Emaranhando em Fortaleza

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Caravana com 11 artistas maranhenses participa da Virada Cultural no CCBNB na capital cearense

Invariavelmente apontado como um dos estados de maior riqueza e diversidade cultural do país, o Maranhão terá uma caravana na Virada Cultural promovida pelo Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza/CE, no próximo dia 8 de dezembro. A apresentação acontece às 19h, na sede do CCBNB, com entrada franca.

Camila Reis, Dicy, Elizeu Cardoso, Klícia, Lena Garcia, Regiane Araújo, Santacruz, Wilson Zara e Zeca Tocantins, acompanhados por Isaías Alves (bateria) e João Simas (violão, guitarra e direção musical), além do baixista cearense Lucas Arruda, irão se apresentar no Palco Papete, montado no CCBNB, cujo nome homenageia o cantor, compositor e percussionista José Ribamar Viana (1947-2016), um dos mais destacados artistas da música maranhense em todos os tempos.

Os 11 artistas, um time de craques, selecionados pela curadoria do evento representam diversos segmentos da música popular brasileira produzida no Maranhão. “Levamos em conta, além da qualidade artística, obviamente, questões de representatividade: há artistas da capital e do interior, homens e mulheres, negros, artistas consagrados e revelações em seus modos diversos de fazer música”, afirma Gildomar Marinho, gerente do CCBNB.

O repertório da apresentação passeará por temas autorais e clássicos de compositores maranhenses, revelando um amplo leque tanto em se tratando de estilos quanto de tempo, abordando clássicos que vão de João do Vale (1934-1996), considerado o maranhense do século XX, a Josias Sobrinho – um dos compositores gravados por Papete em “Bandeira de Aço” (Discos Marcus Pereira, 1978), considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão –, que completou ano passado 50 anos de carreira.

“Emaranhando em Fortaleza”, o título do espetáculo, brinca com um verso de “Devoluto”, poema de Sérgio Natureza musicado por Kléber Albuquerque gravado por este com o homenageado Celso Borges (1959-2023) em seu livro-disco “Música” (2006). À época, o poeta morava em São Paulo e um dos versos do poema diz “emaranhando em Sampa” – a escolha é também uma homenagem dos artistas ao poeta, cuja obra também inclui letras de música.

Lourival Tavares apresenta “Canto Encanto – A noite dos menestréis” no Bar do Léo

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Marcos Lussaray e Lourival Tavares em show no Teatro da Cidade (2014). Foto: Zema Ribeiro/ Divulgação
Marcos Lussaray e Lourival Tavares em show no Teatro da Cidade (2014). Foto: Zema Ribeiro/ Divulgação

Artista será homenageado pela Festa da Música do Maranhão; no show, Lourival Tavares será acompanhado por Marcos Lussaray (violão e guitarra) e terá as participações especiais de Erasmo Dibell, Gildomar Marinho, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, Tutuca Viana e Wilson Zara

O cantor e compositor Lourival Tavares, maranhense de Pio XII, hoje radicado em São Paulo, apresenta no próximo dia 18 de novembro (sábado), às 20h, no Bar do Léo, o show “Canto Encanto – A noite dos menestréis”.

Com entrada franca, na apresentação Lourival Tavares estará acompanhado por Marcos Lussaray (violão e guitarra) e contará com as participações especiais de Erasmo Dibell, Gildomar Marinho, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, Tutuca Viana e Wilson Zara.

Lourival Tavares começou a cantar em programas de calouros no início da década de 1970. Sua música é fruto da influência de ritmos da cultura popular de seu estado natal, das canções que se ouviam no rádio à época – um vasto cardápio que inclui de Luiz Gonzaga a João do Vale, passando por Silvio Caldas, Jackson do Pandeiro, Gilberto Gil, Caetano Veloso e João Bosco, além dos poetas Catulo da Paixão Cearense e Patativa do Assaré.

“Canto Encanto – A noite dos menestréis”, o show, aproveita a passagem de Lourival Tavares pelo Maranhão: no próximo dia 16, antevéspera da apresentação, ele receberá o Prêmio Papete, durante a Festa da Música do Maranhão, que reconhece o talento e a importância de diversas personalidades para a música produzida por maranhenses. O evento chega este ano à sua sexta edição.

Lourival Tavares tem diversos álbuns gravados, entre os quais se destaca “No batuque do coração” (CPC-Umes, 2004), cujo repertório inclui músicas de sua lavra, como “Enluarado”, “Procissão das formigas”, “Solidão das lamparinas” e “Canto razão”, além de “Velha calça de xadrez” (parceria com Josias Sobrinho e Éden Bentes), “Matadouro” (com Celso Borges), e releituras para “Ana e a lua” (Betto Pereira) e “Pequeno concerto que virou canção” (Geraldo Vandré).

O reencontro de Lourival Tavares com seus convidados e com o público ludovicense promete ser uma noite de festa, com um passeio pelas diversas fases e álbuns de sua carreira, bem como pelas trajetórias de Erasmo Dibell, Gildomar Marinho, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Habibe, Tutuca Viana e Wilson Zara, participações especiais que abrilhantarão o espetáculo.

Serviço

O quê: show “Canto Encanto – A noite dos menestréis”
Quem: o cantor e compositor Lourival Tavares, acompanhado por Marcos Lussaray (violão e guitarra) e as participações especiais de Erasmo Dibell, Gildomar Marinho, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Habibe, Tutuca Viana e Wilson Zara.
Quando: dia 18 de novembro (sábado), às 20h
Onde: Bar do Léo (Hortomercado do Vinhais)
Quanto: grátis

Num intervalo do último ensaio

Sábado passado (27) o Reviver Hostel (Rua da Palma, Praia Grande) foi palco do show de lançamento de “O Homem Que Virou Circo” (2023), novo álbum do cantor e compositor Marcos Magah, produzido pelo conterrâneo Zeca Baleiro.

O trabalho encerra uma trilogia, iniciada com o álbum de estreia “Z de Vingança” (2012) e continuada com “O Inventário dos Mortos (Ou Zebra Circular”) (2015). “O Homem Que Virou Circo” conta com participações especiais de Odair José (em “Estação Sem Fim”) e Bárbara Eugênia (em “As Coisas Mais Lindas do Mundo”, parceria dele com Celso Borges [1959-2023]).

Entre a doçura e a revolta, como salienta o produtor, o terceiro álbum de Magah preserva suas características essenciais, que tem marcado sua trajetória solo – o cantor integrou a banda Amnésia, com que ajudou a consolidar uma cena punk em São Luís, a partir do bairro do Cohatrac – com seu passeio desenvolto entre o punk, o rock e o brega, com letras inteligentes e instigantes.

Na véspera do show de lançamento, que acabei perdendo (por motivos de força maior), acompanhei um pedaço do último ensaio no Estúdio 2F Sonato (Vinhais). Na ocasião, a convite da produção, conversei com Marcos Magah e Zeca Baleiro – e por motivos idem, só agora consigo postar a conversa.

Fotos: Patrícia Castro
Fotos: Patrícia Castro

ENTREVISTA: MARCOS MAGAH E ZECA BALEIRO

ZEMA RIBEIRO: Antes de Baleiro ir se aventurar em São Paulo em busca do sonho de viver de música, teve uma trajetória aqui por barzinhos na noite de São Luís, que era mais ou menos a mesma época em que o Magah ajudou a consolidar ali a cena punk, a partir do Cohatrac, com a banda Amnésia. Naquela época vocês já se encontravam? Como é que era essa relação na década de 1980?
MARCOS MAGAH: Rapaz, a gente se via, cidade pequena, a gente chegou inclusive a dividir palco, acho que em 1990. É 89, 90, no festival São Luís Rock Show e a gente dividiu no Coqueiro [bar], que era o festival muito louco de rock and roll [risos], e a gente dividiu o palco lá uma vez, nesse festival que eu me referi agora. São Luís, cidade pequena, todo mundo acaba se olhando em algum momento. Lá na frente, a gente acabou se encontrando novamente no filme do Neto Borges, que foi o “Ventos Que Sopram”, quando a gente começou a pensar em trabalhar junto.

ZR: Baleiro, você sempre teve uma atenção muito grande, voltada sobretudo para artistas do teu lugar, São Luís, do Maranhão, e ao longo desses anos de carreira, 26 já, isso se contarmos só a partir do disco de estreia, e você sempre deu uma força, colaborou, produziu, enfim, ajudou também a colocar nomes aí no radar. O que te chamou a atenção na obra de Magah que você resolver produzi-lo?
ZECA BALEIRO: Bom, e aí, Magah? Falo a verdade ou minto? [risos]. Só te corrigindo: não era sonho, não, era desespero mesmo. Quando eu saí daqui para São Paulo era uma tentativa de alargar os horizontes, e falo isso sem desabonar a cidade que eu amo, que eu adoro e tal, mas eu tava num momento pessoal muito confuso, muito conturbado e numa vibe muito sexo, drogas e rock and roll, mais drogas do que sexo na verdade [risos]. Eu fui para buscar outros caminhos, para me aventurar, para buscar crescimento, desenvolvimento para mim, como pessoa, como artista e por outras demandas também que não vêm ao caso. Lá no meu bairro, no Monte Castelo, tinha uma turma também, Ricardo, me ajuda aí a lembrar [pede para Magah], que eram de uma banda, ali perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a turminha que se reunia ali se correspondia com Arnaldo Baptista. Tu [apontando para Magah] era da Amnésia, tinha a Ânsia de Vômito, os nomes eram maravilhosos [risos], e eu era amigo deles, assim, amigo de bairro, da gente se encontrar e tal. Naquele tempo, não só em São Luís, no Brasil de uma maneira geral, essas prateleiras da música eram muito essa segmentação, era até de uma natureza mais social, a galera do rock não se misturava com a galera do samba, que não se misturava com a galera da chamada MPB, que quiseram chamar de MPM aqui, e eu era aberto. Eu gostava de música popular, me interessava por música popular de uma maneira geral, então eu era tanto amigo de Joãozinho Ribeiro, que é um cara que cultua a Velha Guarda, Noel [Rosa, compositor (1910-1937)] e tal, como podia ser amigo de Ricardo e de Magah, de outros caras. Masa gente não foi de fato, assim, amigos. A gente era ali contemporâneo, olhava ali com o interesse aquela cena, a gente esteve juntos nesse festival, eu lembro até que eu entrei com a minha banda, todos pintados, e todo mundo ficou “estão pensando que são os Secos e Molhados?”.Mas era uma brincadeira, uma provocação. Depois, o Magah esqueceu de contar, que ele perambulou por São Paulo e nessa época o Fernando Abreu, parceiro, poeta parceiro comum dos dois, escreveu: “Zeca, te lembra de Magah? Ele tá em São Paulo”. Eu tava na época viajando muito, a gente não conseguiu se encontrar, mas ele mandou três letras por e-mail. Uma delas virou a nossa primeira parceria, “Eu Chamo de Coragem”, está no “O Amor no Caos – volume 2“, aí veio o documentário, a gente se aproximou, ele mostrou umas canções e eu falei “pô, vamos fazer repertório”, e foi assim.

ZR: Agora depois dessa tua ida para São Paulo tu acabou te tornando uma espécie de embaixador, né?
ZB: Eu detesto esse negócio de embaixador.

