanfona e tocaram um único instrumento ao mesmo tempo. Era “Vou Lá”, em que ela abriu uma exceção ao instrumental que dá nome ao festival e cantou a letra, convidando a plateia a perder a timidez e cantar o “uh, uh” de seu refrão.

Maurício Einhorn e Gabriel Grossi
Maurício Einhorn e Gabriel Grossi

O segundo show da noite marcava o encontro dos gaitistas Gabriel Grossi e Maurício Einhorn, também acompanhados, como no primeiro, por Eduardo Farias (piano, teclado e efeitos) e Cassius Theperson (bateria). Quando a dupla foi anunciada, Grossi, idealizador do festival, subiu ao palco sozinho – Einhorn subiria em sequência, após alguns números do discípulo. Ele abriu o show com “Samba pro Toots”, homenagem ao belga Toots Thielemans (1922-2016), e “Acalanto pro Einhorn”, ambas de sua autoria, revelando seus dois pilares no instrumento.

Quando o homenageado subiu ao palco atacou uma sequência de Tom Jobim (1927-1994), com “Corcovado” e “Garota de Ipanema” (parceria com Vinícius de Moraes [1913-1980]) – “que eu dedico também às garotas de São Luís”, gracejou. A cada música tocada, fazia questão de indicar os compositores e, quando possível, o ano de seu lançamento. “Para lembrar Ary Barroso (1903-1964) e Lamartine Babo (1904-1963), “No Rancho Fundo”. Essa é de 1931. Eu ia nascer no ano seguinte. Estou ficando velho”, disse. Uma mulher gritou da plateia: “lindo!”.

“Dizem que eu sou o rei dos detalhes. Mas eu não acho justo a gente omitir os compositores”, afirmou. Tocaram “Minha Saudade” (João Donato [1934-2023]/ João Gilberto [1931-2019]), em homenagem a João Donato, que estaria completando 90 anos ontem. Tocaram ainda “Asa Branca” (Luiz Gonzaga [1912-1989]/ Humberto Teixeira [1915-1979]) e “Carinhoso” (Pixinguinha [1897-1973]/ João de Barro [1907-2006]). E emendou outra história (com uma pequena variação na metragem da distância, quando contou-a em entrevista a este repórter no Balaio Cultural de ontem, na Rádio Timbira): “por pouco eu não gravei com Pixinguinha; eu ia gravar, fiquei a cinco metros dele, mas faltou energia na Rádio MEC e dispensaram a gente. Eu não dormi àquela noite”, lamentou, ele que tocou com todo mundo.

“Vocês querem mais uma?”, perguntou Grossi, ao fim do show. Ao sim da plateia, respondeu: “a gente vai pular aquela parte daquele charme de sair e voltar e faz logo o bis”. Voltou a elogiar Einhorn, lembrou o público o fato de ele ser um dos inventores do samba jazz, muito próximo de grandes nomes da bossa nova, e anunciou “Batida Diferente” (Durval Ferreira [1935-2007]/ Maurício Einhorn), com que fecharam o show.

Quando o quarteto foi se abraçar e fazer o gesto de agradecimento ao público presente, Einhorn disse: “é um prazer estar em São Luís pela primeira vez; muito obrigado pelo carinho e presença de vocês. Que venham mais algumas oportunidades antes de eu chegar aos cem, porque aos cem eu estarei “gagaita””.

Serviço – Hoje (18) a programação do Festival Plural Instrumental começa às 18h, com o encontro dos baixistas Arismar do Espírito Santo e Vanessa Ferreira; às 19h30 é a vez do trompetista Sidmar Vieira e o pianista Amilton Godoy, lenda viva, fundador do Zimbo Trio. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo. A programação completa do festival pode ser acessada no instagram.

