O choro de Rui Mário na emocionante primeira noite de Lençóis Jazz e Blues Festival 2025

Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton - foto: Zema Ribeiro
Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton – foto: Zema Ribeiro

Rui Mário chorou no palco. Pura emoção. Como a que fez sentir o público presente. Era a primeira vez dele ali, em um show solo, ele geralmente visto como músico acompanhante e diretor musical de um monte de artistas, como ele mesmo lembrou.

Ao lado de sua sanfona, seu nome figura em fichas técnicas de álbuns como “Shopping Brazil” (2004), de Cesar Teixeira, “Dente de ouro” (2005), de Josias Sobrinho, e “Olho de boi” (2009), de Gildomar Marinho, para citar poucos.

Acompanhado do irmão Tião Lima (zabumba) e do sobrinho Vinícius Lima (triângulo e pandeiro), o núcleo pé de serra de seu quarteto, mais o groove dos ensandecidos Dedé Valença (baixo) e Marcones Pinto (guitarra), Rui Mário (sanfona) fez um show vibrante, dançante (pena estarmos sentados nas poltronas de um teatro em vez de “numa sala de reboco” ou numa praça da cidade), num passeio entre os guarda-chuvas que se convencionaram chamar forró e jazz.

A base do repertório desfilado pelo quinteto foi o álbum “Baião de doido”, que Rui Mário lançou este ano. Começaram pela faixa-título e desafilaram um rosário de referências e reverências que passou por Seu Raimundinho (pai do sanfoneiro e patriarca de uma família de músicos, sei lá quantos trios de forró pé de serra é possível formar ao longo dos galhos de sua árvore genealógica) — “Frevo pro Seu Raimundinho” —, pela filha Maria Eduarda (muitos familiares do músico na plateia) — “Xote desencabulado” — e pelo colega de instrumento Eliézio — “Meu nobre Eliésio” —, outra figura fácil em fichas técnicas de discos da música popular brasileira produzida no Maranhão, ídolo e amigo “que vivia lá em casa, chegava às cinco da manhã, aí está meu pai que não me deixa mentir; aprendi muita coisa com ele”, lembrou Rui Mário.

A emoção de Rui Mário não era jogo de cena para conquistar plateia. Suas lágrimas, no entanto, não se confundiam com timidez: no papel de frontman, o artista estava à vontade, evocando um Jimi Hendrix (1942-1970) na desenvoltura: certamente o americano tocaria daquele jeito se tivesse nascido no Nordeste brasileiro e fosse sanfoneiro em vez de guitarrista. O maranhense só não usou os dentes para fazer soar seu fole.

No bloco dedicado a Hermeto Pascoal (1936-2025), homenageado da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival, Rui Mário equilibrou-se entre a conhecidíssima “Bebê”, em inspirado arranjo, e uma menos óbvia, e tão interessante quanto, “Suíte Norte Sul Leste Oeste”.

“Eu sempre quis dizer isso”, Rui Mário agora ria, enquanto agradecia à produção do festival e anunciava sua saideira, incitando o público a pedir mais uma. “E agora, que não tem no repertório?”. Acompanhado apenas dos parentes, formando um dos trios de forró pé de serra possíveis na árvore genealógica de Seu Raimundinho, antes da foto de costas para o público, atacaram o “Toque de pife”, de Dominguinhos (1941-2013), outra referência fundamental para qualquer sanfoneiro. E a apresentação de ontem foi mais um atestado de que Rui Mário não é um sanfoneiro qualquer.

A noite de abertura da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival aconteceu ontem (21) no Teatro Sesc Napoleão Ewerton. O primeiro show da noite foi do Tiago Fernandes Trio — ele ao violão sete cordas, mais Valdico Monteiro (percussão) e Victtor Sant’anna (bandolim) —, que se apresentou no hall do Condomínio Fecomércio, recepcionando o público. Um show sóbrio e elegante, que incluiu temas como “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinícius de Moraes), “Samba do avião” (Tom Jobim) e “Boi de Catirina” (Ronaldo Mota).

A noite foi encerrada pelo Mark Lambert Trio, num passeio por rock, jazz e blues, entre temas de nomes como Al Green e Ray Charles (1930-2004), entre outros. O líder, cantor e guitarrista radicado há oito anos em São Paulo, conquistou a plateia de cara, quando se apresentou, brincando: “eu sou norte-americano, ninguém é perfeito”.

Ladeado por Glécio Nascimento (baixo) e Max Sallum (bateria), o uso de pedais de efeitos pelo guitarrista e pelo baixista — a quem Lambert se referiu muitas vezes ao longo da apresentação — faziam o power trio soar por vezes como a eletrônica dos alemães do Kraftwerk. Dançamos sentados.

A programação — inteiramente gratuita — do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025 continua sexta-feira (24), às 20h, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). As atrações são o bandolinista Wendell de La Salles, o Jayr Torres Quarteto e o mineiro Beto Guedes.

A etapa Barreirinhas acontece na Avenida Beira-Rio, dias 31 de outubro e 1º. de novembro, também a partir das 20h; na primeira noite por lá as atrações são Luciana Pinheiro, Vanessa Moreno e Arismar do Espírito Santo e Morgana Moreno; na noite de encerramento se apresentam o Jota P Quarteto, Alice Caymmi e os americanos JJ Thames & Prado Brothers Band.

Joãozinho Ribeiro celebra a vida e a arte em dois shows no Teatro Arthur Azevedo

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Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro - foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.

Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.

Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).

As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).

Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.

Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Serviço

O quê: show “Canções da Vida e da Arte”
Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA)
Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns

Os embaixadores da Baixada Maranhense

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No Convento das Mercês Mostra Cultural Embaixadeiros reúne nove artistas e um grupo oriundos de municípios da Baixada Maranhense radicados em São Luís

Os cantores e compositores Aziz Jr., Josias Sobrinho e Elizeu Cardoso, idealizadores da Mostra Cultural Embaixadeiros - foto: Leo Amorim/ divulgação
Os cantores e compositores Aziz Jr., Josias Sobrinho e Elizeu Cardoso, idealizadores da Mostra Cultural Embaixadeiros – foto: Leo Amorim/ divulgação

A área geográfica do Maranhão é maior que a de muitos países europeus. É quase impossível falar em Maranhão no singular: cada região com suas complexidades e diversidades. A Baixada Maranhense, bastante conhecida por suas belezas naturais, com destaque para os campos alagados, ganha uma mostra artística que reunirá talentos oriundos de seus municípios.

No próximo dia 21 de março (sexta-feira), a partir das 19h, o Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico de São Luís) será palco da Mostra Cultural Embaixadeiros, com o desfile dos talentos de Aziz Jr., Célia Leite, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Osmar do Trombone, Ronald Pinheiro, Serrinha do Maranhão, Zé Olhinho, Zeca Melo e o Tambor de Crioula do Mestre Felipe, que abre a noite. A entrada é gratuita.