ZR: É, detesta, mas assim, é porque tu nunca negou a mão a quem precisou.
ZB: É porque é amor mesmo, cara. O cara pode ser capixaba também, e eu aliás fiz, por sinal, com a obra de Sérgio Sampaio. Naturalmente, tem que ter um entendimento da vivência do cara, que pode ser Magah ou pode ser Antonio Vieira (1920-2009), da dificuldade dos meios de produção, que mesmo hoje São Luís ainda é uma cidade com muita dificuldade, como é Aracaju, como é Maceió, como é qualquer cidade menor assim, né? Não é uma metrópole como Rio, São Paulo, Belo Horizonte. Agora essa coisa de embaixador, desculpa, até posso ter sido descortês, mas é porque isso de embaixador passa um pouco uma ideia de oficialidade, sabe? E eu detesto qualquer tipo de oficialidade [risos]. Eu não sou embaixador de nada. Eu posso gostar do cara sendo maranhense, piauiense ou cearense. Naturalmente eu não me afastei, como outros artistas fizeram um afastamento, às vezes até normal, né? Por exemplo, Alcione, de quem eu sou muito fã, hoje é mais associada à cultura musical do Rio, à Mangueira do que aqui, embora ela nunca vá deixar de ser maranhense, profundamente maranhense. Por uma natureza minha mesmo, assim, pessoal, eu gosto de estar aqui, sinto um pertencimento, me sinto fazendo parte de uma coisa, me sinto inserido nisso aqui como o meu lugar, mesmo que eu vá morar na Romênia. Uma vez dividindo os microfones, o palco, a cena com Ferreira Gullar (1930-2016), um programa que o Tony Bellotto tinha, não sei se tem mais, na TV Cultura, “Afinando a Língua”, juntou o Ferreira Gullar e eu, e a gente conversando e o cara perguntou pro Gullar: “a origem importante, Ferreira Gullar?”, e ele falou: “rapaz, tudo que a gente tem, a única coisa que a gente tem, é a origem, é onde a gente nasceu, de onde a gente veio, o lugar ao qual a gente pertence, todo o resto é incerto, agora a origem é definitiva”. Eu achei isso lindo. Eu repito isso como um mantra. Eu nunca neguei minha origem.

ZR: Sábio Gullar. Esse reencontro no decorrer do processo feitura do documentário do Neto Borges, o “Ventos Que Sopram”, eu até acompanhei parte das gravações aqui em São Luís, é impossível a gente não lembrar de um parceiro comum também de vocês, Zeca até fez a devida homenagem no show de ontem, a Celso Borges. Queria um depoimento de vocês sobre essa figura tão importante para todos nós.
MM: Rapaz, eu conheci Celso quando eu tava em São Paulo, essa ida a que Zeca se referiu há pouco. Aquela história da cidade pequena, que todo mundo se vê e tal. Mas às vezes não tem contato, uma intimidade, então. E aí em São Paulo, eu fui chamado para fazer uns shows que era eu, ele e o poeta Reuben, o CavaloDada. E aí nós fizemos uma série de quatro shows juntos lá e nessa história de fazer show, o Reuben, eles estavam os dois trabalhando, eu me lembro bem dessa cena, principalmente esses dias aí, e ele me chamou, o Reuben, né? Eles iam fazer uma história lá que eles recitavam poesia e eu cantava as canções, aquelas divisões que se faz, né? E o CavaloDada falou para ele assim, “cara, tu precisa olhar as letras do Magah”, e ele falou para mim assim: “então recita aí alguma coisa”, aí eu falei uma dessas letras que eu faço [risos] e ele ficou assim, gostou muito, e aí era para ser só um show e a gente acabou fazendo quatro e surgiu o lance da amizade. E a amizade da gente era uma coisa muito bacana, porque Celso era muito mais novo do que [risos]. Ele tinha uma energia, um espírito assim, eu me lembro de uma vez a gente fazendo uma canção chamada “Camboa” e ele escreveu um verso, a gente escrevia um de frente para o outro, cada um com seu papelzinho assim, e ele escreveu um verso, ele ficou tão feliz, cara, que ele subiu na janela. E eu ficava dizendo “Celso, desce daí”, eu preocupado, era uma pessoa mais velha [risos]. Então era assim, cara, era uma relação realmente intensa, e também da mesma forma, tínhamos discussões maravilhosas. Para mim é bem complicado essa coisa de pensar que Celso não tá mais aqui. Ele foi um cara muito importante para mim porque ele nunca se dava por contente. Eu mostrava algo para ele, ele dizia “não, tu faz melhor, estica isso para cá, leva pr’ali”, ele tinha essa coisa, né? E aquela coisa de um bom humor, que jogava a gente para frente. E tava sempre disposto, qualquer projeto que eu dava o toque, vamos fazer, às vezes as minhas propostas absurdas para testar a paciência dele, ele falava “eu topo”, e eu dizia “pô, esse cara é mais maluco do que eu, mano”. É um amigo e parceiro assim, cara, que realmente… as nossas conversas, que iam para muito além das questões artísticas, de criação e tal, coisa de amizade mesmo, de falar sobre coisas, amor, dinheiro principalmente. A gente falava muito de dinheiro, porque a gente não tem nenhum. Quem não tem dinheiro geralmente só fala de dinheiro e a gente conversava muito sobre isso. Meu amigo querido, meu irmão.
ZB: Pra mim ainda é um pouco difícil falar sobre Celso porque ainda estou muito sob o efeito do choque. Toda morte é, de certa maneira, chocante, por mais até previsível que seja, e no caso da do Celso tomou todos nós de surpresa. Foi muito imprevisível e essas pessoas que têm uma vitalidade, uma intensidade muito grande no viver, a gente demora a acreditar. Eu perdi alguns amigos ao longo desses últimos anos e alguns deles eu até hoje não realizei, é difícil realizar. É difícil vir a São Luís, por exemplo, e imaginar que eu não vou encontrar Celso, que a gente não vai se provocar mutuamente, às vezes até brigar como a gente brigava, porque era uma relação de irmão mesmo. “Baleiro, esse disco aí eu tou achando ele meio repetitivo”, “ah, vai se foder, e esse teu último livro aí é o quê, porra?”. Então era assim, era amor mesmo, uma relação de amor, porque não era superficial, era profunda, a gente falava o que tinha que falar. Celso é muito importante na minha trajetória musical, do Nosly, de muita gente. O Celso era um fazedor, né? Quando ele foi diretor da Rádio Mirante ele criou um programa, eu ainda estudava, tinha 14 anos, estudava no Colégio Batista, e a primeira vez, 14, 15 anos, que eu toquei uma música minha. Eu era muito tímido. O Nosly, que era meu vizinho de bairro, ali, de rua, no Monte Castelo, era um pouco mais atirado, foi meu primeiro parceiro, falou: “Zeca, tem um programa na Rádio Mirante, chama “Contatos Imediatos”. Você vai, toca, aí três caras concorrem na noite, e aí as pessoas telefonam, anos 1980, 83, 84, e o vencedor, quem tiver mais votos ganha uma máquina tira-teima da Kodak e um ticket para comer na Churrascaria O Laçador. Aí eu fui, lembro que nessa noite Nosly foi me acompanhando, dois violões, um baiãozinho, chamava “Sem Pé Nem Cabeça”, foi a primeira vez, e Celso “pô, interessante essa pegada e tal, vamos encontrar”. Ele que coordenava, dirigia o programa, “vamos!”. E aí foi uma saraivada, a gente fez oito músicas em sequência, eu, ele e Nosly, que deu origem ao nosso primeiro show, “Um Mais Um”. É um cara que tá na origem de toda a nossa história. Eu lembro que a primeira vez que eu ouvi Fauzi [Beydoun, vocalista da Tribo de Jah] foi nesse programa, tocando “Neguinha”, nem era um reggae ainda, era uma balada. Acho que César Nascimento também, a primeira vez que eu vi o César foi assim. Era um cara que abria muitas portas, tinha essa coisa meio visionária. Quando eu comecei na música, Celso já tinha um certo sucesso, já era uma personalidade, já aparecia na tevê, já tinha uma aparição aqui e acolá, um programa, a Revista Guarnicê, ele já era uma personalidade pública e eu tinha simpatia pela figura dele, pelas coisas que ele fazia, nos aproximamos. Nossas histórias se cruzaram em São Paulo também, ele foi um pouco antes, quando eu cheguei em São Paulo, ele me falou: “Zeca, conheci um cara aí da Paraíba, não tem nada a ver contigo, mas tem tudo a ver contigo, tu vai entender. Chama-se Chico César, trabalha na revista Elle, a gente se conheceu aqui na Rádio Gazeta, ele veio gravar um programa, vocês dois vão se amar”. Aí eu cheguei em São Paulo. Fui de carro, com a Solange, minha companheira na época, e no caminho o amplificador, nos sacolejos das estradas do Piauí, a gente passou 20 dias viajando num Fiat Uno, chegou quebrado em São Paulo e eu precisei de amplificador. Liguei para os amigos e Celso disse: “rapaz, liga para aquele cara, ele deve ter, o Chico César, liga para ele”. Ele me deu o telefone, liguei para o Chico, nos encontramos lá na Paulista, na frente da TV Gazeta, fui até a casa dele, no meu carro, lá em Santo Amaro, que era longe para cacete, passamos a noite tocando, eu, ele e Celso tocando e ele me emprestou o amplificador. Enfim eu pude fazer o show, importante, passamos a noite tocando e realmente ficamos encantados um com o outro. Entendi exatamente o que o Celso queria dizer. Éramos diferentes, mas éramos muito afins. E ele estava tão certo que a nossa amizade permanece até hoje, inclusive vai resultar num disco até o fim do ano, início do ano, a gente vai lançar. Então o Celso é um cara muito importante, tem essa coisa de agregar pessoas. Isso é muito importante na cena cultural de qualquer lugar.