Futuro do Karatê maranhense traz duas medalhas direto do Japão

O pequeno João Guilherme Maciel, de 7 anos, trouxe duas medalhas do Japão para o Maranhão - foto: divulgação
O pequeno João Guilherme Maciel, de 7 anos, trouxe duas medalhas do Japão para o Maranhão – foto: divulgação

O Maranhão esteve presente na sexta edição do Campeonato Mundial de Karatê Shotokan, que aconteceu entre os dias 26 e 28 de julho em Tóquio, no Japão. A competição foi organizada pela Japan Karate Shoto Federation (JKS) e contou com a presença dos melhores atletas do mundo em suas respectivas categorias.

João Guilherme Maciel foi um dos representantes do Maranhão na Seleção Brasileira de Karatê. Ao todo, oito atletas maranhenses integraram a Seleção Brasileira, entre eles o pequeno medalhista, de apenas 7 anos.

Seleção brasileira no Japão tinha oito maranhenses - foto: divulgação
Seleção brasileira no Japão tinha oito maranhenses – foto: divulgação

Em clima de Olimpíadas, João Guilherme, nosso atleta mirim, também conquistou as suas primeiras medalhas de ouro e bronze em mundiais. O futuro do esporte maranhense está garantido com esse pequeno, que já é um gigante nos tatames.

João Guilherme conquistou o Campeonato Mundial de Karatê, no Japão, ficando em primeiro lugar no Kata em equipe e em terceiro no Kumitê em equipe, sendo um dos destaques da competição.

A jornada para chegar a essas importantes conquistas no Japão foi intensa, com muitos treinamentos diários, busca de apoios e patrocínios. Para alcançar os pódios, João Guilherme enfrentou atletas de diversos países, incluindo China e Portugal, além dos donos da casa. Com muita técnica e determinação, superou adversários e sagrou-se medalhista no berço do karatê.

João Guilherme expressa sua gratidão a todos que acreditam em sua trajetória no esporte, que está apenas no início, mas já se demonstra promissora. O atleta conta com o patrocínio do Governo do Maranhão, através da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Sedel) e do Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte. Além do apoio e dos ensinamentos do seu Sensei Marco Aurélio Mota e do seu Dojô Seiryūkan – Karatê Shotokan, local onde ele realiza seus treinos nas artes marciais japonesas.

Aos poucos, Jurema vai revelando “Florestas”, seu novo álbum

[release]

A cantora e compositora Jurema - foto: Evandro Teixeira/divulgação
A cantora e compositora Jurema – foto: Evandro Teixeira/divulgação

Com três singles lançados, quarto álbum da cantora e compositora baiana, previsto para agosto de 2025, reflete temas atuais e entrecruza áreas de interesse e formação da artista

POR ZEMA RIBEIRO*

A cantora e compositora baiana Jurema está trabalhando em um novo álbum, provisoriamente intitulado “Florestas”, cujas faixas serão conhecidas mensalmente até agosto do ano que vem.

O trabalho entrecruza diversas áreas de interesse e formação da artista, também historiadora e advogada, com atuação prioritária em causas ambientais, mas está longe de ser monotemático ou panfletário.

O primeiro single, lançado ainda no ano passado, é “Somos Onça”, poema de Micheliny Verunschk musicado por Chico César – o contato entre ambos, amigos de Jurema, se deu por inciativa da artista.

A ele seguiram-se os recém-lançados “Lamento Sincero”, do chileno Jorge Solovera, cantada em espanhol em dueto com ele, que também produziu a faixa, e “Americano Nagô”, de Diego Moraes, produzida por Léo Mendes, que Jurema interpreta em duo com Marcos Vaz, parceiro desde “Batuque de Canoa” (2002), seu álbum de estreia, em que é acompanhada pela banda Zero à Esquina, com que começou a trilhar os caminhos da música quando ainda vivia em Salvador – a artista está radicada em São Paulo atualmente.

"Lamento Sincero" - single/ capa/ foto: Jorge Bispo/ reprodução
“Lamento Sincero” – single/ capa/ foto: Jorge Bispo/ reprodução

“Somos Onça” teve produção de Érico Theobaldo e cordas de Webster Santos. Em “Lamento Sincero” e “Americano Nagô” Jorge Solovera e Marcos Vaz gravaram todos os instrumentos, respectivamente.