Os nove artistas solo e o grupo dão conta de amplo arco musical, do bumba meu boi e tambor de crioula passando por pop, rock, samba e choro, entre outras vertentes abrigadas no generoso guarda-chuva que se convencionou chamar de música popular brasileira.

Os artistas serão acompanhados por uma banda formada por Sued Richarllys (guitarra, direção e regência), Samir Aranha (baixo), Cassiano Sobrinho (bateria), Luiz Cláudio (percussão), Rui Mário (sanfona e teclado) e Ricardo Mendes (sopros). O evento terá como mestre de cerimônias o poeta, cordelista e pesquisador Moizes Nobre.

“Há bastante tempo pensava em um projeto que reunisse os compositores e grupos da Baixada, porque mesmo radicados aqui, as nossas obras refletem muito o território de onde viemos. Paisagens, ritmos, palavras, festas, etc. Então, inicialmente comentei com Josias Sobrinho, que gostou muito da ideia. Depois, convidei Aziz, que também se entusiasmou. Assim que foi lançado o edital da Lei Paulo Gustavo, nos reunimos e começamos a escrever o projeto. Em seguidas reuniões, fomos amadurecendo a configuração. Esta primeira edição será bem experimental, porque o nosso intuito é que seja futuramente um projeto itinerante pelos municípios da Baixada, incorporando outras linguagens artísticas e segmentos, como poesia, artesanato, gastronomia e artes plásticas, entre outros, dos artistas locais”, comenta Elizeu Cardoso, sobre as origens e futuras possibilidades da Mostra Cultural Embaixadeiros.

A Mostra Cultural Embaixadeiros é uma iniciativa de Elizeu Cardoso, Aziz Jr. e Josias Sobrinho, com apoio institucional do Instituto de Estudos Sociais e Terapias Integrativas (Iesti), realizada através da Lei Paulo Gustavo e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma).

Conheça um pouco mais os embaixadeiros

Aziz Jr. – Iniciou a vida artística no convívio com nomes como o capoeirista Mestre Patinho e Mestre Felipe do Tambor de Crioula, agregados ao redor do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte). Participou ativamente do happening A Vida é uma Festa, em suas origens, capitaneado pelo poeta e músico ZéMaria Medeiros, primeiro no Bar de Seu Adalberto, depois na Companhia Circense de Teatro de Bonecos, na Praia Grande. Em 2022 lançou o álbum “DiAziz”.

Célia Leite – A cantora e compositora penalvense tem formação em Turismo. Iniciou sua carreira na década de 1980. Tem três cds lançados e está gravando o quarto, com lançamento previsto para ainda este ano.

Elizeu Cardoso – Cantor, compositor e professor, o pinheirense mudou-se para a capital para estudar Geografia na Universidade Federal do Maranhão. Em sua terra natal, a veia artística já falava e ele iniciou sua trajetória no então prestigiado Festival de Música Popular de Pinheiro, o Fesmap. Em 2008, “Redemoinhos”, de sua autoria, venceu o Festival João do Vale de Música Popular e em 2020 sua “Bela princesa” foi aclamada pelo júri popular no XI Festival de Imperatriz. Tem lançados os álbuns “Todos os cantos” (2005) e “Alma negra” (2010).

Josias Sobrinho – Com a carreira iniciada em 1972, nas fileiras do Laborarte, em 1978 teve quatro composições gravadas por Papete no antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira), considerado um divisor de águas na produção fonográfica do Maranhão. Tem 15 álbuns gravados, disponíveis nas plataformas de streaming e é autor de músicas gravadas por nomes como Alcione, Ceumar, Diana Pequeno, Leci Brandão, Márcia Castro, Rita Benneditto e Xuxa, entre outros.

Osmar do Trombone – Nascido em berço musical, Osmar do Trombone rebatizou uma de suas composições mais conhecidas, o choro “Quatro gerações” virou “Cinco gerações”, após ele descobrir, em sua árvore genealógica, mais um avô que tocava. É um dos 54 bambas do choro entrevistados para o livro “Chorografia do Maranhão” (Pitomba!/ Edufma, 2018), de Ricarte Almeida Santos, Rivânio Almeida Santos e Zema Ribeiro.

Ronald Pinheiro – Tocou bandolim no antológico “Lances de agora” (Discos Marcos Pereira, 1978), de Chico Maranhão, parcialmente gravado na sacristia da Igreja do Desterro. “Mimoso”, uma de suas canções mais conhecidas, foi gravada por Alcione e Papete, entre outros.

Serrinha do Maranhão – À frente do grupo Serrinha e Companhia, Serrinha do Maranhão foi um dos maiores fenômenos do samba e pagode no estado. O grupo lançou o álbum “Na palma da mão”, com a participação especial de Jorge Aragão – o título do álbum é verso de “Uns e alguns”, faixa que abre o trabalho, de autoria do carioca. Com Chico Chinês atualmente lidera o Samba de Iaiá, que costuma reunir multidões onde se apresenta.

Zé Olhinho – José de Jesus Figueiredo é amo do bumba meu boi Unidos de Santa Fé. “Guerreiro Valente”, uma das mais conhecidas toadas do batalhão, é cantada a plenos pulmões pelo público, que vibra com o refrão: “é tchun, é tchan/ eu vou até de manhã”.

Zeca Melo – Nascido em Penalva, mudou-se para São Luís, onde descobriu sua veia artística, com pendores poéticos e musicais que evidenciam a valorização da cultura popular maranhense e das raízes ancestrais africanas.

Tambor de Crioula do Mestre Felipe – Felipe Neres Figueiredo (1924-2008), popularmente conhecido como Mestre Felipe é praticamente sinônimo de tambor de crioula. Toadas como “Maranhão sou eu”, “Vila de São Vicente”, “Mangueira” e “Galo boiou”, de sua autoria, são algumas das mais conhecidas do segmento.

divulgação
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Serviço: Mostra Cultural Embaixadeiros, com Aziz Jr., Célia Leite, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Osmar do Trombone, Ronald Pinheiro, Serrinha do Maranhão, Zé Olhinho, Zeca Melo e o Tambor de Crioula do Mestre Felipe. Dia 21 de março (sexta-feira), às 19h, no Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico de São Luís). Entrada franca.

Célia Maria apresenta seu Bolero no Miolo, nesta sexta (29)

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A cantora Célia Maria - foto: Zeqroz Neto/ divulgação
A cantora Célia Maria – foto: Zeqroz Neto/ divulgação

A cantora Célia Maria adotou seu nome artístico para fugir da vigilância dos pais e conseguir cantar (escondida) em programas de auditório em rádios maranhenses. Nos anos 1960 circulou pelo eixo Rio-São Paulo e conviveu com figuras como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Zé Keti (1921-1999) e o conterrâneo João do Vale (1934-1996).