ZR: Curioso essa essa memória de vocês de Celso, essa intensidade com que ele vivia e produzia. Quer dizer, partiu fisicamente ainda no auge da capacidade criativa e está presente no disco mais novo do Magah, “As Coisas Mais Lindas do Mundo”. Queria agora focar um pouquinho no álbum, eu lembro que quando tu lançaste o “Z de Vingança”, há mais de 10 anos, já falava numa trilogia, né? Que depois veio “O Inventário dos Mortos” e agora “O Homem Que Virou Circo”. Acho que isso demonstra uma organização muito grande. Queria que você falasse um pouco desse processo, de criação do álbum, de composição. Como é que foi isso?
MM: Rapaz, eu vinha escrevendo. Eu tinha a ideia de lançar esse disco, inclusive Celso foi comigo uma vez no estúdio, até para registrar algumas canções. Eu tinha a ideia do disco, o tema, algumas canções como “Ela Nunca Teve Ninguém”, eu já tinha algumas canções, “O Homem Que Virou Circo” e tal. E eu tinha ideia de registrar, de fazer esse disco. O problema é que toda vez que eu entrava no estúdio eu não achava uma liga com um produtor. O cara achava esquisito aquilo ali, queria me propor uma outra coisa lá e eu falava: “não cara, eu quero fazer isso aqui, independente de [qualquer opinião que] não, que isso aqui não vai dar certo”. Eu falei: “não, cara, eu não eu não dei certo até agora, eu não estou preocupado com isso, não, velho. Eu tô querendo registrar o disco, não interrompe a minha felicidade” [risos]. E aí eu tentava sempre, três tentativas com produtores diferentes e tal, até que encontrei com o Zeca e a gente começou a falar sobre o disco, que tem uma coisa que eu e ele, a gente gosta de coisas parecidas, assim, a gente não vê muito fronteira de música e tal. E quando a gente começou a pensar o disco eu remodelei muitas canções. Essa parceria minha com Celso, eu adoro essa música, sabe?, eu gosto demais dessa música. Eu chamei ele, essas coisas do Celso, é impossível não contar alguma coisa, “eu quero fazer uma música assim”, e ele me perguntou pelo telefone “onde é que tu tá?”; aí eu digo: “cara, eu tô aqui na casa tal”; ele: “me aguarda que eu tô chegando aí!” [risos]. Isso era Celso. E aí eu comecei a remodelar as canções, ia amostrando para Zeca, algumas coisas, “isso aqui tá bom, isso aqui não e tal”. E acabou virando esse disco. Eu fiquei muito satisfeito assim com o resultado, porque eu gravei exatamente o que eu queria gravar, não sei se eu tô respondendo tua pergunta. Mas outro dia eu vi uma coisa engraçada, o cara disse que eu que eu me vendi e tal. Eu digo: “pô, eu preciso olhar o comprador”, não tenho ideia de quem me comprou até agora, que eu fiz concessão. Pô, cara, se tu for escutar o disco, eu não entendo, não tem concessão, ali eu fiz exatamente o que queria, a gente nunca conversou sobre “não, vamos mudar isso aqui”, não. A gente não é bobo, né,cara? Não faria sentido. Não tinha porquê. Umas coisas assim engraçadas, quando a gente tava fazendo o disco, talvez valha o registro, é que vem eu e Zeca dentro do carro e eu falei assim, “pô, Zeca, eu quero te dizer uma coisa; rapaz, eu gostaria que tu não cantasse no disco”. E ele falou: “bicho, eu estou pensando a mesma coisa” [risos].

ZB: Todo disco que eu produzo eu canto e eu desde o início falei: “Magah, acho que nada a ver, vamos buscar outras pessoas, tentar o Odair José, Fernando Mendes, alguém com quem você tenha uma afinidade”. Eu preferi tocar, toquei teclado, percussão, assobiei no disco, criei as linhas de baixo, mas cantar, não [risos]. Eu cantar era um caminho fácil, óbvio.
MM: Nós dois estávamos pensando a mesma coisa.

ZR: Como é que foi a costura das participações especiais de Bárbara Eugênia e Odair José?
ZB: O Magah mostrou as músicas e tal, eu mandei as quatro que tinham esse acento mais brega descarado, embora o brega do Magah seja muito sofisticado, mas tem esse flerte com essa música mais popular, então mandei quatro e falei: “ouve aí, Odair!”, e ele falou: “eu gostei dessa, essa aqui é a minha cara”. E o desgraçado do Odair é tão talentoso, bicho, é aquela coisa, a gente cola no clichê, na lenda que se forma em torno do cara, às vezes deixa de ver o real, o cerne da coisa. Ele mandou a música transformada. Para melhor! Ele deu uma melhorada, a música já era boa.

ZR: Quase vira parceiro.
ZB: Quase vira parceiro. É. Eu até falei: “Odair, você não quer? Você fez o arranjo”. “Não, eu não quero, é só como eu li a música. Eu gostaria que vocês gravassem assim”. O Magah falou: “porra, ficou demais”. Ele releu a música, se identificou, pegou o violão e fez. Mostrei, falei: “vamos fazer exatamente o que o Odair fez, só que com banda: bateria, baixo, guitarra e órgão”. Ficou aquilo. Gênio, né? O cara que tem um entendimento da música, da canção, como poucas pessoas. E a Bárbara eu tava produzindo o disco dela, calhou de, no mesmo tempo. O disco do Magah durou uns três anos, porque a gente começou em janeiro do ano da pandemia. 2020, né? A gente gravou as primeiras bases de voz e violão no Estúdio Zabumba aqui, levei. E aí a pandemia veio e ferrou tudo, né? Fez a gente postergar tudo. Aí fui fazendo devagarinho, voltei, fizemos mais uma bateria de canções, foi mudando também o repertório. Magah dizia: “ah, eu fiz uma nova safra aqui que eu acho que tem mais a ver” e assim foi. E a Bárbara estava justo em processo, ele falou: “adoro ela, cara, adoro o timbre dela. Vamos achar uma música?”. Quando ele mandou a parceria com Celso, eu falei: “é essa aí, vai ficar linda na voz dela”; ele não queria nem cantar [risos]; “tá tão bonita que eu não vou nem cantar”, ele me disse; o disco é teu, tem que cantar; e ficou lindona, né? Parece uma música assim, um folk americano dos anos 50, 60, tem um traço especial.

ZR: Quando a gente ainda estava esperando Baleiro, eu estava vendo um pedaço do ensaio e vocês falaram numa coisa de não fazer concessões, de não pensar na coisa de transformar o trabalho do Magah para ser palatável. E aí teve uma mudança na banda e, “ah, agora tá soando como Magah”; e eu disse: pode botar Magah com a Filarmônica de Berlim que sempre vai ter uma coisa brega e punk ali, que é o traço dele. Isso facilitou a produção do disco, essa coisa de não ter que repensar muita coisa?
ZB: Não. Dificultou [risos]. É o seguinte: tem dois tipos básicos de gente no mundo: o cara que mesmo certo tá errado e o cara que mesmo errado tá certo. Magah é do segundo time. Então, assim, musicalmente falando por exemplo, ele tem uma forma de respirar, uma compreensão do ritmo da música, muito particular. Tem outros artistas que são assim: Chico. Chico César, tocar com ele é super difícil, porque ele tem umas coisas que não são óbvias, de compasso, ele mete os compassos, e é intuitivo, coisa de origem, atávico, quebra a matemática, bota um compasso de 5 por 8 no meio de um 4 por 4, é um negócio assim, e Magah tem, a seu modo também, com essa viagem roqueira que ele tem, faz compasso muito louco. Teve uma música lá que eu falei assim: “essa aqui a gente não vai conseguir botar metrônomo, botar um clique para poder depois a banda gravar”. Então o que que eu fiz? É aquela “Eu Gosto de Ler a Bíblia”. Eu falei: “grava aí do teu jeito, respira do teu jeito, canta do jeito que tu acha, o povo lá que se foda, a banda lá”; aí a gente foi, passamos uma noite lá, o Kuka [Stolarski], baterista, ficou contando os compassos, “não, aqui tem um compasso de cinco, aqui tem um compasso de três”; eu falei: “escreve a partitura aí, bicho, trabalha”; aí ele fez todo o mapinha, mas ficou sensacional, porque ficou do jeito que ele faria mesmo. A gente não tentou fazer caber numa quadratura mais careta, mas conservadora, mais lógica. Não teve isso. O rock dele tá preservado. Agora, talvez até porque o cara tá ficando um senhor, as canções, tem uma canção ou outra com uma certa doçura, tem uma raiva, uma revolta aqui, mas tem uma doçura ali, faz parte também. Mas não tem esse negócio de concessão, isso é besteira. O rock precisa também, os amantes do rock, desse imaginário rock, precisam dessa coisa meio antissistêmica, assim, “você se vendeu”. Eu lembro, vou contar um episódio. Quando eu gravei o Charlie Brown Jr., que inclusive era rock, mas uma galera mais assim, ficou, teve um happening punk, assim, lá em Recife, o pessoal no carnaval se virou de costas na hora que eu toquei a música, eles queriam que eu tocasse “Vô Imbolá”, “Heavy Metal do Senhor”, essa faceta mais atrevida, mais rítmica, pós-mangueBit, aquela coisa. E quando eu toquei eles se viraram. E outro garoto em Londrina falou assim: “me decepcionei com você, bicho, você se vendeu para o mercado”. Aí eu falei: “cara, não, rapaz, você não tá entendendo o que é isso, isso é outra coisa”. Aí eu voltei lá três anos depois, ele tinha me perdoado com “Pet Shop Mundo Cão” (2002) [risos]. “Tá perdoado, tá perdoado”. Então tem essa coisa, faz parte, “o cara se vendeu”,a gente também tinha isso quando jovem, curtia uns caras, aí de repente, Rita Lee (1947-2023) era isso, era uma loucura com Mutantes, com o Tutti-Frutti, depois entrou Roberto de Carvalho, só com o tempo que você vai avaliar, aquela obra também é fantástica. Era mais pop, era mais radiofônica, era mais comercial. Mas ainda assim era brilhante, era sensacional. Então, essas avaliações fazem parte também desse imaginário do rock. É bom até, né? Tem uma cena maravilhosa no documentário do Jards Macalé. Perguntam ao [cantor e compositor Gilberto] Gil: “Gil, mas o quê que você acha, Macalé, esse artista que nunca fez concessão?”. “Nunca fez concessão, é? Eu não conheço ninguém que nunca tenha feito concessão”. Não tem como viver sem fazer concessão. Mas não é o caso aqui.

ZR: Magah em estado bruto, mas de algum modo também, lapidado.
MM: Bruto, porém nem tanto.
ZB: Os brutos também amam [risos]. Essa coisa da produção, eu não sou assim um produtor, no sentido tecnológico do termo, como Liminha é, como Brian Eno é e tal. Eu sou produtor no sentido de arregimentar, de orientar, de dar um caminho. E de respeitar o que o cara é, porque se for pra descaracterizar, então, ele que arranje outro. É para extrair o melhor dele, se eu puder fazer, ajudar nisso, eu tô dentro. Se for para estragar, arranje outro.
MM: Tem uma coisa que perde o sentido, porque o que, no caso, atraiu um produtor como Zeca, foi aquilo que os caras acham que você deveria como produtor, descaracterizar. Se o que te atraiu foi aquilo, é aquilo que deve ser preservado, é o coração.
ZB: Lapidação era um termo mais técnico, de fazer, de botar bons músicos tocando, bons técnicos mixando, masterizando, dando timbres, esse cuidado com timbres, mas eu acho um disco rock pra cacete. Você não acha, não?

ZR: Sim, acho. Baleiro precisa ir para o cortejo [parte do elenco de “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, musical de Ruy Guerra com trilha sonora de Baleiro, faria um cortejo àquela tarde, na Praia Grande], Magah precisa continuar o ensaio. Vamos fechar falando do show de amanhã, o lançamento d“O Homem Que Virou Circo”, no Reviver Hostel. Banda, participações especiais, e reforçar o convite para a rapaziada que tá assistindo a gente [esta entrevista foi gravada em vídeo, mas problemas técnicos impediram o upload no youtube].
MM: Pois é, a gente vai estar lançando agora, sábado, 27, amanhã, né?, “O Homem Que Virou Circo”, cheio de participações especiais. Em primeiro lugar, eu quero citar aqui a minha banda, a Magahdelic Band, é uma banda assim, é quase a The Band, tu tá entendendo?, só que no Maranhão [risos], então acompanhado da minha banda, a gente vai ter a Vanessa Serra, DJ que eu gosto pra caramba, o amor que ela tem pelo vinil, as coisas que ela põe lá.