Vai se desenhando um álbum bonito, diverso e sincero refletindo questões urgentes de nosso tempo. “Somos Onça” transita entre a Amazônia, o Pantanal e sua fauna em espertos jogos de palavras. Radicado na Bahia há mais de 20 anos, a canção de Jorge Solovera reflete sua relação com a morte: o artista nasceu sob a égide da ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006); e “Americano Nagô” joga luz sobre a bipolaridade dos séculos XX e XXI, trazendo a via do diálogo e da diplomacia no lugar da guerra.

O próximo single de “Florestas” a chegar às plataformas digitais é a releitura de Jurema para “Saga da Amazônia” (Vital Farias), em setembro.

*ZEMA RIBEIRO é jornalista. Produz e apresenta o programa Balaio Cultural – em que já entrevistou Jurema –, aos sábados, das 14h às 16h, na Rádio Timbira FM (95,5). Escreve no Farofafá.

*

Ouça os três singles:

Crônica de uma reinauguração

João Neto (flauta), Zeca do Cavaco, Gabriela Flor (pandeiro) e João Eudes (violão sete cordas): o Choro da Tralha da ocasião - foto: Otávio Costa
João Neto (flauta), Zeca do Cavaco, Gabriela Flor (pandeiro) e João Eudes (violão sete cordas): o Choro da Tralha da ocasião – foto: Otávio Costa
O dj Joaquim Zion - foto: Zema Ribeiro
O dj Joaquim Zion – foto: Zema Ribeiro
Não é todo dia que a gente é fotografado entre dois Otávios, dois irmãos: o blogueiro entre Costa e Rodrigues - foto: Elizeu Cardoso
Não é todo dia que a gente é fotografado entre dois Otávios, dois irmãos: o blogueiro entre Costa e Rodrigues – foto: Elizeu Cardoso
Papo de radialista: Otávio Rodrigues e Ricarte Almeida Santos, dois dos professores que tive fora da sala de aula - foto: Otávio Costa
Papo de radialista: Otávio Rodrigues e Ricarte Almeida Santos, dois dos professores que tive fora da sala de aula – foto: Zema Ribeiro
Papo de compositor: Nosly e Elizeu Cardoso - foto: Zema Ribeiro
Papo de compositor: Nosly e Elizeu Cardoso – foto: Zema Ribeiro
Papo de compositor: Elizeu Cardoso e Luciana Simões - foto: Zema Ribeiro
Papo de compositor: Elizeu Cardoso e Luciana Simões – foto: Zema Ribeiro

Quando a Feira da Tralha foi inaugurada no ponto em que hoje funciona o Butiquim do Carlos, no Edifício Colonial (Rua Godofredo Viana, Centro), saudei a abertura do sebo em um texto que trazia alvíssaras no título.

Moema de Castro Alvim (1942-2014), proprietária do Papiros do Egito, primeiro sebo que frequentei na vida, ainda criança, já era falecida, mas lembro sempre da inequação com que ela cantou a pedra: como é que enquanto se abrem novas faculdades, livrarias se fecham? A conta realmente não batia. Não bate.

Rato de sebo é expressão que bem me classifica. Depois de Moema não parei mais: Riba do Poeme-se, Chico Discos, Educare, Sebo nas Canelas, Bonanza e Ruy até a Feira da Tralha, são endereços que frequento/ei com certa assiduidade e a inauguração ou reinauguração de um espaço desses sempre será motivo de minha atenção e entusiasmo.

À época do “x com o Teatro Arthur Azevedo” (como eu ensinava o endereço da Feira da Tralha aos neófitos) a Tralha (como carinhosamente os amigos abreviam o nome do estabelecimento) acabou virando um point para além do garimpo de preciosidades que nos leva aos sebos da vida. Logo Riba e Marly trocaram a cerveja para consumo próprio no fim do expediente, em uma geladeira pequena, por cerveja para os fregueses que também queriam aplacar o calor e molhar a palavra quando a tarde caía entre o Colonial e o Mestrado em Direito.

