Lawrence Ferlinghetti recusa prêmio húngaro sobre Direitos Humanos

POR CAROLYN KELLOGG
DO LOS ANGELES TIMES BOOKS

TRADUÇÃO: ZEMA RIBEIRO

O poeta em frente à sua livraria em 2003

O poeta e editor Lawrence Ferlinghetti, proprietário da City Lights Bookstore em San Francisco, declinou de um prêmio húngaro de mais de 64 mil dólares, alegando preocupações sobre direitos civis e liberdade de expressão.

Não é pequena a ironia de que o prêmio recusado por Ferlinghetti, o Prêmio Internacional de Poesia Janus Pannonius (Janus Pannonius International Poetry Prize) seja oriundo de uma divisão húngara do PEN (caneta em inglês, a sigla), organização internacional que apoia a liberdade de escrever e frequentemente realiza campanhas para ajudar escritores que foram presos ou silenciados.

Ao saber que o prêmio foi parcialmente financiado pelo governo húngaro, Ferlinghetti escreveu uma carta expressando suas preocupações. “Se o prêmio é em parte financiado pelo governo húngaro, e as políticas de direita deste regime tendem ao autoritarismo e o consequente cercear das liberdades de expressão e civis, penso ser impossível, para mim, aceitá-lo nos Estados Unidos. Assim, devo recusar o prêmio em seus termos atuais”, diz um trecho.

Ferlinghetti (93) serviu a Marinha na Segunda Guerra Mundial. Estava na invasão da Normandia e visitou Nagasaki uma semana depois da bomba atômica.  Ela “era como um par de quilômetros quadrados cobertos de nada, mas com cabelo humano e ossos saindo, algo horrível de se ver”, declarou ao PBS (Public Broadcasting Service) há 10 anos. A experiência relatada foi o início das convicções políticas do pacifista.

Mas Ferlinghetti é também um lutador. Em 1956 ele colocou sua jovem livraria e editora no centro dos debates sobre a liberdade de expressão ao publicar Uivo, de Allen Ginsberg. O editor chegou a ser preso, mas foi absolvido pela corte, após provar que o poema não era obsceno.

Ao rejeitar o prêmio, Ferlinghetti tentou doar o dinheiro a um fundo de apoio a casos de liberdade de expressão na Hungria, mas não ficou satisfeito com os esforços da PEN húngara em atender seu requerimento.

* O tradutor agradece a leituratenta e as dicas preciosas de Igor de Sousa e Reuben da Cunha Rocha.

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