ZR: Fala os nomes da banda.
MM: Sim, citar os integrantes da banda. O Eduardo Pinheiro na guitarra, assim que eu olhei ele tocando, cara, primeira vez eu imediatamente chamei ele, “chega aqui, cara, vamos tocar ali”, ele já conhecia meu trabalho e tal e ficou contente para caramba, então o Eduardo na guitarra; o Gus Mendes que é um baixista também que eu olhei assim, garotão da noite. É só garoto, né? De idoso só tem eu. Eu só pego garoto!

ZR: A galeria do amor.
MM: [risos] Quando eu lancei o “Z”, a canção que abria o show era esta, né, “Galeria do Amor” [do repertório de Agnaldo Timóteo (1936-2021)], e ficou todo mundo assim, esse cara, e ficou muito bonito. Aquilo ali é rock, aquela linguagem maravilhosa, libertária, linda. O Gus Mendes no baixo, o Diogo nos teclados e efeitos e meu querido Taylor na bateria. Essa é a Magahdelic Band, uma banda que tem uma facilidade para fazer concessão, então é a banda perfeita pra mim.
ZB: Concession Band.
MM: É, Concession Band [risos], a gente vai mudar o nome. E é isso, cara, se eu estiver esquecendo alguma coisa o Baleiro vai completar aqui a parada de sucesso.
ZB: Nada mais a declarar. Só dizer que fico muito feliz de ter feito essa parceria com Magah. Peço desculpas pela demora na entrega do trabalho, mas a gente vai falar todo mundo ainda, que tem uma lista de agradecimentos. O show tem a produção de Aziz Jr., Samme Sraya, Tiago Máci, que também é nosso parceiro.
MM: A participação da Dicy, cantando comigo “As coisas mais lindas do mundo”. Também vai ficar lindo com ela, cara, também sou fãzão.
ZB: E é isso. Acho que a missão está cumprida, era fazer um disco, um disco genuíno, assim, não que os discos dele anteriores [não fossem], eu adoro os discos dele, mas quando eu ouvi as canções, falei, “poxa, eu sei exatamente o que fazer com isso, eu acho que sei exatamente o que fazer com isso”, sem também descaracterizá-lo, sem levar para um outro caminho, sem tentar fazer o que não é, porque as coisas são que são. O que não é o que não pode ser o que não é o que não pode ser o que não é, né? Aquela coisa lá [citando a música dos Titãs], então, eu ouço com o maior prazer esse disco, o que é um bom sinal, porque depois que eu produzo alguma coisa, eu passo um tempo assim, tenho um tempo de afastamento. Mas é um disco que eu ouço com muito prazer, boto, recebo amigos, boto para ouvir e as pessoas curtem muito as letras, né? Porque canção é mais do que só música, é a ideia também, né? E o Magah, nesse sentido, é um cara brilhante, tem ideias incríveis, originais e por isso ele é o que é.

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Ouça “O Homem Que Virou Circo”:

Zeca Baleiro lotou duas sessões ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo

Foto: Patrícia Castro
Foto: Patrícia Castro

“Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”. Os versos iniciais da clássica “Tatuagem” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), com que Zeca Baleiro abriu o show “Fado Tropical”, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo, bem traduzem a relação do maranhense com seu público, consolidada em 26 anos, se contarmos apenas a partir de sua estreia fonográfica, com “Por Onde Andará Stephen Fry?” (MZA Music, 1997).

Por falar em 26 anos, chegou hoje às plataformas de streaming “Você Goza Com Dinheiro” (Zeca Baleiro), segundo single de uma série com que o artista está celebrando a inusitada efeméride.

Como ele mesmo contou, para gargalhadas do ótimo público presente: “quando eu lancei meu primeiro disco, me ligaram e disseram que tinham conseguido botar uma música minha na nova novela do Manoel Carlos, “Por Amor”; eu sempre fui noveleiro, sabia tudo, elenco, ficha técnica, trilha sonora, ficava disputando com minha irmã Lúcia [Santos, poeta] para saber quem tinha mais conhecimentos novelísticos; eu voltei a assistir novela e fiquei esperando, mas os capítulos passavam e nada da música; lá pelo capítulo 45, eu já quase desistindo de acompanhar, achando que não ia rolar, o personagem de Antônio Fagundes deu um beijo de cinema na Cássia Kis e a música tocou por dois minutos e meio, um tempão para televisão, no horário nobre; eu fiquei emocionado, chorei, mas depois a música nunca mais tocou, pois o personagem de Antônio Fagundes trocou a Cássia Kis pela Regina Duarte; tinha o dedo podre, o Fagundes”. E atacou de “Bandeira” (Zeca Baleiro), com o público cantando junto.

Acompanhado por Rui Mário (piano e sanfona), Lui Coimbra (violoncelo) e Luiz Cláudio (percussão), Baleiro desfilou um repertório de clássicos. De sua autoria e de Ruy Guerra, parceiro de Chico Buarque na música que intitulou o espetáculo, e de quem o próprio Zeca tornou-se parceiro recentemente, ao compor a trilha sonora do musical “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, de autoria do brasileiro nascido em Moçambique.

O show foi montado para promover a peça, que estreia em junho no Teatro Oi Casagrande, no Rio de Janeiro, e após temporada no Sudeste, circulará pela região Nordeste no segundo semestre – “incluindo São Luís”, como Baleiro fez questão de frisar. Ele mesmo salientou que aquele era um show único, já que não há perspectiva de se repetir para além da sessão extra, realizada ontem mesmo, fruto da grandiosidade e generosidade do artista. Explico: a sessão de 20h seria apenas para convidados e para o Instituto Cultural Vale, que patrocina a realização de “Dom Quixote de Lugar Nenhum”. Baleiro não via muito sentido em fazer um show fechado em sua própria terra e fez distribuir ingressos para o público em geral, mediante a troca por um quilo de alimento não perecível. Não deu para quem quis e após reclamações gerais e algum tumulto, a produção do artista e a direção do TAA conseguiram garantir uma sessão extra, às 22h.

Baleiro estava à vontade, literalmente em casa e entre amigos. Presença ilustre na plateia, o ator Mateus Nachtergaele, a quem o cantor se referiu como “um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos”, e a convite dele, de seu lugar, anunciou “Processo de Conscerto do Desejo”, que apresentará domingo (28), às 19h, no TAA. Nachtergaele sintetizou o espetáculo: “minha mãe morreu quando eu tinha três meses de idade. E deixou uma pasta com poemas, muito bonitos. Ela tinha 22 anos quando se suicidou e hoje eu estou feliz em poder trazer isso a público”. Baleiro perguntou-lhe o porquê de São Luís e o ator não titubeou: “por que esse é um dos teatros mais bonitos do mundo”, elogiou.

Baleiro brincou com as intérpretes de Libras, reconhecendo a importância da acessibilidade cultural em espetáculos. Revelou se interessar mais pela língua brasileira de sinais que por inglês, mas que ainda não tinha tido tempo de estudar. Com uma delas, repassou a letra de “Quase Nada” (Alice Ruiz/ Zeca Baleiro) – que cantou com citação de “Sangue Latino” (Paulo Mendonça/ João Ricardo). “Tem poesia isso aí, o gestual dela”, arrematou.

Zeca Baleiro prestou ainda uma comovente homenagem ao parceiro Celso Borges (1959-2023). “Foi um dos maiores incentivadores da minha carreira e de muitos artistas daqui. Foi um cara que se envolveu com tudo, música, poesia, rádio… São Luís fica um pouco mais triste sem sua presença. Nós fizemos mais de 30 canções juntos e eu gravei algumas poucas. Vou cantar a mais conhecida”, disse, antes de cantar “A Serpente (Outra Lenda)”, esquecendo-se de citar o terceiro parceiro, o percussionista argentino Ramiro Musotto (1963-2009).

“Bárbara” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Babylon” (Zeca Baleiro), “Ana de Amsterdã” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Não Existe Pecado Ao Sul do Equador” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Banguela” (Zeca Baleiro), em arranjo caliente, e “Fado Tropical”, incluindo a sífilis (“que todo general devia ter àquela época”, ironizou Baleiro) censurada pela ditadura militar, foram alguns outros clássicos presentes ao repertório.

Ao fim da apresentação, parte do elenco de “Dom Quixote de Lugar Nenhum” subiu ao palco para apresentar algumas canções da trilha sonora do espetáculo e anunciar o cortejo que acontecerá hoje (26), às 17h, nas imediações da Praça Nauro Machado (Praia Grande). Nesse momento, Zeca Baleiro e Lui Coimbra se juntaram à trupe tocando instrumentos de percussão.

Ainda com atores e atrizes em cena, à guisa de bis, Baleiro anunciou que ia fazer “Telegrama” (Zeca Baleiro), para delírio da plateia, que cantou junto. Após pouco mais de hora e meia o dito popular “tudo que é bom dura pouco” parecia demonstrar sua validade, mas o show precisava terminar para o acesso do público para a segunda sessão, também lotada.

Chorinhos e Chorões passa a ser veiculado em cadeia pelas rádios Universidade e Timbira a partir deste domingo (30)

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos produz e apresenta o dominical Chorinhos e Chorões. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

Na última quinta-feira (27) a Rádio Timbira estreou uma nova programação, com vistas à migração para FM, que acontecerá este ano. Programas como o “Fala, Mermã”, sobre o universo feminino, apresentado por Letycia Oliveira (de segunda a sexta, às 17h), e o “Radiola Timbira”, por este que vos escreve (aos domingos, ao meio-dia), passam a compor o novo quadro. O Balaio Cultural, que produzo e apresento com Gisa Franco (sábados, das 13h às 15h), está mantido.

Outras novidades dominicais são o “Alvorada” (das 7h às 9h), com Vanessa Serra, e o Chorinhos e Chorões (das 9h às 10h), com Ricarte Almeida Santos, que permanece na Universidade FM, sua casa original, há 36 anos no ar, e passa a ser veiculado em cadeia com a Timbira.

Para a edição de estreia, Ricarte receberá o Quarteto Crivador, em uma roda de choro ao vivo. O grupo é formado por Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell de la Salles (bandolim), Rui Mário (sanfona) e Marquinhos Carcará (percussão).

A roda de choro será transmitida ao vivo, a partir do estúdio Lauro Leite, da Rádio Timbira, na Rua da Montanha Russa, 75, Centro. “A ideia é de festa mesmo, de marcar este novo momento, tanto da Timbira, quanto do Chorinhos e Chorões. A veiculação em cadeia com a Universidade vem somar, estamos muito felizes com a oportunidade, em um domingo recheado de boas companhias, começando cedo com Vanessa Serra, passando pelo decano Frank Matos, com o Timbira Espetacular, até chegar ao Radiola Timbira, contigo, a Timbira terá a trilha ideal para todo tipo de ouvinte: o que vai à praia, o que aproveita para fazer uma faxina ou lavar o carro, o que prepara o almoço, e é motivo de grande honra fazer parte desta trilha, deste cardápio”, declarou Ricarte Almeida Santos a Homem de Vícios Antigos.