Abraços, afetos, sorrisos, boa prosa e boa música (inclusive a que Gildomar Marinho dedicou-lhe, gravada com a adesão de Rodger Rogério), sem esquecer da matéria principal do lugar, a coisa cresceu e logo a Tralha alugou um segundo ponto e o sebo incorporou a dimensão do bar ao negócio. Preenchia uma lacuna da qual sempre me ressenti: não é possível que as pessoas saindo de um espetáculo no Arthur Azevedo precisem ir para longe para aquela resenha (não no sentido surrado hoje atribuído ao verbete). Com a Tralha era possível o after a alguns passos, comentando o show, a peça e o que mais desse na telha.

Mas não parou por aí: Gabriela Flor (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho), João Eudes (violão sete cordas), João Neto (flauta) e Ronaldo Rodrigues (bandolim) começaram a fazer rodas de choro na Godofredo Viana, animando os domingos. Logo ganharam o apropriado nome de Choro da Tralha e o grupo ganhou vida própria e segue junto até hoje (Temporariamente sem Ronaldo, que foi cursar doutorado em Pernambuco). Ensaios de blocos de carnaval, lançamentos de livros (alô, Josoaldo Lima Rêgo!) e até mesmo este repórter, arremedo de DJ, que animou algumas noites e ali conheceu a esposa, com a ajuda de Marly, que não a conhecia: “não sei, cliente nova”, respondeu quando perguntei quem era. Mas depois me ajudou a achar o caminho das pedras. Ou melhor: dos paralelepípedos.

Certa vez, Otávio Rodrigues, o Doctor Reggae, ainda morando em São Paulo, veio à ilha gravar sua participação em algum projeto e nos encontramos por lá. Tião Carvalho, de passagem pela ilha, se juntou a nós, “papo e som dentro da noite”, ave, Belchior (1946-2017)!, e esta é também uma entre tantas memórias do lugar.

Quando a Feira da Tralha foi inaugurada no antigo endereço, um erro na confecção de uma faixa acabou se tornando o slogan do lugar: “ambiente livre de bolsomilho” trazia um neologismo que avisava do antifascismo dos proprietários e da preferência por cervejas puro malte. Mas a simpatia de Marly e do comunista Ribamarx (reparem no apelido) é tanta que até mesmo bolsonaristas conseguiam se infiltrar: certa vez, num episódio conhecido como Cavalo de Tróia, com direito a meme, Elizeu Cardoso pagou o pato de ter que aturar um em sua mesa, à certa altura de uma farra movimentada, a única ainda com um lugar desocupado.

Otávio Costa, ao ver o novo slogan em um banner, protestou, de pilhéria: “não gostei! Como assim, nada mais?”, disse, referindo-se a frase sob o nome do estabelecimento: “amigos, livros, discos e nada mais”. Ponderei que era apenas um trecho de “Casa no campo”, de Tavito e Zé Rodrix, e ele riu, conformado, como concordando que fosse qual fosse o slogan, não diminuiria a contenteza geral pela reinauguração do espaço.

Veio a pandemia de covid-19, cujos abalos em quaisquer aspectos todos lembramos, entre isolamento social, mortes e o negacionismo do desgoverno então vigente. Sem ter como pagar o aluguel dos pontos, a Tralha fechou e passou a operar online, vendendo principalmente elepês através de redes sociais e aplicativos de mensagens.

O negócio ia dando certo mas faltava calor humano. Os órfãos da Tralha, em cuja filiação me incluo, sempre reclamavam a volta do espaço físico, agregando sebo e bar. Antes à tarde do que nunca, como diria o conhecido reclame de motel.