Considerada a voz de ouro da música do Maranhão, Célia Maria só viria a gravar um álbum, o homônimo Célia Maria, em 2001, com arranjos de Ubiratan Sousa, incluindo o choro “Milhões de Uns”, de Joãozinho Ribeiro, que angariou troféu no Prêmio Universidade FM daquele ano. Nada disso, no entanto, foi capaz de dar a ela o merecido reconhecimento: trata-se de uma das maiores cantoras brasileiras em qualquer tempo.

Só voltaria a gravar em 2022, por iniciativa de admiradores: lançou o EP Canções e Paixões (ouça acima), cujo repertório traz, entre outras, o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para sua interpretação. É a música do conterrâneo que dá título ao show que a artista apresenta nesta sexta-feira (29), às 21h, no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau).

Na apresentação, Célia Maria será acompanhada do Regional Seis Por Meia Dúzia (nome tomado emprestado de um choro de Luis Barcelos), que está longe de ser qualquer coisa ou mais ou menos, formado especialmente para a ocasião: Rui Mário (sanfona e direção musical), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (pandeiro), Chico Neis (violão) e Mano Lopes (violão sete cordas).

A noite contará ainda com as luxuosas participações especiais de Claudio Lima e Dicy. Os ingressos já estão esgotados. No repertório, além de canções de Célia Maria e Canções e Paixões, a que comparecem nomes como Antonio Maria (1921-1964), Antonio Vieira (1920-2009), Cesar Teixeira, Chico Buarque, Edu Lobo, Chico Maranhão e Luiz Bonfá (1922-2001), entre outros, além de um passeio por clássicos da música popular brasileira, com destaque para boleros, choros e sambas-canções.

“Bolero de Célia”, o show, tem produção de RicoChoro Produções e apoio cultural de Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê.

divulgação
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Serviço

O quê: show “Bolero de Célia”
Quem: Célia Maria e Regional Seis Por Meia Dúzia. Participações especiais de Claudio Lima e Dicy
Onde: Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quando: dia 29 (sexta-feira), às 21h
Quanto: ingressos esgotados
Produção: RicoChoro Produções
Apoio cultural: Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê

Grandes encontros no Festival Plural Instrumental, ontem, em São Luís

Saiba como foi a primeira noite; hoje tem mais, antes do evento seguir para Parauapebas/PA, Rio de Janeiro/RJ e Belo Horizonte/MG

TEXTO E FOTOS: ZEMA RIBEIRO

Com show inédito, Bebê Kramer e Lívia Mattos abriram o Festival Plural Instrumental, ontem (17)
Com show inédito, Bebê Kramer e Lívia Mattos abriram o Festival Plural Instrumental, ontem (17)

Os acordeonistas Bebê Kramer e Lívia Mattos inauguraram a programação musical do Festival Plural Instrumental ontem (17), no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande), em São Luís. Era uma noite de estreias, como ela salientou: do festival, do encontro dos dois instrumentistas no palco e de sua sanfona nova, “Cesária, la negra”, como batizou.

Esbanjando talento e versatilidade, gaúcho e baiana trocaram elogios mútuos – merecidos –, num repertório que ia do autoral a influências, notadamente as de Hermeto Pascoal e do argentino Astor Piazzolla (1921-1992). Muito simpáticos, cumprimentaram a “família de sanfoneiros” presentes à plateia: Rui Mário e Andrezinho, craques maranhenses do fole.

Bebê Kramer falou de uma inusitada parceria com Moacyr Luz, a quem reputou como um dos maiores compositores do Brasil. “Eu gravei um vídeo com essa melodia, na época da pandemia e uma madrugada postei em uma rede social e o Moacyr fez a letra, mas eu não vou cantar hoje. E ele colocou um título que eu não colocaria, mas ele colocou: “O sanfoneiro é bom””, disse, para deleite da plateia.

Entre os elogios que fez à colega de palco e instrumento, disse que ela era uma força da natureza e que já a viu tocando sanfona pilotando um monociclo e descendo por uma corda a muitos metros do chão. Ontem não teve nada disso, mas teve referências ao axé baiano.

Antes de tocar “Tuk Tuk”, um dos pontos altos do show, ela contou a história da música. “Eu estava no Cairo, no Egito, uma cidade de um trânsito muito louco” – o título se refere àquelas espécies de motocicletas cobertas –, “e tentava explicar para uma amiga, parceira, a relação da Bahia com o Egito”. E cantou um trechinho de “Faraó” (Luciano Gomes), sucesso de Margareth Menezes. O público ludovicense entendeu de cara, ao contrário da egípcia. Ela foi adiante e mandou ver outro trechinho, à capela, desta vez do É O Tchan: “essa é a mistura do Brasil com o Egito”. “Tuk Tuk” reflete sonoramente a loucura do trânsito do Cairo. “Não tentem fazer isto em casa”, advertiu Bebê, antes da execução.

Dois talentos ao mesmo instrumento
Dois talentos ao mesmo instrumento

Por falar em referências, Lívia estreou também a inédita “Forroguti”, em homenagem ao sanfoneiro Toninho Ferragutti, outra referência. E outro destaque da apresentação de ontem foi quando ela e Bebê Kramer abraçaram a mesma sanfona e tocaram um único instrumento ao mesmo tempo. Era “Vou Lá”, em que ela abriu uma exceção ao instrumental que dá nome ao festival e cantou a letra, convidando a plateia a perder a timidez e cantar o “uh, uh” de seu refrão.

Maurício Einhorn e Gabriel Grossi
Maurício Einhorn e Gabriel Grossi

O segundo show da noite marcava o encontro dos gaitistas Gabriel Grossi e Maurício Einhorn, também acompanhados, como no primeiro, por Eduardo Farias (piano, teclado e efeitos) e Cassius Theperson (bateria). Quando a dupla foi anunciada, Grossi, idealizador do festival, subiu ao palco sozinho – Einhorn subiria em sequência, após alguns números do discípulo. Ele abriu o show com “Samba pro Toots”, homenagem ao belga Toots Thielemans (1922-2016), e “Acalanto pro Einhorn”, ambas de sua autoria, revelando seus dois pilares no instrumento.

Quando o homenageado subiu ao palco atacou uma sequência de Tom Jobim (1927-1994), com “Corcovado” e “Garota de Ipanema” (parceria com Vinícius de Moraes [1913-1980]) – “que eu dedico também às garotas de São Luís”, gracejou. A cada música tocada, fazia questão de indicar os compositores e, quando possível, o ano de seu lançamento. “Para lembrar Ary Barroso (1903-1964) e Lamartine Babo (1904-1963), “No Rancho Fundo”. Essa é de 1931. Eu ia nascer no ano seguinte. Estou ficando velho”, disse. Uma mulher gritou da plateia: “lindo!”.