Além do Quarteto Crivador, o Chorinhos e Chorões deste domingo (30), quando estreia na Rádio Timbira, receberá também o cantor Cláudio Lima, para uma homenagem ao poeta e jornalista Celso Borges (1959-2023), falecido no último domingo (23), Dia Nacional do Choro. Não por acaso, Cláudio Lima foi convidado do sarau RicoChoro ComVida na Praça, realizado no Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico da capital maranhense, por ocasião do lançamento de “Lembranças, Lenços, Lances de Agora: Memórias e Sons da Cidade na Voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), de Celso Borges, obra em que ele se debruçou sobre os bastidores da gravação do antológico elepê “Lances de Agora” (1978), de Chico Maranhão, produzido por Marcus Pereira, gravado na sacristia da secular Igreja do Desterro.

Timbira e Universidade, que já possuíam uma “parceria campeã” – como reza o slogan das transmissões em cadeia – no esporte e eventualmente na transmissão de grandes eventos, como as festas juninas, ampliam a tabelinha. Pelo visto, o Chorinhos e Chorões aprofunda essa parceria já fazendo história desde o início.

Retrospectiva 2022

Balaio Cultural. Aos sábados, das 13h às 15h, na Rádio Timbira AM, com Gisa Franco e este blogueiro: Assis Medeiros, Almeida Marcus, Carlos Rennó, Bárbara Eugênia, Fred Zeroquatro (Mundo Livre S/A), Celso Borges, Carlos Careqa, Pedro Santos, Celia Catunda, Kiko Mistrorigo, Wado, Caetano Brasil, Carolinaa Sanches (Caburé Canela), Jaime Alem, Max Alvim, Fernando Salem, Otto, Angélica Freitas, Vitor Ramil, Péricles Cavalcanti, Gab Lara, Fi Bueno, Héloa, Ubiratã Trindade, Rodrigo Maranhão, Tatá Aeroplano, Maurício Pereira, Xico Sá, Simone Leitão, Luís Filipe de Lima, Pedro Luís, Yuri Queiroga, Zeca Baleiro, Vinícius Cantuária, Cláudio Lima, João Donato, Fernando Abreu, Lívia Mattos, Márcio Vasconcelos, João Cavalcanti, Cesar Teixeira, Rubi, Roberta Campos, Paulinho Moska, Thales Cavalcanti, Hélio Flanders (Vanguart), Lívia Nestrovski, Henrique Eisenmann, Arthur Nestrovski, Carlos Malta, Russo Passapusso, Patrícia Ahmaral, Otávio Rodrigues (Doctor Reggae), Zé Geraldo, Francis Rosa, Ligiana Costa, Bel Carvalho, José Miguel Wisnik, Erasmo Dibell (sábado que vem, 24) e BiD (31 de dezembro). Em 2023 tem muito mais!

Lances eternos

O ótimo público presente ao Largo da Igreja do Desterro, sábado passado (27). Foto: Rivânio Almeida Santos

Certas coisas, de tão mágicas, não têm explicação. “As retas mais curvas que o mundo tem” parecem convergir em uma só direção. O sarau de encerramento da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, idealizado e coordenado por Ricarte Almeida Santos, é um destes acontecimentos. A coincidência geográfica e temporal, para celebrar um disco atemporal: a comunidade do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, celebrava Nossa Senhora do Desterro e a procissão chegou em meio aos paralelepípedos quando o dj Jorge Choairy já preparava o terreno – modo de dizer, que a agricultura de seu set list já colhia os frutos plantados desde algum tempo –, numa convergência saudável e respeitosa entre o sacro e o profano. Exatamente como aconteceu há 44 anos, quando Chico Maranhão e o Regional Tira-Teima, a convite da gravadora Discos Marcus Pereira, ocuparam a sacristia da Igreja do Desterro para registrar o antológico elepê “Lances de agora”, de cuja “Ponto de fuga” pinço as aspas com que quase abro este texto.

O lance de agora era a homenagem que o cantor Cláudio Lima prestaria a Chico Maranhão, compositor que chegou aos 80 anos neste agosto, cantando quase a íntegra do citado disco e duas pérolas de outros momentos da carreira de Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, nome de pia do homenageado: “Rapaziada, o tempo mudou” e “Diverdade”. “Eu sei que você fica preso no ar quando eu canto”, diz a letra desta última, metáfora possível para a apresentação do cantor.

Acompanhado do Quarteto Crivador, Cláudio Lima era pura entrega no palco. Brincava, mas trabalhando sério, como é de seu feitio, com a própria voz e com a obra de Chico Maranhão. Prendia a atenção do público presente, devotos da boa música tal qual os admiradores das obras de Chico Maranhão, de Cláudio Lima e de choro em geral.

Cantar como quem reza: o sublime encontro de Cláudio Lima e Dicy, reverenciando Chico Maranhão. Foto: Rivânio Almeida Santos

O nome do grupo anfitrião, tomado emprestado de um dos três tambores da parelha de tambor de crioula, parecia também remeter a outra fase da carreira de Chico Maranhão, quando ele comandou a Turma do Chiquinho, registrado em sua “Ópera Boi – O sonho de Catirina”, de meados da década de 1990. Rui Mário (sanfona e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão) e Wendell de la Salles (bandolim) – que se lamentou quando em meio à apresentação inicial do grupo, arrebentou uma corda de seu instrumento, o que nem de longe tirou o brilho do espetáculo – trajaram de personalidade tanto o repertório instrumental do primeiro bloco de sua apresentação, quanto o acompanhamento luxuoso que prestaram a Cláudio Lima e sua convidada especial, a cantora Dicy – que cantou sozinha “Ponta d’areia” e dividiu com ele os vocais em “Vassourinha meaçaba”.

Em respeito às tradições e à religiosidade do local, a passagem de som atrasou. Mas até isso parecia contribuir para o brilho da noite: quem chegou no horário, acabou ouvindo Cláudio Lima cantar “Meu samba choro”, entrada de um delicioso cardápio musical. O público aplaudiu, antes mesmo de o show começar. Era o coroamento de uma ideia que começou há algum tempo: Cláudio Lima, o mesmo cantor e compositor que estava ali, no palco, é designer de formação e assina a capa e o tratamento de imagens do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), que o poeta e jornalista Celso Borges autografou na mesma ocasião. Foi a partir da pesquisa que o multi-artista mergulhou de cabeça no universo do filho de dona Camélia. O resto é história que ficará na memória dos presentes.

Em meio a tudo isso, ainda teve o poeta Fernando Abreu, brindando a plateia com um poema (“Ladainha”, que cita Allen Ginsberg e Chico Maranhão e suas lágrimas com novos poemas e canções) de seu novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022), que terá lançamento muito em breve.

Para não dizerem que não aponto defeitos: a temporada foi curta e só retorna às praças da ilha ano que vem.

RicoChoro ComVida na Praça homenageia Chico Maranhão

[release]

Repertório do disco “Lances de agora” (1978) será lembrado em frente à igreja onde foi gravado; compositor completou 80 anos neste agosto

Uma viagem no tempo. É o que promete o último sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece este sábado (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, em meio aos festejos de São José do Desterro.

A sacristia da secular igreja foi palco, em junho de 1978, das gravações do antológico elepê “Lances de agora”, do compositor Chico Maranhão, com o acompanhamento do Regional Tira-Teima. O disco foi lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, do incansável pesquisador do cancioneiro de um Brasil desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Show de Cláudio Lima será uma homenagem a Chico Maranhão. Foto: divulgação
A cantora Dicy fará uma participação especial durante a homenagem. Foto: divulgação

Chico Maranhão completou 80 anos neste agosto, de modo discreto, como é de seu feitio, ao contrário de outros oitentões ilustres da música popular brasileira. Ele receberá homenagem do cantor Cláudio Lima, convidado desta edição do sarau, que apresentará show com o repertório de “Lances de agora”, com a participação especial da cantora Dicy.

O poeta Celso Borges lerá trechos de “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” . Foto: Layla Razzo. Divulgação

Ainda na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022, 265 p.), misto de bastidores da gravação do disco e biografia de Chico Maranhão, com uma boa dose de imaginação poética – ao aproximar Maranhão e Bob Dylan, por exemplo.

Quarteto Crivador. Montagem. Divulgação

Cláudio Lima e Dicy serão acompanhados pelo Quarteto Crivador, formado por Marquinho Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Wendell de la Salles (bandolim). O nome do grupo é tomado emprestado de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, ritmo genuinamente maranhense que também é alvo do interesse do compositor homenageado, seja em músicas que compôs, seja na Turma do Chiquinho, grupo de tambor de crioula que comandou durante a década de 1990.

As atrações se completam com o dj Jorge Choairy, o mais tropicalista de nossos disc-jóqueis, antropofagicamente falando: seu set list é fruto de uma alimentação sonora que não conhece preconceitos, abarcando diversos gêneros, épocas e geografias, numa salada sonora sempre suculenta.

RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de Girassol Produções e RicoChoro Produções Culturais, que agradecem ao deputado federal Bira do Pindaré, que tornou possível a realização desta edição do evento, ao destinar emenda parlamentar à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Acessibilidade cultural – Os saraus RicoChoro ComVida na Praça garantem acessibilidade cultural, com banheiros químicos adaptados, assentos preferenciais, audiodescrição e tradução simultânea em Libras, a língua brasileira de sinais.

Arte na luta contra a fome – O projeto RicoChoro ComVida na Praça é parceiro do “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo da campanha é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O evento é gratuito e aberto ao público, mas recomenda-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, como gesto concreto de engajamento na campanha. O volume arrecadado será destinado a comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Jorge Choairy, Quarteto Crivador, o cantor Cláudio Lima, com participação especial de Dicy Rocha, e o poeta e jornalista Celso Borges
Quando: dia 27 (sábado), às 19h
Onde: Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico de São Luís
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

Do Cohatrac ao Desterro: temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça termina sábado que vem

O encontro de Bia Mar e Carlos Cuíca no palco do RicoChoro ComVida na Praça. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

O segundo sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça ocupou a de Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac, sábado passado (20) no diálogo saudável e estimulante entre músicos e plateia, com a participação da comunidade, entre os que fruíam a roda de choro e os que aproveitavam a passagem do dj Marcos Vinícius, do Instrumental Tangará e dos cantores e compositores Bia Mar e Carlos Cuíca pelo bairro para fazer um extra, entre vendedores ambulantes e os bares, restaurantes e churrasquinhos do entorno.

Nos 10 anos da lei de cotas e o atual momento de revisão da referida legislação, Marcos Vinícius mandou o recado pela música de Macau interpretada por Sandra de Sá, que canta “todo brasileiro tem sangue crioulo”, em “Olhos coloridos”, hit absoluto desde o lançamento, um dos pontos altos de sua sempre caprichada sequência.

Acompanhados por um Tangará que caprichou na homenagem a Jacob do Bandolim (1918-1969) – o “herdeiro” Hamilton de Holanda estava na cidade para um show na véspera – falecido há 53 anos, num 13 de agosto. Dele tocaram “Noites cariocas” – “hoje vai virar “Noites ludovicenses”, brincou o acordeonista Andrezinho –, “Assanhado” e “Doce de coco”. O grupo se completa com Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas).