E eis que sábado passado, não por acaso um dia 13, a Tralha reabriu. Está funcionando em um simpático ponto na Escadaria da Rua do Giz (o antigo Entrenós, ao lado do Restaurante do Senac), na Praia Grande. O Choro da Tralha, com inspiradas canjas de Nosly (que acertadamente incluiu “Pedrada”, de Chico César, em seu repertório) e Zeca do Cavaco (que quando eu cheguei me disse que já tinha cantado mas que ia voltar e cantar algo que eu gostava e mandou “Flanelinha de avião”, de Cesar Teixeira), e os DJs Seba e Joaquim Zion garantiram a trilha perfeita, à altura que uma reinauguração desse porte pedia.

Reencontrei muita gente querida: o ex-craque da seleção de Santa Tereza do Paruá Ricarte Almeida Santos e Danielle Assunção, Luciana Simões (que saiu com um raro Nonato e Seu Conjunto nas mãos), Chico Neis (que arrematou um Milton Carlos [1954-1976] antes de mim), Eduardo Júlio, Samme Sraya, Rosana, Rosinha, Adler São Luís e os Otávios, Rodrigues e Costa; com o último voltei a falar na Discoteca do Veterinário, uma ideia de programa de rádio que alia sua paixão e profissão, mas nunca deixou o campo das ideias. Até aqui.

Dividir a mesa com Elizeu é garantia de boas risadas e eu já fui rindo desde o Uber em que ele me apanhou em casa.

Seria praticamente impossível escrever um texto jornalístico sobre esta fênix, afinal de contas o repórter estava lá não como tal, mas como amigo do estabelecimento e dos proprietários e assíduo frequentador. Quero apenas registrar a alegria de poder voltar a frequentar a Feira da Tralha e desejar sucesso e vida longa. Um brinde! E mais uma, por favor!

Single duplo celebra os 79 anos de Chico Saldanha

[release]

O compositor Chico Saldanha - foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação

Com quatro álbuns gravados – Chico Saldanha (1988), Celebração (1998), Emaranhado (2007) e Plano B (2017) –, o compositor Chico Saldanha costuma brincar acerca do intervalo entre seus lançamentos. “A imperfeição é mais fácil de tolerar em doses pequenas”, diz, citando a poeta polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012).

Autor de clássicos da música popular brasileira, entre os quais “Itamirim” e “Linha Puída”, o rosariense é considerado entre seus pares como a memória viva da música popular brasileira produzida no Maranhão: foi o responsável por fazer chegar aos ouvidos de Papete o repertório registrado pelo artista em Bandeira de Aço (Discos Marcus Pereira, 1978); integrou a primeira formação do Regional Tira-Teima, tendo tocado violão na gravação do antológico Lances de Agora (Discos Marcus Pereira, 1978), de Chico Maranhão; em 1985, com os parceiros Giordano Mochel e Ubiratan Sousa, produziu o compacto Sotaques, em que canta “Fuzileiro de Novo”, com que comemorava a volta dos Fuzileiros da Fuzarca naquele ano; e entre outros feitos produziu, com os mesmos parceiros, o compacto Velhos Moleques (1986), que reuniu Antonio Vieira (1920-2009), Agostinho Reis (s/d), Cristóvão Alô Brasil (1922-1998) e Lopes Bogéa (1926-2004). Para se ter uma ideia, o primeiro só viria a estrear em disco solo em 2001, com O Samba é Bom, produzido por Zeca Baleiro.

Só estas referências iniciais já garantiriam a Saldanha um lugar no panteão sagrado da MPB. Mas o artista, que completa 79 anos hoje (11), segue produzindo, mantendo a qualidade característica e, sorte a nossa, tem disponibilizado alguns singles, em sua própria voz ou de intérpretes de mútua admiração. São os casos recentes de “Dolores” – uma singela homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista dos Cranberries, de que tenho a honra de ser o parceiro letrista –, interpretada por ele em um inspirado dueto com a cantora Regiane Araújo; “Dom Quixote”, parceria com Ivan Sarney, repescada do repertório setentista dos festivais de música de que participou, que finalmente ganhou o mundo na voz de Lucas Sobrinho; e “Arco-Íris”, toada solitária de rara beleza, interpretada por Elizeu Cardoso, cuja honra de cantá-la ele considera um verdadeiro presente.

