Lições de um bandido

Coringa. Frame. Reprodução
Coringa. Frame. Reprodução

 

Dizer que Coringa [Joker, EUA, 2019, 122 min.] é uma obra-prima pode soar redundante. Roteiro bem amarrado, atuação exuberante de Joaquin Phoenix, fotografia caprichada, trilha sonora impecável e a memória afetiva de um personagem que todos sabemos bandido, mas que sempre teve o atenuante de sua maquiagem e sua gargalhada sui generis.

É um filme de formação: de algum modo explica ou joga luz sobre como Coringa se tornou o assassino implacável e a sangue frio que é. Para matar, vale o que estiver às mãos: um revólver, uma tesoura, as algemas, as próprias mãos.

Tomando o Coringa como um microcosmo da bandidagem em geral, é possível perceber nele o reflexo do passado, como se cair na criminalidade fosse uma reação (natural, automática) aos maus tratos em casa (violência doméstica) e na rua – a violência social a que estão submetidos os menos favorecidos, seja pelo descaso de governantes inescrupulosos, seja pela invisibilidade a que estão submetidos, com a pressa dos transeuntes.

É lógico que, por si só, isso não justifica e nem explica completamente, nem o personagem, nem qualquer criminoso. A questão é muito mais complexa.

Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um pobre-diabo com transtornos mentais, que toma(va) remédios controlados (até o dia em que o governo decide cortar a verba destinada ao programa social que lhe garantia medicação e atendimento psicológico) e vive sozinho com a mãe, velha e doente, num apartamento decadente. Seu emprego é um bico de palhaço, ajudando o comércio a vender, de onde será demitido.

Tomando Gotham City/Nova York como um microcosmo do planeta – ou do Brasil: é impossível não pensar num paralelo com o Brasil sob a ditadura bolsonarista –, nota-se uma crítica feroz ao consumo desenfreado, marca do capitalismo selvagem/neoliberalismo que pouco se importa com os que não podem consumir sequer o básico para sobreviver (para usarmos aqui um eufemismo) e uma crítica à política que governa (apenas) para as elites. E o caos, entre revolta popular e a greve do serviço de coleta de lixo.

É lógico que, por si só, isso não justifica sair por aí matando os que compõem essas elites, os que com elas simpatizam. A questão é muito mais complexa e não é possível enxergar Coringa como uma espécie de Robin Hood, deveria ser eticamente impossível enxergar o protagonista como herói.

Esta é, aliás, uma das lições do filme, sobretudo aos espectadores brasileiros: não se deve, seja lá qual for a motivação, tomar canalhas e psicopatas como heróis, mitos e que tais. No final, todo mundo sai perdendo e o troféu pela bravata pode ser uma espécie de delírio e suicídio coletivo. A outra lição que devemos aprender durante a sessão do filme de Todd Phillips, mas não só, é que a falta de empatia, alteridade, solidariedade está nos transformando em uma sociedade adoecida. No final, ninguém se salva sozinho.

Coringa. Cartaz. Reprodução
Coringa. Cartaz. Reprodução

Veja o trailer de Coringa:

500 estreia em São Luís

O Circuito Universitário de Cinema estreia, em São Luís, o filme 500 – Os bebês roubados pela ditadura argentina, de Alexandre Valenti.

A sessão acontece às 14h, no Cine Teatro Viriato Corrêa, no IFMA do Monte Castelo.

O Circuito exibirá ainda os filmes Setenta, de Emília Silveira, e Duas Histórias, de Ângela Zoe, que também têm como temática as ditaduras instaladas na América Latina na segunda metade do século XX.

A realização do Circuito é da MPC & Associados e Nádia Biondo assina a mobilização local.

Após a sessão haverá debate. Confira o trailer:

O camelo, o leão e a criança será lançado no Cine Praia Grande

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Rodado no Maranhão e Paraná, longa-metragem de Paulo Blitos dialoga com a obra de Nietzsche

Cartaz. Reprodução
Cartaz. Reprodução

 

O Cine Praia Grande, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande), será palco do lançamento de O camelo, o leão e a criança, longa-metragem de Paulo Blitos, rodado no Paraná e no Maranhão. A sessão de lançamento acontece dia 21 de agosto (quinta-feira), às 18h, a partir de quando o filme entra em cartaz nos cines Praia Grande e Lume (Office Tower, Renascença).

O filme entrecruza a trajetória de três personagens centrais, identificando neles a tipologia nietzschiana do capítulo Das três transformações, de Assim falou Zaratustra, importante obra do filósofo alemão.

Cada personagem se depara com a dimensão do estranho: a experiência de discriminação e seu fundo de violência, a vertigem do vício e da loucura, e ainda o indizível do transe místico.

Assista ao trailer:

Amanhã tem Baile Perfumado

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Uma das atrações é a querida Eloína Reis, esposa do brother DJ Franklin. Boa pedida, promessa de bailindo.

Dois bailes de aperitivo aos poucos mas fieis leitores: o Baile Catingoso do Mestre Ambrósio, pra entrar no clima junino que a festa certamente terá, impossível fugir:

E o Baile Perfumado de Fred Zeroquatro na voz de Stela Campos, que batiza a festa, homônima ao filme de Paulo Caldas e Lírio Ferreira sobre Benjamim Abraão, o homem que clicou Lampião.