Bia Mar e Carlos Cuíca fugiram do óbvio em seus repertórios, cujos pontos altos (a escolha não é fácil e essa é uma opinião pessoal) foram, respectivamente “Reconvexo” (Caetano Veloso) e “Mestre Antonio Vieira” (Carlos Cuíca), revelando referências e inspirações.

Sábado que vem (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital, acontece o último sarau da temporada. As atrações são o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador – formado por Marquinhos Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Wendell de la Salles (bandolim) e Tiago Fernandes (violão sete cordas) – e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial de Dicy, que farão uma homenagem ao repertório do antológico elepê “Lances de agora” (1978), de Chico Maranhão. Na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento de seu livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão”, com leitura de trechos da obra.

Dylan e Marley serão homenageados no sarau Vinil e Poesia

Tertúlia é retomada hoje pela dj Vanessa Serra e terá como convidado o poeta Fernando Abreu

Bob Dylan. Foto: Press Association/AP. Reprodução
Bob Marley. Foto: reprodução

Em 1989 o hoje oitentão Gilberto Gil lançou “De Bob Dylan a Bob Marley – um samba-provocação”, um dos tantos libelos antirracistas de sua vasta obra, faixa de “O eterno deus Mu dança”. Diz o baiano no refrão: “Bob Marley morreu/ porque além de negro era judeu/ Michael Jackson ainda resiste/ porque além de branco ficou triste”.

Bob Marley (1945-1981), primeiro artista pop de fama internacional, tornou-se o rei do reggae e tornou o gênero jamaicano um dos mais populares ao redor do mundo. Bob Dylan (1941-), com suas letras épicas quilométricas, levou o Nobel de literatura em 2016, para o qual sua obra musical pesou sobremaneira.

A dj anfitriã do sarau Vinil e Poesia Vanessa Serra. Foto: Marco Salles. Divulgação
O poeta Fernando Abreu em entrevista ao saudoso Radioletra, na Rádio Timbira AM. Foto: Zema Ribeiro

Ambos serão homenageados hoje (21) na retomada do sarau Vinil e Poesia, tertúlia poético-musical-etilírica-afetiva capitaneada pela jornalista e produtora cultural Vanessa Serra, a dj anfitriã. O convidado de hoje é o poeta Fernando Abreu, que tem nos Roberts Nesta e Zimmerman, dois artistas de sua predileção.

O poeta explica a gênese da ideia: “já tem pelo menos uns cinco anos que venho pensando em juntar canções desses dois gigantes em um recital. Contemplamos fases bem diversas dos dois, desde os primeiros discos, com um tratamento que privilegia a poesia das letras, buscando pontos de contato com os poemas. Acho que conseguimos”, aposta.

Em dezembro de 2019 este repórter participou da primeira edição do sarau Vinil e Poesia. Na ocasião, disse alguns poemas de Marcelo Montenegro e Paulo Leminski, dois de meus poetas preferidos. E Vanessa Serra levava livros de sua biblioteca particular, com destaque para autores maranhenses, para estimular a participação do público.

Eram tempos pré-pandêmicos – mas disso não tínhamos como saber, à época. O sarau tomou corpo no Cazumbá Lounge, na Lagoa, à época da primeira administração. Mas a primeira vez que o nome Vinil e Poesia foi usado na divulgação remete ainda à temporada que a dj realizou no restaurante Flor de Vinagreira, na Praia Grande, quando o performer Hélio Martins participou de uma das edições, recitando um poema da maranhense Lúcia Santos.

A interação de artistas da música e da poesia e do público, que passou a se interessar por presenciar o evento semanal, além de eventualmente subir ao palco, consagrou o evento, cujos encontros acabaram migrando para o formato virtual, com o avanço da pandemia de covid-19 e suas consequentes restrições. O Vinil e Poesia passou a acontecer às quartas-feiras, com transmissão pelo canal da dj no instagram – os primeiros convidados foram os cantores e compositores Josias Sobrinho e Jorge Thadeu. Aos domingos pela manhã, a princípio também pelo instagram e, posteriormente, pelo twitch, ela também realizada a Alvorada, do quintal de sua casa, que logo angariou uma audiência fiel.

As adesões de artistas ao projeto e seu formato despojado redundaram no elepê “Vinil e Poesia”, que teve metade da tiragem doada para djs e formadores de opinião. Realizado com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, o disco tem 14 faixas, está disponível também nas plataformas de streaming e é quase um milagre, pelo tempo recorde de produção e a constelação reunida, que inclui nomes como As Brasileirinhas, Betto Pereira, Célia Leite, Celso Borges, César Nascimento, Eloy Melônio, Jorge Passinho, Josias Sobrinho, Lúcia Santos, Mano Borges, Nosly e Zeca Baleiro, entre outros.

“Quando o disco chegou foi aquela felicidade tamanha. Você vê um produto seu que você pode pegar, um sonho que foi realizado de forma tátil, com a adesão de pessoas tão significativas, capa de Betto Pereira. Foi uma coisa muito especial. Até hoje, quando eu paro para pensar, eu digo “meu Deus, como foi que eu consegui?”, e eu só consegui porque eu não fiz nada só. Nós tivemos uma equipe maravilhosa, com a participação fundamental do estúdio Zabumba Records, com a produção executiva de Suzana Fernandes e direção artístico-musical de Luiz Cláudio. A gente conversava, eu dizia como eu queria, como eu pensava, ele me mostrava, e deu super certo. Em um mês nós conseguimos realizar a gravação desse disco. 14 faixas em um mês é uma coisa absurda”, relembra Vanessa Serra, que levou o prêmio Papete na Festa da Música do Maranhão em 2021 com este trabalho.

“Eu costumo receber mensagens de djs, me dizendo que estão tocando o disco, eu ouço o disco na rádio, a alegria maior é ver essa música reverberar, que é o grande propósito de ter feito esse disco, ter essa produção fonográfica do Maranhão, com artistas dessa magnitude em circulação por todo o país”, celebra a dj, que reuniu 22 artistas em 14 faixas, entre poetas, cantores e compositores. Ela pretende lançar um segundo volume em breve.

“Eu e Fernando Abreu sempre conversamos, ele também participou da live, ele me mandou uma música, “Meio Bob, meio Marley”, e eu disse que era boa, e na hora deu pra perceber que era um brasileiro cantando. E era ele. Aí eu fui rever a live, como o papo fluiu, e ele me disse que estava fazendo algumas experimentações. Aí deu a vontade de a gente repetir a dose”, lembra Vanessa.

Autor de “Relatos do escambau” (1998), “O umbigo do mudo” (2003), “Aliado involuntário” (2011), “Manual de pintura rupestre” (2015) e “Contra todo alegado endurecimento do coração” (2019), Fernando Abreu não é um neófito quando o assunto é levar poemas das páginas dos livros para o palco, esteja ele montado numa biblioteca, numa praça ou num bar.

“A curtição de estar no palco vem desde os tempos heróicos da Akademia dos Párias [grupo de estudantes/poetas que agitou a cena literária e boêmia da ilha, em meados da década de 1980], e permanece até hoje. Não vamos fazer um show de música, mas um recital de poesia e música. Sou um cantor apenas na medida em que todo poeta é um cantor, embora minha ligação com a canção popular antiga e profunda, de influência mesmo. Nesse caso, versões livres de canções de Marley e Dylan, ambas em parceria com Celso Borges, dão conta dessa intimidade. Ou seja, a experiência de letrista está ligada à experiência com poesia de uma forma geral”, afirma o poeta, que teve os dois livros mais recentes publicados pela carioca 7Letras, mesma editora por que lançará “Esses são os dias”, ainda este ano – o público presente ao sarau de hoje terá oportunidade de ouvir em primeira mão, alguns poemas deste volume vindouro.

“Estamos todos muitos sofridos, as dores da pandemia se somam ao horror de um governo perverso e genocida. Precisamos de alento, e esse projeto, com a coragem e a vontade de pôr a poesia em cena, é um grande alento e alimento para muita gente. E é com o propósito de contribuir, de oferecer também algum alimento, que estamos participando, eu e Lucas Ferreira [multi-instrumentista e letrista da Babycarpets, sobrinho do poeta], com grande alegria”, convida Fernando Abreu.

O evento muda de palco e hoje reencontrará seu público em formato presencial no Soul Lounge SLZ (Av. Litorânea, Calhau), às 20h – o couvert artístico individual custa R$ 12,00.

Luiz Jr. Maranhão homenageia Papete em show

[release]

Repertório prestigia músicas que se tornaram clássicas na voz do artista, mas vai além; apresentação terá participações especiais de Josias Sobrinho, Djalma Chaves, Ribinha de Maracanã, dj Pedro Sobrinho e convidado surpresa

O cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Jr. Maranhão. Foto: Ton Bezerra. Divulgação

O legado de Papete será lembrado em show em homenagem ao artista, falecido em 2016. O bacabalense José de Ribamar Viana, seu nome de batismo, é considerado um embaixador da cultura popular maranhense, que ele ajudou a tornar mais conhecida mundo afora. Em 1978 lançou o elepê “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira), considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão.

O show “Canta Papete”, do cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Jr. Maranhão acontece neste sábado (4), às 21h, no Estaleiro Gastrobar (Rua do Trapiche, Praia Grande, próximo à Praça dos Catraieiros e Casa do Maranhão). O repertório, além dos clássicos do “Bandeira de aço” – assinados por Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe –, passeia por outros compositores gravados por Papete em sua discografia, por músicas que ele gravaria (caso de “Matraca matreira”, de Joãozinho Ribeiro) e por homenagens (“Terreiro”, que Luiz Jr. Maranhão compôs em homenagem a Papete e gravou em seu disco com a participação do homenageado).

“O repertório consiste nas músicas consagradas pelo Papete, começando pelo “Bandeira de aço”, mas eu dei uma atualizada, fazendo um exercício de pensar também em músicas que Papete poderia ter gravado, músicas atuais da cultura popular do Maranhão, além de três músicas autorais, “Saudade de São João”, que eu lancei o videoclipe ano passado, “Zabumbada na ilha” e “Boizinho guerreiro”, que eu fiz em parceria com Celso Borges”, antecipa Luiz Jr. Maranhão.

Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas, guitarra e viola caipira) será acompanhado por Dark (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Cleuton Silva (baixo), Edinho Bastos (guitarra), Murilo Rego (teclado), Danilo Santos (saxofone e flauta) e Hugo Carafunim (trompete). O show contará ainda com as participações especiais do dj Pedro Sobrinho e dos cantores e compositores Josias Sobrinho, Djalma Chaves e Ribinha de Maracanã, além de uma participação surpresa.

Os ingressos custam R$ 50,00 (individual), R$ 90,00 (casadinha) e R$ 250,00 (mesa) e podem ser reservados ou adquiridos antecipadamente pelo telefone/whatsapp (98) 99112-5481 (Tatiana Ramos). A produção é da RicoChoro Produções Culturais.