“Dizem que eu sou o rei dos detalhes. Mas eu não acho justo a gente omitir os compositores”, afirmou. Tocaram “Minha Saudade” (João Donato [1934-2023]/ João Gilberto [1931-2019]), em homenagem a João Donato, que estaria completando 90 anos ontem. Tocaram ainda “Asa Branca” (Luiz Gonzaga [1912-1989]/ Humberto Teixeira [1915-1979]) e “Carinhoso” (Pixinguinha [1897-1973]/ João de Barro [1907-2006]). E emendou outra história (com uma pequena variação na metragem da distância, quando contou-a em entrevista a este repórter no Balaio Cultural de ontem, na Rádio Timbira): “por pouco eu não gravei com Pixinguinha; eu ia gravar, fiquei a cinco metros dele, mas faltou energia na Rádio MEC e dispensaram a gente. Eu não dormi àquela noite”, lamentou, ele que tocou com todo mundo.

“Vocês querem mais uma?”, perguntou Grossi, ao fim do show. Ao sim da plateia, respondeu: “a gente vai pular aquela parte daquele charme de sair e voltar e faz logo o bis”. Voltou a elogiar Einhorn, lembrou o público o fato de ele ser um dos inventores do samba jazz, muito próximo de grandes nomes da bossa nova, e anunciou “Batida Diferente” (Durval Ferreira [1935-2007]/ Maurício Einhorn), com que fecharam o show.

Quando o quarteto foi se abraçar e fazer o gesto de agradecimento ao público presente, Einhorn disse: “é um prazer estar em São Luís pela primeira vez; muito obrigado pelo carinho e presença de vocês. Que venham mais algumas oportunidades antes de eu chegar aos cem, porque aos cem eu estarei “gagaita””.

Serviço – Hoje (18) a programação do Festival Plural Instrumental começa às 18h, com o encontro dos baixistas Arismar do Espírito Santo e Vanessa Ferreira; às 19h30 é a vez do trompetista Sidmar Vieira e o pianista Amilton Godoy, lenda viva, fundador do Zimbo Trio. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo. A programação completa do festival pode ser acessada no instagram.

Choro, Samba e Outras Bossas tem nova edição hoje

A cantora Regina Oliveira no centro da roda do ensaio com a banda Choro, Samba e Outras Bossas. Foto: Reprodução
A cantora Regina Oliveira no centro da roda do ensaio com a banda Choro, Samba e Outras Bossas. Foto: Reprodução

A Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB), sediada no Convento das Mercês (Rua da Palma, s/nº., Desterro), recebe hoje (22), às 19h, a primeira edição do projeto Choro, Samba e Outras Bossas este ano – ao todo já são nove edições do encontro mensal, inaugurado ano passado.

A festa valoriza gêneros como o choro e o samba, ambos tidos como dos mais representativos da música popular brasileira, embora não se prenda a eles; basta ver, por exemplo, a lista de convidados de hoje: Adão Camilo, Anna Claudia, Chiquinho França, Emanuel Jesus, Marconi Rezende, Nanda Costa, Regina Oliveira, Ricardo Mendes, Walfredo Jair e Wilson Zara serão acompanhados pelo Quarteto Crivador e pela banda que leva o nome do projeto, formada especialmente para estes encontros mensais, pelos músicos Antônio Paiva (baixo), Claudio Castro (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Osmar Jr. (saxofone e flauta), Paulo Trabulsi (cavaquinho e violão) e Rui Mário (sanfona).

Com alguns músicos em comum, o Quarteto Crivador é formado por Marquinhos Carcará (bateria e percussão), Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho), Rui Mário (sanfona) e Tiago Fernandes (violão sete cordas).

O evento é realizado mensalmente, geralmente às últimas sextas-feiras do mês – desta vez a antecipação se deve ao feriado prolongado da semana que vem, com ponto facultativo na quinta-feira (28) e feriado da Paixão de Cristo na sexta (29).

Por ocasião do Choro, Samba e Outras Bossas, o pátio central do Convento das Mercês abriga ainda uma feira que agrega gastronomia, sebos e artesanato. A festa acaba sendo também uma espécie de confraternização, já que reúne os aniversariantes do mês. A entrada é gratuita.

Joãozinho Ribeiro e grande elenco celebram a paz na terceira edição do show “Com o Afeto das Canções”

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O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Evento acontece no próximo dia 16 de dezembro (sábado), no Convento das Mercês

A trajetória artística do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro se confunde com sua trajetória militante. Desde que estreou na música, num festival universitário em 1979, em que ficou em segundo lugar, sua obra se debruça sobre questões sociais, num fazer artístico de uma consciência raras vezes vista.

Com um livro – “Paisagem Feita de Tempo” (Edição do Autor, 2006) – e um disco lançados – “Milhões de Uns – vol. 1”, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte – até aqui, sua poesia e sua música invariavelmente alertam para as mazelas que nos cercam.

“A função do artista é salvar o sonho” e a frase do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) há algum tempo martela o juízo de Joãozinho como um mantra. Notícias de guerras distantes pedem paz, pão e poesia. E música.

É pensando e motivado por isso que Joãozinho Ribeiro, ser gregário, como já sabemos, se reúne com uma constelação de primeira linha da música popular brasileira produzida no Maranhão para o show “Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz”, que acontece no próximo dia 16 de dezembro (sábado), no Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro), a partir das 18h.

“A gente enxerga esta realização como uma grande festa de confraternização, típica do período, mas pautada por muito profissionalismo e solidariedade. É um espaço do acontecer solidário, reunindo cerca de uma centena de envolvidos, desde instrumentistas, convidados especiais, produtores, grupos de cultura popular da comunidade do Desterro, bairro onde me criei e onde está localizado o Convento das Mercês, cartão postal da capital maranhense que é sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, em cujas festas de fim de ano a gente se insere, colaborando também com a Campanha Natal Sem Fome. Música na existência, para alimentar os espíritos! Dança nos corpos, para liberar as energias positivas! Eparrei! Aleluia! Shalom! Saravá!”, resume Joãozinho Ribeiro.

A música começa com apresentações de grupos de cultura popular do entorno: Tambor dos Onças, Zumba da Negra Zete, Capoeira do Mestre Bamba e os Blocos Tradicionais Os Foliões e Os Guardiões. Na sequência, tendo como mestre de cerimônias o poeta e cordelista Moizes Nobre, Joãozinho Ribeiro será acompanhado por Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Ronald Nascimento (bateria), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão), Robertinho Chinês (cavaquinho), Katia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal). O anfitrião terá como convidados o Bloco Afro Akomabu, Anastácia Lia, Andréa Frazão, Ronald Pinheiro, Josias Sobrinho, Zé Heitor (vencedor do concurso de toadas dos sotaques da baixada e costa de mão, promovido pela FMRB), Chico Saldanha, Bicho Terra, Allysson Ribeiro, Anna Cláudia e Fátima Passarinho – os três últimos, sob a batuta do maestro Arlindo Pipiu, irão comandar o Baile da Paz, antecipando o carnaval, apresentando um repertório de frevos e marchinhas, incluindo composições inéditas que estarão no EP carnavalesco que o compositor lançará no início de 2024.

“Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz” tem produção e coordenação geral de Lena Santos e patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão. O acesso se dará mediante a troca de um quilo de alimento não perecível, no local. A arrecadação será destinada à Campanha Natal Sem Fome.