Marcando seu aniversário de 79 anos, para não fugir do clichê-reclame de loja popular: o artista aniversaria mas quem ganha o presente somos nós, ouvintes ávidos e atentos, sedentos desta rara beleza que só Chico Saldanha pode nos proporcionar: ele lança hoje single duplo com as faixas “Passou, Pintou e Bordou” e uma releitura da citada “Arco-Íris”.

A música é o pote de ouro de Chico Saldanha, longe disto ser uma metáfora financeira: ambas as letras citam arcos-íris. A primeira tem construção sui generis, transitando entre bossa nova, blues e samba e fechando com a sutil citação do bolero “Alguém me Disse” (Jair Amorim [1915-1993] e Evaldo Gouveia [1928-2020]), sucesso de Anísio Silva (1920-1989).

Já a releitura de “Arco-Íris” pelo autor ganha ares de fado, no diálogo entre o bumba meu boi (originalmente trata-se de uma toada) e a influência moura, que levou o produtor Luiz Cláudio a explorar os sofisticados vibratos das vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale – com quem canta em dueto –, como o sotaque de orquestra, natural de Rosário, feito o compositor, a dar as mãos ao fado português, encontro este que se reflete no arranjo da música.

“Passou, Pintou e Bordou” acaba sendo também uma homenagem a Zezé Alves (1955-2024), pois é um dos últimos registros do músico em estúdio. Além de sua flauta, a ficha técnica da faixa se completa com Fernando Hell (bateria), Mauro Travincas (baixo), Daniel Nobre (guitarra, violão e arranjo) e Luiz Cláudio (percussão e arranjo).

Já em “Arco-Íris” as vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale estão emolduradas por Arlindo Pipiu (violão e baixo elétrico), Emílio Furtado (baixo acústico), Robertinho Chinês (cavaquinho), Jovan Lopes da Silva (trombone), Natan Jefferson Moreira Silva dos Santos (trompete), Luiz Cláudio (percussão e arranjos) e Anna Cláudia (vocalizes).

Pela média destacada no início do texto, um próximo álbum de Chico Saldanha ainda demoraria uns três anos. Ainda é cedo para dizer se estes singles são um aperitivo. Compositor de destinos, como diria um outro colega seu de ofício, senhor da razão, o tempo dirá.

*

Ouça “Arco-Íris” e “Passou, Pintou e Bordou”:

Festival Gestores em Movimento une música popular e de concerto neste fim de semana em São Luís

Apresentação do violonista Augusto Nassa no programa Pátio Aberto, do Centro Cultural Vale Maranhão, em 2020

Todo mundo já ouviu falar ou já pode testemunhar a riqueza, a força e a diversidade da cultura popular do Maranhão. Estamos em junho, mês em que isto pode ser demonstrado ainda mais intensamente na prática: grupos de bumba meu boi, tambor de crioula e cacuriá, entre muitas outras manifestações, ocupam os arraiais da capital e interior.

O diálogo entre estes e outros ritmos e a música de concerto é a matéria-prima do Festival Gestores em Movimento, marcando o encerramento do programa homônimo, que capacitou 35 gestores e produtores culturais ao longo de seis dias de imersão ao longo da etapa ludovicense do citado programa.

Os cursistas aprofundaram temas como a visão geral do funcionamento de orquestras e salas de concerto, a formatação de projetos para leis de incentivo, elaboração de orçamentos públicos e privados, contratos e legislações sobre estes, além de planejamento e execução das etapas de produção, noções básicas de economia da cultura e rotinas de palco, como iluminação e sonorização, entre outros.