Serviço
O quê: show “Canta Papete”
Quem: Luiz Jr. Maranhão e banda. Participações especiais: Josias Sobrinho, Djalma Chaves, Ribinha de Maracanã, dj Pedro Sobrinho e convidado surpresa
Onde: Estaleiro Gastrobar (Rua do Trapiche, Praia Grande; próximo à Praça dos Catraieiros e Casa do Maranhão)
Quando: dia 4 (sábado), às 21h
Quanto: R$ 50,00 (individual), R$ 90,00 (casadinha) e R$ 250,00 (mesa)
Informações, reservas e vendas antecipadas: (98) 99112-5481 (Tatiana Ramos).
Produção: RicoChoro Produções Culturais.

“Violivoz”: Chico César e Geraldo Azevedo para êxtase da plateia

Fotos: Hebert Alves. Divulgação

Foi uma noite de fartura.

O cearense Lucas Ló, radicado há cinco anos em São Luís, desfiou um repertório inteiramente nordestino, com especial destaque para o ídolo conterrâneo Belchior, com bastante personalidade.

Acompanhado por Jessé Fonseca, num teclado cheio de balanço e personalidade, passeou ainda por nomes como Fagner, Djavan, Carlinhos Veloz, César Nascimento, Sérgio Habibe e Josias Sobrinho.

Aos pedidos insistentes de “Barco de papel”, joia de sua autoria, respondeu com um educado “já rolou”; o pedido partia dos que adentraram a sala atrasados. Um dos nomes mais sofisticados da noite ludovicense, Ló se apresentou por cerca de hora e meia preparando o terreno para a noite inesquecível que viria, ao mesmo tempo sendo parte dela.

Não faltaram clássicos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Pequeno mapa do tempo”, “Alucinação”, “Fotografia 3×4”, “A palo seco” e “Mucuripe”, da lavra de Belchior, esta última em parceria com Fagner, “Noturno” (Graco/ Caio Silvio), “Serrado” (Djavan), “Ilha bela” (Carlinhos Veloz), “Ilha magnética” (César Nascimento), “Eulália” (Sérgio Habibe) e “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

“Se alguém me dissesse, há cinco anos, quando saí do meu Ceará, que hoje eu estaria aqui, abrindo o show dessas duas figuras centrais na minha formação, nesse teatro lotado, eu não acreditaria. É um momento muito importante para mim”, revelou Ló, agradecendo a presença do público, em cujo repertório se destaca ainda a também autoral “Ode a São Luís”, inédita, em que ele, de certo modo canta sua rota e a receptividade com que foi acolhido na ilha do amor. Uma avant-première aos atentos que chegaram cedo.

Quando Chico César e Geraldo Azevedo subiram ao palco, a cama estava pronta.

“Violivoz” é um show vigoroso e sincero. Sobem ao palco sem firulas, dizendo logo a que vieram: atacam a introdução de “Táxi lunar” (Alceu Valença/ Geraldo Azevedo/ Zé Ramalho), mas antes de cantarem, emendam a “Cantiga (Caicó)”, das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, sucesso de Teca Calazans, com alterações na letra, a homenagear suas terras natais e reafirmar a admiração mútua: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou a pé/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Catolé”, começa Chico, referindo-se a Catolé do Rocha, na Paraíba, seguido por Geraldo: “oh, mana, deixa eu ir/ andar é minha sina/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Petrolina”, e depois: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou cedo/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Geraldo Azevedo” e “oh, mana, deixa eu ir/ andar com quem me preza/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Chico César”. A determinada altura de “Táxi lunar”, Geraldo Azevedo solta um “vai, Zé!” e Chico César imita a voz de Zé Ramalho. E era apenas o primeiro número.

O vigor a que me referi diz respeito ao fato de a dupla cantar e tocar – e por vezes dançar – por duas horas e 15 minutos de espetáculo, de pé. A sinceridade é percebida na admiração mútua várias vezes declarada. Um é fã do outro, os dois se tornaram amigos e parceiros. Geraldo Azevedo, ao lembrar de como se conheceram, convidado a gravar uma música de Chico César em um disco produzido por Totonho, que homenageava as vítimas da chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, nunca lançado, já percebeu ali suas qualidades. Depois, quando Chico lançou “Aos vivos” (1995), seu disco de estreia, revelou ter comprado 50 exemplares e distribuído a amigos, produtores, em suas turnês pelo Brasil e Europa. “O Belchior, que é da minha geração, dizia que “nossos ídolos ainda são os mesmos” e Chico César era um ídolo novo e eu queria apresentá-lo pra todo mundo”, disse Geraldo. Chico completou: “Belchior também dizia que “o novo sempre vem”” e revelou a influência exercida sobre o então adolescente pelo disco “Cantoria 1” (1984), que registrou o encontro de Geraldo com Elomar, Vital Farias e Xangai.

“Para mim é uma alegria muito grande dividir o palco com Geraldo Azevedo, é uma baita honra vê-lo cantando uma música minha”, declarou Chico, depois de cantarem juntos “Estado de poesia” (Chico César).

É um show de entrega. Não há momentos solo de um e outro artista. Eles cantam juntos o tempo inteiro o repertório um do outro e de artistas admirados, casos de Geraldo Vandré (“Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)” é emendada a “Mama África”, de Chico), Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”, gravada por Geraldo em 1979) e Paul Anka (a versão de Fred Jorge para “Diana”). Ninguém se cansa: nem os artistas no palco, nem a plateia. Todo mundo em comunhão. Ou quase.

Quando Chico César anunciou que cantaria “outra canção de amor, de nosso amor pela Terra, pelos pequenos agricultores, uma parceria minha com Carlos Rennó”, e atacou de “Reis do agronegócio”, um coro de “Fora Bolsonaro!” se ouviu no Centro de Convenções. Uma tentativa de vaia, raquítica, foi encoberta, e prevaleceu a vontade da maioria. Outros gritos de “Fora Bolsonaro!” vieram e Chico César, numa sequência demolidora, mandou, sempre acompanhado por Geraldo Azevedo, “Pedrada” (Chico César), cujo refrão diz: “fogo nos fascistas, fogo Jah!”. “Essa música, a primeira vez que eu cantei, foi em cima dum trio elétrico, num carnaval, aqui em São Luís, para 100 mil pessoas, e eu fiquei muito contente com a receptividade”, lembrou.

Em “Bicho de sete cabeças” (Geraldo Azevedo/ Renato Rocha/ Zé Ramalho), passaram perto de 10 minutos solando seus violões, até cada um cantar uma parte da letra, sem as sobreposições que a tornaram um clássico. Comentaram a pandemia, o isolamento social, a gênese do show, após Chico ter assistido a um show de Geraldo em São Paulo e terem ido para a casa do primeiro, depois do espetáculo, tocar violão na cozinha. Tocaram duas parcerias, uma inédita e o single “Nem na rodoviária”, já disponível nas plataformas de streaming.

São duas gerações de artistas, convivendo harmoniosa e respeitosamente, Geraldo aos 77 anos, Chico aos 58. Têm a mesma grandeza e importância. Nenhum se sobressai ao outro e o equilíbrio é também uma característica de destaque do show. São dois artistas que, cada um a seu tempo, souberam cativar o público de São Luís – suas apresentações por aqui são sempre marcadas por casas cheias e intensa interação das plateias. Ontem não foi diferente.

Perto do fim do show, Geraldo apenas ameaçou cantar “Terra à vista” (Carlos Fernando). Puxou o “San, san, san, São Luís do Mará” do refrão, que a plateia imediatamente repetiu em coro, mas deixou apenas a vontade no público. Alguém na plateia, insistentemente pedia “Pétala”, não o sucesso de Djavan, mas abreviando o título de “Pétala por pétala” (Chico César/ Vanessa Bumagny). “A gente vê muito homem ansioso, mulher é menos. A mulher goza melhor por que ela goza depois, goza mais e melhor; o homem é sempre aquela pressa, de querer gozar logo”, contou para gargalhadas da plateia e o não-atendimento ao pedido renitente.

Chico César citou vários amigos, maranhense ilustres, afirmando ser uma honra estar mais uma vez em sua terra: Papete, Rita Benneditto, Josias Sobrinho, Chico Saldanha, Flávia Bittencourt, Alcione. E Celso Borges, a quem fez especial deferência: “foi quem me apresentou a Zeca Baleiro. A gente já morava em São Paulo e ele um dia me disse: olha, tem um amigo meu, do Maranhão, vindo morar aqui, é meio doidinho assim que nem tu, não é bem compreendido em nossa terra; isso naquela época, e eu entendi de cara o que ele queria dizer”, contou, para risadas da plateia. Em seguida ofereceu-lhe “Você se lembra” (Geraldo Azevedo/ Pippo Spera/ Fausto Nilo).

Também cantaram juntos “Pedra de responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) e na sequência Geraldo puxou, a capella, o refrão de “Cadê meu carnaval” (Geraldo Azevedo), que ele cantou, modificando a letra: “Olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ carnaval está chegando/ cadê meu carnaval?” – a letra original diz “carnaval está morrendo”. O público ficou cantando enquanto eles se retiraram do palco.

Aos gritos de mais um, retornaram, para delírio dos presentes, mandando o clássico “Dona da minha cabeça” (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo), em arranjo de reggae. Já não havia mais ninguém sentado, praticamente todo mundo cantava junto e alguns casais arriscavam uns passos.

Um final apoteótico de um show antológico, de uma turnê adiada e interrompida pela pandemia de covid-19, indefinidamente prorrogada pela irresponsabilidade de uns poucos que insistem em querer um Brasil feio e triste, justamente o contrário do colorido das roupas dos artistas e da diversidade que sua música representa, afinal de contas o Brasil alegre e festeiro, que haverá de prevalecer. Espero que este dueto, esta cantoria, este grande encontro, vire disco. Oxalá!

Live celebra 15 anos de “Paisagem feita de tempo”

[release]

Paisagem feita de tempo. Capa. Reprodução

Com a presença de poetas, acadêmicos e jornalistas, evento online celebra os 15 anos do livro de estreia de Joãozinho Ribeiro

Este ano o livro “Paisagem Feita de Tempo”, do poeta maranhense Joãozinho Ribeiro, completa 15 anos de lançamento, realizado em abril de 2006. A primeira edição do livro está completamente esgotada e atualmente o autor está buscando meios de viabilizar uma nova edição.

Objeto de vários estudos acadêmicos, com destaque para os da professora pós-doutora em Teoria Literária Silvana Pantoja (UEMA/UESPI) e do professor doutor Valmir de Souza (USP), a obra poética, com características autobiográficas, é uma verdadeira declaração de afetos pela cidade de São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade, e pelos seus habitantes.

Embora mais conhecido como compositor, Joãozinho Ribeiro tem também uma obra poética consistente, inédita em livro – a citar “Paisagem feita de tempo”, e outras que ainda anseiam por merecidas publicações. Uma curiosidade é que vários trechos da obra viraram música, casos de “Amália”, que homenageia sua mãe, “Rua Grande” (parceria com Zezé Alves), “Anonimato” (musicada por Chico César), em homenagem a seu pai, e o clássico “Milhões de uns”, gravada por Célia Maria.

No próximo dia 24 de setembro, às 19h, será realizada uma live para celebrar a efeméride, com as presenças dos professores Silvana Pantoja e Valmir de Souza; dos premiados poetas Celso Borges (que escreveu a orelha da edição original) e Hamilton Faria (que assinou o prefácio), do jornalista Zema Ribeiro, além do autor Joãozinho Ribeiro.