Ambos os bailes aqui exibidos são da trilha sonora deste clássico do cinema nacional. No youtube tem versão completa. Deixo um trailer:

Programação de hoje (28) da 7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Cena de “Vestido de Laerte”

13hDisque Quilombola (David Reeks, Brasil, 14 min., 2012, documentário) > Vestido de Laerte (Claudia Priscilla/ Pedro Marques, Brasil, 13 min., 2012, ficção) > A Galinha que Burlou o Sistema (Quico Meirelles, Brasil, 15 min., 2012, documentário/ficção) > O Veneno Está na Mesa (Silvio Tendler, Brasil, 50 min., 2011, documentário)

15hPorcos Raivosos (Isabel Penoni/ Leonardo Sette, Brasil, 10 min., 2012, ficção) > O Cadeado (Leon Sampaio, Brasil, 12 min., 2012, ficção) > Dez Vezes Venceremos (Cristian Jure, Argentina, 75 min., 2011, documentário)

17hJuanita (Andrea Ferraz, Brasil, 8 min., 2011, documentário) > O Dia que Durou 21 Anos (Camilo Tavares, Brasil, 77 min., 2012, documentário)

19hEstruturas Metálicas (Cristián Vidal L., Chile, 47 min., 2011, documentário) > Saia se puder (Mariano Luque, Argentina, 66 min., 2012, ficção)

Para informações sobre ficha técnica, sinopse e classificação indicativa, clique sobre os títulos.

Lembrete: hoje, no intervalo entre a sessão das 17h e 19h, haverá apresentação do experimento teatral Negro Cosme em movimento, do grupo Cena Aberta.

A 7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul acontece no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy). Toda a programação é gratuita. Recomenda-se chegar entre meia hora e 15 minutos antes das sessões para a retirada dos ingressos na bilheteria.

7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul: confira a programação desta terça-feira (27)

13hVirou o Jogo: A História das Pintadas (Marcelo Villanova, Brasil, 15 min., 2012, documentário). > Chocó (Johnny Hendrix Hinestroza, Colômbia, 80 min., 2012, ficção; o trailer do filme, abaixo, está em espanhol, mas todas as exibições da mostra têm legendas, para garantir o acesso de pessoas com deficiência auditiva às sessões).

15hO Garoto que Mente (Marité Ugás, Venezuela, 99 min., 2011, ficção).

17hMenino do Cinco (Marcelo Matos de Oliveira/ Wallace Nogueira, Brasil, 20 min., 2012, ficção) > Maria da Penha: um Caso de Litígio Internacional (Felipe Diniz, Brasil, 13 min., 2011, documentário).

19hCom o Meu Coração em Yambo (María Fernanda Restrepo, Equador, 137 min., 2011, documentário).

Para ler as sinopses, fichas técnicas e classificações indicativas, clique nos títulos dos filmes.

Toda a programação da Mostra é gratuita e acontece no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy, Rua do Egito, Centro). Recomenda-se chegar entre meia hora e 15 minutos antes de cada sessão para a retirada dos ingressos na bilheteria.

“Se eu definisse o documentário, não fazia. Por isso não o defino.”

“O desejo não acaba nunca, né? E  teu problema é desejar que você tenha saúde física e espiritual, o que é complicado, pra poder fazer mais uns anos de cinema, o que é cada vez mais complicado.

Eu imagino que daqui a pouco, se eu tiver vivo, e as coisas se passam de repente, eu vou fazer documentário num palco em cadeira de rodas, aí eu vou ter que chamar os atores, então eu me vejo terminando feliz até de poder fazer um filme nem que seja em um estúdio de teatro chamando as pessoas, e fazer um filme de conversas, mesmo que seja em cadeira de rodas. Eu espero demorar pra chegar lá, mas pelo menos estarei trabalhando.

Agora crítica, não existe isso, cada filme é um filme, não tem filme da minha vida, e vai se somando um ao outro, eu fiz o Cabra [marcado pra morrer, 1984; o filme integra a programação da Mostra] porque tinha que fazer, passei quinze anos sem fazer nada e depois fiz Santo forte [1999; idem] e pude recomeçar uma carreira que tava jogada fora. E aí cada filme é igual e diferente do outro, sempre. Eu quero apenas fazer mais filmes, enquanto puder, do jeito que eu gosto de fazer, com uma certa liberdade, não de orçamento, mas pelo menos de escolher, de decisão final sobre um filme. E daí, quando somar tudo, alguém vai dizer o que presta e o que não presta, isso fica pra história. Mas pra mim, outras experiências fazendo o mesmo filme, que não é nunca o mesmo filme.”

Eduardo Coutinho em entrevista a Alcimeire Piana e Daniele Nantes, publicada em 2005 na revista Intermídias. A entrevista está coletada no volume da coleção Encontros [Azougue, 2009] dedicado ao documentarista, homenageado da 7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, cuja etapa São Luís tem início hoje, às 19h, no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy).

PROGRAMAÇÃO (DE HOJE)

19h > Sessão de abertura: O cadeado (Leon Sampaio, Brasil, 12 min., 2012, ficção) > A galinha que burlou o sistema (Quico Meirelles, Brasil, 15 min., 2012, documentário/ficção) > Menino do cinco (Marcelo Matos de Oliveira/ Wallace Nogueira, Brasil, 20 min., 2012, ficção) > A fábrica (Aly Muritiba, Brasil, 16 min., 2011, ficção). A sessão tem classificação indicativa de 12 anos.

Veja o trailer de A fábrica:

O blogue voltará a noticiar a etapa São Luís da Mostra. Todas as sessões são gratuitas e serão divulgadas aqui. Na de hoje recomenda-se chegar um pouco mais cedo: por ordem de chegada e respeitando o limite da sala (265 lugares mais três espaços reservados para cadeirantes) haverá distribuição de kits (sacola, camisa, catálogo, bloco, lápis, caneta). A sessão de abertura contará ainda com apresentação do Coral do Presídio Feminino.