Simbolicamente chamado de Sala Guarnicê, o evento acontece de hoje (7) a domingo (9), no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy, Rua do Egito, Centro), com entrada franca, sempre às 19h, com patrocínio do Instituto Cultural Vale através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

“Clássicos do Maranhão” é o título do concerto de abertura do evento, hoje (7), apresentado pelo violonista Augusto Nassa. Amanhã (8) é a vez do Instrumental Pixinguinha, o primeiro grupo de choro do Maranhão a registrar seu trabalho autoral em disco – o cd Choros Maranhenses, estreia do grupo, foi lançado em 2005. O choro foi recentemente declarado patrimônio cultural imaterial brasileiro. Domingo (9), no encerramento da programação, se apresentam a soprano Rose Nogueira e a pianista Ângela Marques.

Rodeado de amizades, Elizeu Cardoso celebra hoje 30 anos de ilha

divulgação
divulgação

Elizeu Cardoso é engraçado. Quem acompanha suas postagens nas redes sociais tem uma pequena amostra de sua capacidade de rir, às vezes de si mesmo, e de fazer rir. É contagiante. Mas lê-lo nas telas não chega nem perto de privar de sua amizade e ouvir seus causos diretamente dele.

Posso dizer que tenho o privilégio de sua amizade e mais – não é à toa que ele chama a minha mãe também de mãe, testemunha de tantas rodas de prosa, violão e conversa fiada regada pelas delícias que ela prepara e cerveja gelada.

Cantor, compositor, escritor, professor, webradialista e sei lá quantas outras credenciais lhe assentam feito carapuça, Elizeu Cardoso completa, neste 2024, 30 anos de ilha, desde que chegou, menino vindo de Pinheiro, o violão debaixo do braço, a passagem por alguns festivais onde começou a bordar sua história, o estudo de Geografia na Universidade Federal do Maranhão, orgulho de pai, mãe e incontáveis irmãos.

Como é de seu feitio, a Festança (certamente mistura de festa e sustança) com que celebra a efeméride acontece hoje (24), a partir das 19h30, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, 100, Calhau), reunindo uma constelação de craques da música popular brasileira produzida no Maranhão, pequena parte de um círculo de amizades que Elizeu Cardoso vem amealhando com seu talento, simpatia e reciprocidade.

Elizeu Cardoso (voz e violão) estará acompanhado por João Simas (violão e guitarra) e Dark Brandão (bateria e percussão). A divulgação do show anuncia as participações especiais de Aziz Jr., Chico Nô, Chico Saldanha (autor da toada “Arco-Íris”, single mais recente do pinheirense), Daffé, Helyne, Josias Sobrinho, Klícia, Santacruz, Tiago Máci e Tutuca Viana, mas sua alma (negra) agregadora certamente fará chegar gente que não está no convite.

Citei várias credenciais de Elizeu Cardoso e afirmo: esbanja talento em tudo o que faz por não fazer nada de qualquer jeito. A Festança de hoje poderia ser só um encontro de amigos em um bar para tocar, beber e trocar abraços – e em certa medida é. Mas acompanho os bastidores há pelo menos um mês, sua preocupação com cada detalhe, confirma quem vai, chama fotógrafo, isso, aquilo e aquilo outro. Ele é puro capricho e zelo.

Eu poderia passar um bom tempo enaltecendo as qualidades de Elizeu Cardoso – e são muitas. Já escrevi aqui e acolá sobre sua literatura. Mas quero ater-me à música, esta faceta que ele escolheu para celebrar suas três décadas de ilha – “do Boqueirão pra lá tudo é diferente”, costuma repetir.

Quem primeiro me chamou a atenção para a qualidade de suas composições foi o amigo e parceiro comum Gildomar Marinho. Antes de conhecer a figura, conheci a obra e fui tomado por sua beleza, por uma construção que alinha as ancestralidades africanas impregnadas em nossa formação sociocultural – exacerbada em Elizeu –, indo de temas românticos, homenagem à cidade natal até questões sociais e geopolíticas.

Um artista raro, de talento nato, que tem muito a nos oferecer, em uma época em que carecemos tanto de beleza e delicadeza. Para quem porventura ainda não conhece, a Festança de hoje é um bom começo.