A transmissão acontecerá pelo canal da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) no youtube.

Divulgação

Serviço

O quê: live Tempo e paisagens: 15 anos de “Paisagem feita de tempo”
Quem: o poeta Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dia 24 de setembro (sexta-feira), às 19h
Onde: canal da SMDH no youtube
Quanto: grátis

Do bar ao vinil

[release]

Ao longo de um ano de “Vinil & Poesia”, a dj Vanessa Serra reuniu a nata da música e poesia produzidas no Maranhão; o resultado pode ser conferido no elepê que leva o nome do projeto

Vinil & Poesia. Capa. Reprodução

Em dezembro do ano passado, em casa de nome mais que apropriado, o Cazumbá Lounge, na Lagoa, a dj Vanessa Serra estreou seu projeto “Vinil & Poesia”, aliando duas paixões.

Já era uma dj consagrada, apesar do pouco tempo de estrada. Jornalista de formação e produtora de profissão, só começou a levar a discotecagem a sério em 2016. Sem firulas, como escrevi em seu release oficial, que tive a honra de escrever a pedido.

Não me peçam impessoalidade: fui o primeiro a subir àquele palco, recitando Paulo Leminski e Marcelo Montenegro, dois poetas de minha predileção, e é impossível não lembrar disso com emoção.

Além dos vinis de seu ofício, Vanessa Serra havia levado uns livros, priorizando autores e autoras maranhenses, instigando o público a participar. O que no início tinha jeito de brincadeira, tomou ares sérios, mas não ficou algo careta. Às quartas-feiras, a tertúlia semanal começou a receber poetas e músicos como convidados, para canjas ao vivo, durante o set da dj.

Aí veio a pandemia. O isolamento social. O lockdown. As inúmeras lives que foram/fomos inventando e reinventando para suportar a saudade da vida social, de ir ao bar, de jogar conversa fora, de ouvir boa música nas companhias de amores e amigos. Entre elas o “Vinil & Poesia”, que Vanessa Serra nunca deixou de fazer, mesmo quando foi obrigada ao formato online.

Somente recentemente, com a liberação de eventos de pequeno porte, observadas as normas de segurança sanitária vigentes, ela voltou a realizar o evento ao vivo, a partir do Cazumbá Lounge.

O projeto já era vitorioso ao estimular o diálogo entre música de qualidade e tirar a poesia do lugar solene da página do livro e levá-la ao bar, para ser dita e ouvida por gente atenta, curiosa e esperta. Gente antenada, enfim. Mas uma vitória de um a zero é menos gostosa que uma goleada e Vanessa Serra marca mais um golaço: 14 participações de artistas nas noites do “Vinil & Poesia” estão registradas em um disco de vinil. É luxo só, como diria o poeta.

“Vinil & Poesia” é uma realização de VS Comunicação e Cultura, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Gravado no estúdio Zabumba Records, reúne uma constelação de primeira grandeza da música e poesia produzidas em terras maranhenses.

Na ordem de aparição, Lúcia Santos diz seu poema “No umbigo da noite insana”; Célia Leite zabumba em “Pedras de cantaria” (parceria dela com Jorge Passinho, que faz participação especial na faixa); Mano Borges evoca os ares oitentistas da intensa produção musical maranhense daquela década em “Duas ruas desertas”, de sua autoria; “De São Marcos a São José” nos conduz, pelo sotaque, ao Vale do Pindaré, na parceria de Eloy Melônio e Josias Sobrinho, cantada por este; “Esse tu” é mais uma delicada amostra da parceria profícua de Celso Borges e Nosly, que a interpreta; “Tanto fogo” (Jorge Passinho/ Inaldo Lisboa/ Maninho Quadros), interpretada por Dicy, com participação especial de Santacruz, mete o dedo em ferida atualíssima da tragédia brasileira; César Nascimento cantando o xote “João do Vale, minha homenagem”, de sua autoria, fecha o lado A do disco.

O lado B abre com a voz de Celso Borges em seu poema/toada hi-tech “Tambor de crioula”; “Chovia no canavial”, com que Zeca Baleiro presenteou o projeto, ganha interpretação especial do grupo As Brasileirinhas; o multifacetado Jorge Thadeu comparece com “Guajajara”, de sua autoria; “Ventre livre”, de Luís Du Rosário, é a bela estreia em disco de um artista que não encarou a música como profissão, apesar do imenso talento; Gerude relê o clássico “Jamaica São Luís”, parceria sua com Cyba Carvalho; Betto Pereira comparece ao disco para além da embalagem: canta o reggae “Nação vibration”, parceria sua com o jornalista Gilberto Mineiro; e Tutuca Viana fecha o álbum com a balada “Luz de neon”, que escreveu em parceria com João Marques.

A riqueza deste álbum está no atrito entre poesia e música, para além da leitura de poemas com fundo musical e da pergunta mofada “letra de música é poesia?”, num diálogo estimulante entre gêneros, gerações e a diversidade da cultura popular do Maranhão, ao mesmo tempo plural (pela variedade) e singular (certas coisas só existem por aqui).

“Aqui conseguimos reunir um belo roteiro de canções… Acordes e versos, palavras e tons, memórias profundas, alimento para a alma da gente… “Vinil & Poesia”, de fato, é uma imensidão de sentimentos… É coletividade, pertencimento, entrega e amor”, sintetiza a jornalista, dj e produtora Vanessa Serra em texto na contracapa do elepê.

Ela assina a concepção do projeto e direção geral, que tem direção técnica de Maurício Capella (companheiro de arte e vida), direção artística de Luiz Cláudio, direção musical de João Simas, produção executiva de Suzana Fernandes e produção técnica de Joaquim Zion (seu padrinho no ofício da discotecagem). As artes de capa, contracapa e encarte são de Betto Pereira e o projeto gráfico é de Eric Félix. O álbum é dedicado “à memória, vida e obra de Raimundo Nonato Rodrigues de Araújo (Maestro Nonato), Nonato Buzar, Papete e Gérson da Conceição”.

Muita gente procura o bar para espairecer e vai ao lugar certo. Outros afogam mágoas e também não estão no lugar errado. Alguns, no dia seguinte, querem esquecer o que fizeram. Vanessa Serra eterniza um momento bonito e importante, de um projeto frequentado por “gente fina, elegante e sincera”. Agora, mesmo quem não sai à noite, não frequenta bares ou não curte um drinque, pode levar “Vinil & Poesia” para casa. A inscrição “volume 1”, que lemos na capa do disco, já nos leva a responder, como naquele velho rock: mais uma dose? É claro que eu tô a fim.

Serviço – A live de lançamento de “Vinil & Poesia”, com a presença dos artistas que participam do álbum, será realizada dia 16 de dezembro (quarta-feira), às 20h, com transmissão simultânea pelos perfis da dj Vanessa Serra no instagram e youtube. O projeto é uma realização de VS Comunicação e Cultura, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.

Uma lufada de alegria, beleza e inteligência

[Com as bênçãos de Celso Borges e Otávio Rodrigues, baita honra e enorme responsabilidade ter recebido o convite para escrever o release oficial deste disco lindo, que chega às plataformas no próximo dia 30]

Maestro Tiquinho em sessão de gravação de "Trombonesia". Foto: Paola Vianna
Maestro Tiquinho em sessão de gravação de “Trombonesia”. Foto: Paola Vianna

O apelido no diminutivo usado como nome artístico não traduz, de cara, a grandeza de Marco Aurélio de Santis. Maestro Tiquinho, como acabou ficando conhecido no meio musical, é um desses arquitetos da música popular brasileira cujo nome quase nunca figura nas placas de inauguração das obras, mas está lá para quem quiser ver e ouvir. Fossem os meios de comunicação mais dispostos ao aprofundamento e os ouvintes em geral mais curiosos, o trombonista seria merecidamente mais conhecido.

De Chico Science a Gal Costa, passando por Chico César e Zeca Baleiro, além de Elza Soares, Marcelo Jeneci, Jorge Benjor, Seu Jorge, Gilberto Gil, João Donato, Tom Zé, Erasmo Carlos, Nando Reis, Skank, Tião Carvalho e Papete, entre outros, além de bandas que integra/ou – Professor Antena, Clube do Balanço, Karnak e Funk Como Le Gusta –, pelo leque é possível perceber a abrangência de seu trombone elegante.

"Trombonesia". Capa. Reprodução. Arte de Gian La Barbera
“Trombonesia”. Capa. Reprodução. Arte de Gian La Barbera

Tiquinho acaba de lançar o aguardado e merecido disco solo de estreia, “Trombonesia”, título que evoca o encontro de seu conteúdo: o trombone do mago com a poesia, pelas vozes dos dub poets André Abujamra, Celso Borges, Chico César, Fernanda Takai e Zeca Baleiro, convidados mais que especiais que contribuem para o brilho e a brisa dessa tertúlia poético-musical. O álbum foi realizado através do Edital de Apoio à Criação Artística – Linguagem Reggae – da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

““Trombonesia” não é apenas o nome do álbum, mas uma palavra que nasce para unir sons, artes e estilos, sem usar de estereótipos ou padrões definidos”, afirma ele, ao mesmo tempo ourives e alquimista. Produzido por BiD, gravado ao vivo no estúdio Space Blues por Alexandre Fontanetti, e mixado por Victor Rice, todos magos em seus ofícios, o disco é arejado e ensolarado, com ecos de nomes como Don Drummond, Joseph Cameron, Nambo Robinson, Rico Rodriguez e Vin Gordon, para citar alguns de seus colegas de instrumento, em cujas fontes certamente Tiquinho bebeu para embriagar-nos.

Se aqueles foram fundamentais para o que acabamos por chamar de “clima” ou “mística natural” do reggae jamaicano, Tiquinho navega com desenvoltura por estes m/ares, aproximando Jamaica e Brasil – o sopro do paulista de Bauru nos leva a voar e pousar precisamente em São Luís do Maranhão, não à toa alcunhada Jamaica brasileira.

Mas tudo isto é pouco para tentar entender, explicar, rotular ou traduzir sua sonoridade (o que, na verdade, é tarefa impossível): ao mesmo tempo você está em um clube de reggae, em uma festa de sound system, em um baile black. O tempo é tema recorrente no repertório e os tons afogueados do projeto gráfico (de Gian Paolo La Barbera) ajudam a entender imediatamente que a coisa é quente.

Tiquinho assina todas as composições e arranjos do disco, em que é acompanhado por Edu SattaJah (contrabaixo elétrico e acústico), Rogério Rochlitz (piano acústico, órgão Hammond e piano elétrico), Che Alexandre Caparroz (bateria) e Simone Sou (percussão em “Oriente-se”). Em tempos de “duelo de eu e ego” (como salienta Chico César no canto falado de “Oriente-se”) “Trombonesia” é uma lufada de alegria, beleza e inteligência, estes ingredientes de brasilidade que alguns tristes andam querendo caçar nestes tempos de trevas – que Maestro Tiquinho e suas boas companhias teimam em iluminar. Para sorte e felicidade nossa! Jah bless!

Serviço: lançamento de “Trombonesia“, disco solo de estreia de Maestro Tiquinho. Dia 30 em todas as plataformas digitais.