Serviço

O quê: show “Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz”
Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dia 16 de dezembro (sábado), às 18h
Onde: Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro)
Quanto: os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não perecível

Joãozinho Ribeiro e grande elenco apresentam “Canções de Amor e Paz”

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O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Espetáculo poético-musical acontece nesta sexta-feira (22), no Teatro Arthur Azevedo

Diariamente somos bombardeados pelo noticiário e pelas redes sociais com notícias desagradáveis. São fartos os casos de desastres (supostamente) naturais, violências de toda ordem e assassinatos, não raro os três se relacionando.

Na contramão disso, temos as artes, para servirem não como alienação, alheamento ou fuga da realidade, mas também para nos ajudar a refletir sobre a quadra histórica que atravessamos.

“O dever do artista é salvar o sonho”, sentenciou o artista plástico italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), frase que se tornou um mantra para o poeta e compositor maranhense Joãozinho Ribeiro.

Nesta cruzada quase quixotesca em busca de salvar o sonho, Joãozinho Ribeiro apresenta nesta sexta-feira (22), às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), o espetáculo “Canções de Amor e Paz”, reunindo um grande elenco da música e poesia cometidas por estas plagas.

Desfilando um repertório autoral, Joãozinho Ribeiro agrega como convidados/as o Coral Infantil Batucando Esperança, Elisa Lago, Emmanuel Ferraro, Adriana Bosaipo, Anna Cláudia, Fátima Passarinho, Zeca Baleiro – que fará uma participação especial virtual, apresentando uma parceria inédita deles em vídeo –, Ivandro Coelho, Gisele Vasconcelos, Marconi Rezende, Rosa Reis, Leda Nascimento, Elizandra Rocha, Gilson César, Rosa Ewerton, Uimar Junior, Moizes Nobre e Tatiane Soares.

O anfitrião e a constelação que o acompanha terão seus feitos musicais e poéticos emoldurados pelos talentos de Rui Mário (sanfona e direção musical), Arlindo Pipiu (baixo), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Marquinhos Carcará (percussão). A produção é de Lena Santos e a direção geral de Joãozinho Ribeiro.

Os ingressos custam R$ 50,00 (R$ 25,00, a meia-entrada para estudantes com carteira e demais casos previstos em lei) e estão à venda na Bilheteria Digital e na bilheteria do Teatro Arthur Azevedo.

Serviço

O quê: show “Canções de Amor e Paz”
Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: sexta-feira (22), às 20h
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: R$ 50,00 e 25,00

Zeca Baleiro lotou duas sessões ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo

Foto: Patrícia Castro
Foto: Patrícia Castro

“Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”. Os versos iniciais da clássica “Tatuagem” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), com que Zeca Baleiro abriu o show “Fado Tropical”, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo, bem traduzem a relação do maranhense com seu público, consolidada em 26 anos, se contarmos apenas a partir de sua estreia fonográfica, com “Por Onde Andará Stephen Fry?” (MZA Music, 1997).

Por falar em 26 anos, chegou hoje às plataformas de streaming “Você Goza Com Dinheiro” (Zeca Baleiro), segundo single de uma série com que o artista está celebrando a inusitada efeméride.

Como ele mesmo contou, para gargalhadas do ótimo público presente: “quando eu lancei meu primeiro disco, me ligaram e disseram que tinham conseguido botar uma música minha na nova novela do Manoel Carlos, “Por Amor”; eu sempre fui noveleiro, sabia tudo, elenco, ficha técnica, trilha sonora, ficava disputando com minha irmã Lúcia [Santos, poeta] para saber quem tinha mais conhecimentos novelísticos; eu voltei a assistir novela e fiquei esperando, mas os capítulos passavam e nada da música; lá pelo capítulo 45, eu já quase desistindo de acompanhar, achando que não ia rolar, o personagem de Antônio Fagundes deu um beijo de cinema na Cássia Kis e a música tocou por dois minutos e meio, um tempão para televisão, no horário nobre; eu fiquei emocionado, chorei, mas depois a música nunca mais tocou, pois o personagem de Antônio Fagundes trocou a Cássia Kis pela Regina Duarte; tinha o dedo podre, o Fagundes”. E atacou de “Bandeira” (Zeca Baleiro), com o público cantando junto.

Acompanhado por Rui Mário (piano e sanfona), Lui Coimbra (violoncelo) e Luiz Cláudio (percussão), Baleiro desfilou um repertório de clássicos. De sua autoria e de Ruy Guerra, parceiro de Chico Buarque na música que intitulou o espetáculo, e de quem o próprio Zeca tornou-se parceiro recentemente, ao compor a trilha sonora do musical “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, de autoria do brasileiro nascido em Moçambique.

O show foi montado para promover a peça, que estreia em junho no Teatro Oi Casagrande, no Rio de Janeiro, e após temporada no Sudeste, circulará pela região Nordeste no segundo semestre – “incluindo São Luís”, como Baleiro fez questão de frisar. Ele mesmo salientou que aquele era um show único, já que não há perspectiva de se repetir para além da sessão extra, realizada ontem mesmo, fruto da grandiosidade e generosidade do artista. Explico: a sessão de 20h seria apenas para convidados e para o Instituto Cultural Vale, que patrocina a realização de “Dom Quixote de Lugar Nenhum”. Baleiro não via muito sentido em fazer um show fechado em sua própria terra e fez distribuir ingressos para o público em geral, mediante a troca por um quilo de alimento não perecível. Não deu para quem quis e após reclamações gerais e algum tumulto, a produção do artista e a direção do TAA conseguiram garantir uma sessão extra, às 22h.

Baleiro estava à vontade, literalmente em casa e entre amigos. Presença ilustre na plateia, o ator Mateus Nachtergaele, a quem o cantor se referiu como “um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos”, e a convite dele, de seu lugar, anunciou “Processo de Conscerto do Desejo”, que apresentará domingo (28), às 19h, no TAA. Nachtergaele sintetizou o espetáculo: “minha mãe morreu quando eu tinha três meses de idade. E deixou uma pasta com poemas, muito bonitos. Ela tinha 22 anos quando se suicidou e hoje eu estou feliz em poder trazer isso a público”. Baleiro perguntou-lhe o porquê de São Luís e o ator não titubeou: “por que esse é um dos teatros mais bonitos do mundo”, elogiou.

Baleiro brincou com as intérpretes de Libras, reconhecendo a importância da acessibilidade cultural em espetáculos. Revelou se interessar mais pela língua brasileira de sinais que por inglês, mas que ainda não tinha tido tempo de estudar. Com uma delas, repassou a letra de “Quase Nada” (Alice Ruiz/ Zeca Baleiro) – que cantou com citação de “Sangue Latino” (Paulo Mendonça/ João Ricardo). “Tem poesia isso aí, o gestual dela”, arrematou.

