22 de setembro

DIA SEM CARRO

Os ecologistas e outros irresponsáveis propõem que por um dia, o dia de hoje, os automóveis desapareçam do mundo.

Um dia sem carros? E se esse exemplo se contagia e passa a ser todos os dias?

Deus não queira e o Diabo tampouco.

Os hospitais e cemitérios perderiam sua mais numerosa clientela.

As ruas se encheriam de ridículos ciclistas e patéticos pedestres.

Os pulmões já não poderiam respirar o mais saboroso dos venenos.

As pernas, que se esqueceram de caminhar, tropeçariam em qualquer pedrinha.

O silêncio aturdiria os ouvidos.

As rodovias seriam deprimentes desertos.

As rádios, as televisões, as revistas e os jornais perderiam os seus mais generosos anunciantes.

Os países petroleiros ficariam condenados à miséria.

O milho, a cana de açúcar, agora convertidos em comida de carros, regressariam ao humilde prato humano.

Tradução de Rogério Tomaz Jr. para um dos 366 textos de Os filhos dos dias (Los hijos de los dias), novo livro de Eduardo Galeano, que chega ao Brasil em breve, traduzido por Eric Nepomuceno (nestes links, outros textos traduzidos pelo queridamigo Rojão e pelo apresentador de Sangue Latino). Grande notícia!

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