Zeca Baleiro prestou ainda uma comovente homenagem ao parceiro Celso Borges (1959-2023). “Foi um dos maiores incentivadores da minha carreira e de muitos artistas daqui. Foi um cara que se envolveu com tudo, música, poesia, rádio… São Luís fica um pouco mais triste sem sua presença. Nós fizemos mais de 30 canções juntos e eu gravei algumas poucas. Vou cantar a mais conhecida”, disse, antes de cantar “A Serpente (Outra Lenda)”, esquecendo-se de citar o terceiro parceiro, o percussionista argentino Ramiro Musotto (1963-2009).

“Bárbara” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Babylon” (Zeca Baleiro), “Ana de Amsterdã” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Não Existe Pecado Ao Sul do Equador” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Banguela” (Zeca Baleiro), em arranjo caliente, e “Fado Tropical”, incluindo a sífilis (“que todo general devia ter àquela época”, ironizou Baleiro) censurada pela ditadura militar, foram alguns outros clássicos presentes ao repertório.

Ao fim da apresentação, parte do elenco de “Dom Quixote de Lugar Nenhum” subiu ao palco para apresentar algumas canções da trilha sonora do espetáculo e anunciar o cortejo que acontecerá hoje (26), às 17h, nas imediações da Praça Nauro Machado (Praia Grande). Nesse momento, Zeca Baleiro e Lui Coimbra se juntaram à trupe tocando instrumentos de percussão.

Ainda com atores e atrizes em cena, à guisa de bis, Baleiro anunciou que ia fazer “Telegrama” (Zeca Baleiro), para delírio da plateia, que cantou junto. Após pouco mais de hora e meia o dito popular “tudo que é bom dura pouco” parecia demonstrar sua validade, mas o show precisava terminar para o acesso do público para a segunda sessão, também lotada.

Chorinhos e Chorões passa a ser veiculado em cadeia pelas rádios Universidade e Timbira a partir deste domingo (30)

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos produz e apresenta o dominical Chorinhos e Chorões. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

Na última quinta-feira (27) a Rádio Timbira estreou uma nova programação, com vistas à migração para FM, que acontecerá este ano. Programas como o “Fala, Mermã”, sobre o universo feminino, apresentado por Letycia Oliveira (de segunda a sexta, às 17h), e o “Radiola Timbira”, por este que vos escreve (aos domingos, ao meio-dia), passam a compor o novo quadro. O Balaio Cultural, que produzo e apresento com Gisa Franco (sábados, das 13h às 15h), está mantido.

Outras novidades dominicais são o “Alvorada” (das 7h às 9h), com Vanessa Serra, e o Chorinhos e Chorões (das 9h às 10h), com Ricarte Almeida Santos, que permanece na Universidade FM, sua casa original, há 36 anos no ar, e passa a ser veiculado em cadeia com a Timbira.

Para a edição de estreia, Ricarte receberá o Quarteto Crivador, em uma roda de choro ao vivo. O grupo é formado por Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell de la Salles (bandolim), Rui Mário (sanfona) e Marquinhos Carcará (percussão).

A roda de choro será transmitida ao vivo, a partir do estúdio Lauro Leite, da Rádio Timbira, na Rua da Montanha Russa, 75, Centro. “A ideia é de festa mesmo, de marcar este novo momento, tanto da Timbira, quanto do Chorinhos e Chorões. A veiculação em cadeia com a Universidade vem somar, estamos muito felizes com a oportunidade, em um domingo recheado de boas companhias, começando cedo com Vanessa Serra, passando pelo decano Frank Matos, com o Timbira Espetacular, até chegar ao Radiola Timbira, contigo, a Timbira terá a trilha ideal para todo tipo de ouvinte: o que vai à praia, o que aproveita para fazer uma faxina ou lavar o carro, o que prepara o almoço, e é motivo de grande honra fazer parte desta trilha, deste cardápio”, declarou Ricarte Almeida Santos a Homem de Vícios Antigos.

Além do Quarteto Crivador, o Chorinhos e Chorões deste domingo (30), quando estreia na Rádio Timbira, receberá também o cantor Cláudio Lima, para uma homenagem ao poeta e jornalista Celso Borges (1959-2023), falecido no último domingo (23), Dia Nacional do Choro. Não por acaso, Cláudio Lima foi convidado do sarau RicoChoro ComVida na Praça, realizado no Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico da capital maranhense, por ocasião do lançamento de “Lembranças, Lenços, Lances de Agora: Memórias e Sons da Cidade na Voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), de Celso Borges, obra em que ele se debruçou sobre os bastidores da gravação do antológico elepê “Lances de Agora” (1978), de Chico Maranhão, produzido por Marcus Pereira, gravado na sacristia da secular Igreja do Desterro.

Timbira e Universidade, que já possuíam uma “parceria campeã” – como reza o slogan das transmissões em cadeia – no esporte e eventualmente na transmissão de grandes eventos, como as festas juninas, ampliam a tabelinha. Pelo visto, o Chorinhos e Chorões aprofunda essa parceria já fazendo história desde o início.

Afetos e canções: Joãozinho Ribeiro reúne amigos em show plural

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Apresentação acontece sexta-feira (16) no Convento das Mercês, com entrada franca – com sugestão de doação de um quilo de alimento não-perecível para as comunidades carentes do entorno

O compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: Murilo Santos. Divulgação

O compositor Joãozinho Ribeiro volta a reunir os amigos no show “Com o afeto das canções II”. Beneficente, o evento – cuja primeira edição aconteceu ano passado – ocupa o pátio do Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro), na próxima sexta-feira, 16, às 20h. A entrada é gratuita, com a sugestão da doação de um quilo de alimento não-perecível; a arrecadação será destinada a comunidades carentes do entorno da Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB), instituição sediada no prédio secular do Centro Histórico da capital maranhense, que completou recentemente 25 anos de inclusão na lista de cidades patrimônio mundial da Unesco.

Joãozinho Ribeiro terá como convidados especiais o Bloco Afro Akomabu, George Gomes, Rosa Reis, Célia Maria, Josias Sobrinho, Rita Benneditto – que gravou em dueto com Zeca Baleiro (que participa virtualmente do show, através de uma mensagem em vídeo), a música que dá título ao espetáculo, cuja produção é assinada por Lena Santos. O espetáculo é uma realização da Dupla Criação e Fundação da Memória Republicana, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) e Potiguar, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Rui Mário (sanfona, piano e direção musical), Marquinhos Carcará (percussão), Danilo Santos (saxofone e flauta), Hugo Carafunim (trompete), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim), Arlindo Pipiu (contrabaixo), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Ronald Nascimento (bateria), Katia Espíndola (vocal) e Mariana Rosa (vocal) formam a superbanda que acompanhará Joãozinho Ribeiro e convidados em “Com o afeto das canções II”.

O repertório do show alinhava clássicos da lavra de Joãozinho Ribeiro a músicas inéditas. A pandemia de covid-19 e o isolamento social por ela imposto renderam ao artista dezenas de novas composições, sozinho ou em parceria. Entre os gêneros abordados no roteiro figuram baião, balada, bolero, bumba meu boi, carimbó, divino, ijexá, maxixe, merengue, reggae, salsa, samba e tambor de crioula.

“Esse show é uma espécie de exorcismo. Após quatro anos de massacres diariamente desferidos contra a cultura brasileira, para citar apenas uma área, voltamos a respirar ares democráticos e plurais, voltamos a ser um país, feito de nossa diversidade e riqueza culturais, é o que nos propomos a celebrar, com todo afeto das canções”, anuncia o compositor anfitrião.

Serviço

O quê: show “Com o afeto das canções II”
Quem: o compositor Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dia 16 de dezembro (sexta-feira), às 20h
Onde: Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico)
Quanto: grátis. Sugere-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, destinada às comunidades carentes do Centro Histórico
Realização: Dupla Criação e Fundação da Memória Republicana
Patrocínio: Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) e Potiguar, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Cesar Teixeira apresenta Samba de Botequim, nesta sexta (23)

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O cantor e compositor Cesar Teixeira. Foto: divulgação

Show no Ceprama será uma grande festa devotada ao samba, na Madre Deus, um dos bairros mais identificados com o gênero

O cantor e compositor Cesar Teixeira tem encontro marcado com seu público: ele apresenta o show Samba de Botequim, na próxima sexta-feira (23), às 19h, no Ceprama (Madre Deus).

Como o título entrega, a apresentação será dedicada ao samba, um dos gêneros musicais de predileção do artista, nascido e criado na Madre Deus, bairro boêmio encravado no coração da ilha, onde passou também parte da idade adulta.

Pelos botequins da Madre Deus – Cesar Teixeira foi frequentador de rodas de samba espontâneas em botequins lendários, como a quitanda de Seu Alfredo, onde pescadores, magarefes, operários e outros personagens se reuniam entre sacas de arroz, farinha e camarão seco, munidos de seus instrumentos. Foi amigo de lendas do bairro, como o compositor Cristóvão Alô Brasil (12/10/1922-19/8/1998), que completaria 100 anos no próximo dia 12 de outubro e de quem se tornaria parceiro, entre outros, e integrou a ala de compositores da Escola de Samba Turma do Quinto, também sediada na Madre Deus. Em 2010 Cesar Teixeira foi homenageado pela rival Favela do Samba.

Para o artista, o show é também uma homenagem às mulheres, “especialmente às mulheres negras, tão sacrificadas pelo atual governo”, afirma. A abertura fica por conta da dj Vanessa Serra, e ele terá como convidadas Rosa Reis, Célia Maria, Flávia Bittencourt, Lena Machado, Fátima Passarinho, Gabriela Flor – todas elas intérpretes de sua obra de longa data, em discos e shows – e o bloco carnavalesco Fuzileiros da Fuzarca, com 86 carnavais no currículo.

Cesar Teixeira será acompanhado por um regional formado por Rui Mário (sanfona e direção musical), Marquinhos Carcará (percussão), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Chico Neis (violão), Gabriela Flor (pandeiro), Ronald Nascimento (bateria), Gustavo Belan (cavaquinho), Hugo Braga Reis (trombone), Ricardo Mendes (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Cavalcante (trompete), Regina Oliveira (vocais) e Duda Saraiva (vocais). Entre os instrumentistas haverá ainda a participação especial de Victor Oliveira (saxofone). No repertório, clássicos e sambas inéditos da lavra do compositor, além de homenagens à velha guarda madredivina, entre nomes como Cristóvão Alô Brasil, Caboclinho e Patativa.

Trajetória – Com uma carreira iniciada ainda na década de 1960, em festivais estudantis de música, Cesar Teixeira foi um dos fundadores do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte), em 1972, e um dos quatro compositores gravados por Papete no elepê “Bandeira de aço” (1978), lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira e considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão. É também jornalista e artista plástico. Lançou dois discos solo: “Shopping Brazil” (2004) e “Camapu” (2018). O show “Samba de Botequim” será gravado e o material audiovisual deve ser disponibilizado em breve.

“Samba de Botequim” é uma realização da Pitan Produções e Coletivo Apoena, com patrocínio do Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Entre os objetivos da iniciativa está a formação de plateia. Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não-perecível e a arrecadação será destinada ao Natal Solidário das Mercês e para a Associação das Profissionais do Sexo no Maranhão (Aprosma), com atuação na área do centro histórico da capital maranhense.

Serviço

O quê: show Samba de Botequim
Quem: Cesar Teixeira e convidados
Quando: dia 23 (sexta-feira), às 19h
Onde: Ceprama (Madre Deus)
Quanto: um quilo de alimento não-perecível
Realização: Pitan Produções e Coletivo Apoena
Patrocínio: Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura
Informações: no instagram @showsambadebotequim

Lances eternos

O ótimo público presente ao Largo da Igreja do Desterro, sábado passado (27). Foto: Rivânio Almeida Santos

Certas coisas, de tão mágicas, não têm explicação. “As retas mais curvas que o mundo tem” parecem convergir em uma só direção. O sarau de encerramento da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, idealizado e coordenado por Ricarte Almeida Santos, é um destes acontecimentos. A coincidência geográfica e temporal, para celebrar um disco atemporal: a comunidade do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, celebrava Nossa Senhora do Desterro e a procissão chegou em meio aos paralelepípedos quando o dj Jorge Choairy já preparava o terreno – modo de dizer, que a agricultura de seu set list já colhia os frutos plantados desde algum tempo –, numa convergência saudável e respeitosa entre o sacro e o profano. Exatamente como aconteceu há 44 anos, quando Chico Maranhão e o Regional Tira-Teima, a convite da gravadora Discos Marcus Pereira, ocuparam a sacristia da Igreja do Desterro para registrar o antológico elepê “Lances de agora”, de cuja “Ponto de fuga” pinço as aspas com que quase abro este texto.

O lance de agora era a homenagem que o cantor Cláudio Lima prestaria a Chico Maranhão, compositor que chegou aos 80 anos neste agosto, cantando quase a íntegra do citado disco e duas pérolas de outros momentos da carreira de Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, nome de pia do homenageado: “Rapaziada, o tempo mudou” e “Diverdade”. “Eu sei que você fica preso no ar quando eu canto”, diz a letra desta última, metáfora possível para a apresentação do cantor.

Acompanhado do Quarteto Crivador, Cláudio Lima era pura entrega no palco. Brincava, mas trabalhando sério, como é de seu feitio, com a própria voz e com a obra de Chico Maranhão. Prendia a atenção do público presente, devotos da boa música tal qual os admiradores das obras de Chico Maranhão, de Cláudio Lima e de choro em geral.

Cantar como quem reza: o sublime encontro de Cláudio Lima e Dicy, reverenciando Chico Maranhão. Foto: Rivânio Almeida Santos

O nome do grupo anfitrião, tomado emprestado de um dos três tambores da parelha de tambor de crioula, parecia também remeter a outra fase da carreira de Chico Maranhão, quando ele comandou a Turma do Chiquinho, registrado em sua “Ópera Boi – O sonho de Catirina”, de meados da década de 1990. Rui Mário (sanfona e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão) e Wendell de la Salles (bandolim) – que se lamentou quando em meio à apresentação inicial do grupo, arrebentou uma corda de seu instrumento, o que nem de longe tirou o brilho do espetáculo – trajaram de personalidade tanto o repertório instrumental do primeiro bloco de sua apresentação, quanto o acompanhamento luxuoso que prestaram a Cláudio Lima e sua convidada especial, a cantora Dicy – que cantou sozinha “Ponta d’areia” e dividiu com ele os vocais em “Vassourinha meaçaba”.

Em respeito às tradições e à religiosidade do local, a passagem de som atrasou. Mas até isso parecia contribuir para o brilho da noite: quem chegou no horário, acabou ouvindo Cláudio Lima cantar “Meu samba choro”, entrada de um delicioso cardápio musical. O público aplaudiu, antes mesmo de o show começar. Era o coroamento de uma ideia que começou há algum tempo: Cláudio Lima, o mesmo cantor e compositor que estava ali, no palco, é designer de formação e assina a capa e o tratamento de imagens do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), que o poeta e jornalista Celso Borges autografou na mesma ocasião. Foi a partir da pesquisa que o multi-artista mergulhou de cabeça no universo do filho de dona Camélia. O resto é história que ficará na memória dos presentes.

Em meio a tudo isso, ainda teve o poeta Fernando Abreu, brindando a plateia com um poema (“Ladainha”, que cita Allen Ginsberg e Chico Maranhão e suas lágrimas com novos poemas e canções) de seu novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022), que terá lançamento muito em breve.

Para não dizerem que não aponto defeitos: a temporada foi curta e só retorna às praças da ilha ano que vem.

RicoChoro ComVida na Praça homenageia Chico Maranhão

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Repertório do disco “Lances de agora” (1978) será lembrado em frente à igreja onde foi gravado; compositor completou 80 anos neste agosto

Uma viagem no tempo. É o que promete o último sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece este sábado (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, em meio aos festejos de São José do Desterro.

A sacristia da secular igreja foi palco, em junho de 1978, das gravações do antológico elepê “Lances de agora”, do compositor Chico Maranhão, com o acompanhamento do Regional Tira-Teima. O disco foi lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, do incansável pesquisador do cancioneiro de um Brasil desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Show de Cláudio Lima será uma homenagem a Chico Maranhão. Foto: divulgação
A cantora Dicy fará uma participação especial durante a homenagem. Foto: divulgação

Chico Maranhão completou 80 anos neste agosto, de modo discreto, como é de seu feitio, ao contrário de outros oitentões ilustres da música popular brasileira. Ele receberá homenagem do cantor Cláudio Lima, convidado desta edição do sarau, que apresentará show com o repertório de “Lances de agora”, com a participação especial da cantora Dicy.

O poeta Celso Borges lerá trechos de “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” . Foto: Layla Razzo. Divulgação

Ainda na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022, 265 p.), misto de bastidores da gravação do disco e biografia de Chico Maranhão, com uma boa dose de imaginação poética – ao aproximar Maranhão e Bob Dylan, por exemplo.

Quarteto Crivador. Montagem. Divulgação

Cláudio Lima e Dicy serão acompanhados pelo Quarteto Crivador, formado por Marquinho Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Wendell de la Salles (bandolim). O nome do grupo é tomado emprestado de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, ritmo genuinamente maranhense que também é alvo do interesse do compositor homenageado, seja em músicas que compôs, seja na Turma do Chiquinho, grupo de tambor de crioula que comandou durante a década de 1990.

As atrações se completam com o dj Jorge Choairy, o mais tropicalista de nossos disc-jóqueis, antropofagicamente falando: seu set list é fruto de uma alimentação sonora que não conhece preconceitos, abarcando diversos gêneros, épocas e geografias, numa salada sonora sempre suculenta.

RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de Girassol Produções e RicoChoro Produções Culturais, que agradecem ao deputado federal Bira do Pindaré, que tornou possível a realização desta edição do evento, ao destinar emenda parlamentar à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Acessibilidade cultural – Os saraus RicoChoro ComVida na Praça garantem acessibilidade cultural, com banheiros químicos adaptados, assentos preferenciais, audiodescrição e tradução simultânea em Libras, a língua brasileira de sinais.

Arte na luta contra a fome – O projeto RicoChoro ComVida na Praça é parceiro do “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo da campanha é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O evento é gratuito e aberto ao público, mas recomenda-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, como gesto concreto de engajamento na campanha. O volume arrecadado será destinado a comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Jorge Choairy, Quarteto Crivador, o cantor Cláudio Lima, com participação especial de Dicy Rocha, e o poeta e jornalista Celso Borges
Quando: dia 27 (sábado), às 19h
Onde: Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico de São Luís
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

Do Cohatrac ao Desterro: temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça termina sábado que vem

O encontro de Bia Mar e Carlos Cuíca no palco do RicoChoro ComVida na Praça. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

O segundo sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça ocupou a de Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac, sábado passado (20) no diálogo saudável e estimulante entre músicos e plateia, com a participação da comunidade, entre os que fruíam a roda de choro e os que aproveitavam a passagem do dj Marcos Vinícius, do Instrumental Tangará e dos cantores e compositores Bia Mar e Carlos Cuíca pelo bairro para fazer um extra, entre vendedores ambulantes e os bares, restaurantes e churrasquinhos do entorno.

Nos 10 anos da lei de cotas e o atual momento de revisão da referida legislação, Marcos Vinícius mandou o recado pela música de Macau interpretada por Sandra de Sá, que canta “todo brasileiro tem sangue crioulo”, em “Olhos coloridos”, hit absoluto desde o lançamento, um dos pontos altos de sua sempre caprichada sequência.

Acompanhados por um Tangará que caprichou na homenagem a Jacob do Bandolim (1918-1969) – o “herdeiro” Hamilton de Holanda estava na cidade para um show na véspera – falecido há 53 anos, num 13 de agosto. Dele tocaram “Noites cariocas” – “hoje vai virar “Noites ludovicenses”, brincou o acordeonista Andrezinho –, “Assanhado” e “Doce de coco”. O grupo se completa com Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas).

Bia Mar e Carlos Cuíca fugiram do óbvio em seus repertórios, cujos pontos altos (a escolha não é fácil e essa é uma opinião pessoal) foram, respectivamente “Reconvexo” (Caetano Veloso) e “Mestre Antonio Vieira” (Carlos Cuíca), revelando referências e inspirações.

Sábado que vem (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital, acontece o último sarau da temporada. As atrações são o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador – formado por Marquinhos Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Wendell de la Salles (bandolim) e Tiago Fernandes (violão sete cordas) – e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial de Dicy, que farão uma homenagem ao repertório do antológico elepê “Lances de agora” (1978), de Chico Maranhão. Na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento de seu livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão”, com leitura de trechos da obra.